terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

EM BUSCA DE PROUST

Terminei de ler recentemente “Senhor Proust – lembranças recolhidas por Georges Belmont”, de Céleste Albaret, publicado pela Novo Século. Céleste Albaret foi governanta na casa do escritor durante os oito últimos anos de vida de Proust. O livro é a transcrição de entrevistas da senhora Albaret a Georges Belmont, que assina a introdução. Segundo Belmont, foram setenta horas de entrevistas.

É natural que a longa e diária convivência da senhora Albaret com Proust gerasse proximidade e amizade. O testemunho dela traz à tona as miudezas de que Proust era feito (miudezas de que, afinal, todos nós somos feitos).

Há também relatos do dândi Proust na aristocracia parisiense da época. Freqüentador e agudo observador desse mundo, Proust tinha acesso à vanguarda do que então estava sendo produzido. O trecho abaixo dá uma idéia (a tradução do livro é de Cordelia Magalhães):

“Por exemplo, lembro-me de que, uma noite, o príncipe Antoine Bibesco, que se tinha a par de tudo, passou para levá-lo a um desses jantares, com a idéia de fazê-lo se encontrar com o pintor Picasso, sobre o qual se começava a falar (...). Às duas horas da manhã, eles foram, todos os três, ver as telas de Picasso no seu ateliê. Sr. Proust me fez o relato quando voltou:

“– É um pintor espanhol que começou a fazer o que se chama de cubismo.

“Ele me descreveu um pouco sobre o que as pinturas pareciam. E comentei que isso deveria fazer os museus de bobos. Ele riu e disse:

“– Devo reconhecer que não compreendi grande coisa.

“Visivelmente, ele não ligou. Jamais voltou a falar sobre essa pintura. Dizem também que jantou com o escritor James Joyce, junto com outras pessoas; isso não o impressionou – ele nem pronunciou esse nome”.

A senhora Albaret também comenta o mal-estar criado depois que o escritor André Gide recusou originais de Proust. Céleste Albaret deixa clara a antipatia que ela tinha por Gide, ao dizer que ele tinha um ar de “falso monge”. Gide retratar-se-ia por ter recusado os originais de Proust.

A recusa é compreensível. Proust, é bem sabido, não foi o único escritor que se tornaria famoso depois de ter sido rechaçado em tentativas anteriores. O problema é que, segundo a senhora Albaret, Proust assegurava que Gide nem chegou a ler os originais. Primeiro, por considerar que o autor de “No caminho de Swann” não passaria de um “dândi socialite”; segundo, por uma razão prosaica: o pacote em que estava o livro não teria sequer sido aberto porque um funcionário de Proust, Nicolas, tinha, segundo a senhora Albaret, “uma verdadeira arte dos nós, com um estilo muito particular e muito inimitável. E isso, para o Sr. Proust, sempre foi a prova irrefutável de que o pacote do seu manuscrito jamais foi aberto, nem por André Gide nem por ninguém na Nouvelle Revue Française”. Proust disse ter visto o pacote antes e depois, e afirmou que ele voltara intacto, com o mesmo nó de Nicolas. Para Proust, seria impossível alguém refazer o nó de seu funcionário, ainda mais no mesmo lugar. A senhora Albaret conclui: “Sr. Proust se divertia muito com toda a história”.

domingo, 28 de setembro de 2008

CONTO 19

Lúcia se dava bem consigo mesma. Basicamente, só não admitia mesmo uma coisa em si: a atração louca que sentia por peões de rodeio. De cultura vasta, às vezes considerava quase um vitupério o calor que tomava conta dela diante de um deles. Para as amigas, dizia com freqüência que o homem perfeito seria um peão de rodeio culto. Elas levavam na brincadeira, sem saber que Lúcia falava sério. Um dia, numa viagem a Ribeirão Preto, ela tomaria uma atitude balsâmica: deixou-se envolver e se casou com um professor – de equitação.

sábado, 27 de setembro de 2008

VOZ DE DENTRO

O dia é cinzento.
Os pássaros cantam do mesmo jeito.
Os pássaros cantam não as cores do dia.
Cantam as cores em si mesmos.

MOINHO VERMELHO

Quando pequeno, a cena de filme imbatível é aquela em a Lois Lane (Margot Kidder) está caindo e é salva pelo Super-Homem. A seguir, cai o helicóptero. Lane e a máquina são levados para o topo do prédio. Penso ser essa a cena de minha infância.

Ainda dos tempos de menino há a cena final de “Três homens em conflito” (“The good, the bad and the ugly”), classicão de Sergio Leone, quando se enfrentam no fim. Até hoje cantarolo a trilha de Ennio Morricone.

Já adulto, em “Moulin Rouge”, do diretor Baz Luhrman, duas cenas me marcaram muito. Aos 28 minutos, Christian (Ewan McGregor), após criar coragem, começa a cantar “Your song”, terna composição gravada por Elton John, para Satine (Nicole Kidman). Antes, já havia falado alguns trechos da letra. Durante a canção, o coro, fazendo o vocal de apoio, e o arranjo com orquestra completam a beleza. Minutos depois, a que para mim é uma cena inesquecível é aquela que começa quando Christian começa com “All you need is love”, aos quarenta e nove minutos de filme. Depois, passa por “Pride (in the name of love)”, do U2, com letra modificada, e chega até “Your song” novamente, no fim da seqüência, não sem antes passarem, ele e Satine, por “‘Heroes’”, do David Bowie. Os segundos em que “‘Heroes’” aparece são, para mim, o ponto alto do filme e uma das mais belas cenas a que já tive o privilégio de assistir.

Há cenas engraçadas. Harold Zidler (Jim Broadbent) falando trechos de “Like a virgin” é uma delas.

Penso gostar tanto de “Mouling Rouge” por ter crescido escutando pop/rock. A idéia de se levar clássicos do pop/rock para a boêmia parisiense de Toulouse-Lautrec de fim do século XIX e começo do XX foi bem executada. Além do mais, sempre gosto quando há a mistura de gêneros musicais; sempre me atraiu a mistura do coloquial com o erudito; sempre gostei de citações, referências, alusões, e o filme é pleno de tudo isso.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

HAICAI 7

O artista, cedinho,
mede, molda, aguarda:
pão quentinho.

EM COMUM

“Há muitas coisas que atribuímos ao demônio sem sabermos que são coisas de Deus que não sabemos entender” (García Márquez).

“Todos os que são incapazes de compreender um deus vêem-no como um demônio e, assim, se protegem de sua aproximação” (Joseph Campbell).

Salvo engano, a frase de García Márquez está em “O amor nos tempos do cólera” (vertido para o cinema não há muito tempo), mas não estou certo disso. Procurei meu exemplar aqui em casa e não o achei. Deve estar emprestado. Se estiver com você que me lê, gentileza conferir se a frase está nele mesmo; basta conferir os trechos que estão marcados por mim.

O trecho de Joseph Campbell foi extraído de “O herói de mil faces”. A bonita idéia do livro é a de que a humanidade tem construído ao longo do tempo um só mito – o monomito, termo que Campbell pegou emprestado de Joyce.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (38)

Abaixo, comentário sobre esta foto.

CONTO 18

Há muitos anos, Kátia fez na escola uma boneca de pano. Enquanto voltava para casa, mal via a hora de mostrar a boneca para Davi, o pai. Quanto este pegou o brinquedo, não ficou com ele mais do que uns cinco segundos. Ao ouvir que Bianca, a filha mais velha, chegara, o pai entregou para Kátia a boneca e correu em direção à outra filha. Desde então, a caçula assumiria uma atitude de frieza quanto ao pai. Ele, por sua vez, não havia tentado compreender a situação nos tempos que se seguiram. No momento em que fechariam o caixão de Davi, Kátia pôs dentro a velha boneca de pano.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

VÍDEO 3

CONTO 17

Cruzeiro e Atlético

Ana e Cláudio são casados há treze anos. Ele propôs: “Você transaria comigo vestindo a camisa do Cruzeiro?”. Ela é atleticana e ele é cruzeirense. Ela cedeu. Acabou gostando. Depois que terminaram, ela até disse que chegara a ver estrelas...

CONTO 16

“Os dois”. Foi a primeira coisa que Mateus disse, do nada, após quatro dias sem se encontrar com Gabriel. Silêncios, olhares e sorrisos leves indicavam compreensão. Gabriel havia perguntado: “Isso aqui é um país ou um cortiço?”. A resposta de Mateus veio doze anos, três meses e vinte e cinco dias depois da pergunta.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

CONTO 15

Lucas Bridge tem um talento peculiar que lhe garante sucesso com as mulheres – consegue cantar enquanto faz amor. Esperto, canta até o que não gosta para agradar. Simone, uma das cantadas, tem excelente ouvido. Garante ela para a melhor amiga que Lucas, ainda que cantando noutro tom, goza é em si.

POEMA DO MEDO (À MANEIRA DE DESCARTES)

Desconheço.
Logo, temo.

domingo, 21 de setembro de 2008

FOTOPOEMA 25


A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (37)

Esta foto é meu momento “Forrest Gump” (lembra-se da cena de abertura do filme?). O registro foi feito em Três Marias/MG, numa usina hidrelétrica.

Eu estava lá após ter visitado a Gruta de Maquiné e ter passado em Cordisburgo/MG, onde nasceu Guimarães Rosa.

Era um fim de tarde. Na hidrelétrica, muitas garças por perto; pude fotografá-las em profusão. Enquanto me deliciava com as aves, pude ver a pena de uma delas caindo suavemente. Não custava nada tentar... Comecei a tentar fazer o foco, o que não foi fácil. Além do mais, apesar da suavidade da queda, eu sabia que não teria muitas oportunidades. Ainda assim, pude tirar duas fotos. A única aproveitável é esta.

A TROCA DA PASTA DENTAL

Eu estava num supermercado, já no caixa. Antes, eu havia procurado por uma determinada marca de pasta dental, que não estava na prateleira. Uma funcionária me explicou que a marca estava na parte da frente do supermercado. Fui então pagar as poucas mercadorias que já havia comprado. Enquanto a atendente do caixa ia passando os produtos pelo leitor de códigos de barra, perguntei para ela se o pagamento da pasta dental deveria ser feito ali ou aonde eu deveria ir pegá-la.

O pagamento deveria ser ali mesmo. Fui até o local e apanhei a pasta dental. Havia pouca gente no supermercado, que estava prestes a ser fechado. Voltei para o caixa. Por falta de troco, a funcionária que estava me atendendo pediu a uma outra que fosse conseguir moedas. Enquanto esta se distanciava, a atendente comentou comigo que a pasta dental que eu queria teve de ser mudada de lugar porque estava se tornando comum a troca de pastas dentais: o freguês pegava uma pasta dental cara e a colocava na caixa de uma mais barata. Na hora de pagar, levava para o acerto a caixa da pasta dental mais barata, que continha, na verdade, a mais cara. Em virtude disso, a pasta dental mais cara passou a ser vendida na parte da frente do supermercado, pois ela é agora entregue ao freguês por uma funcionária.

Aguardando ainda a vinda do troco, eu e a atendente começamos a conversar sobre a prática das trocas. Ela, num tom calmo, disse: “Não entendo esse povo que rouba essas ninharias. Meu pai me dizia que a gente nunca deve roubar nada – nem se for pra ficar rico”. Talvez percebendo meu interesse na conversa, ela prosseguiu: “O pior é que essas pessoas que roubam mixarias são aquelas que depois falam mal dos políticos. É claro que os políticos roubam, mas não são os únicos. Numa boa? O cara que troca uma pasta dental num supermercado e vai embora se achando o máximo é igualzinho aos políticos corruptos que ele se sente no direito de criticar. O brasileiro não consegue olhar para o próprio umbigo. Acho isso muito esquisito. O sujeito leva vantagem em um real, acha isso o maior vantajão e sai contando pros amigos. Se tivesse a chance, ele também roubaria os milhões que os políticos roubam”. Nisso, a garota com o troco chegou. Eu me despedi das funcionárias e vim embora.

NA BANCA DE REVISTAS

Hoje, por volta de 13h15, tive experiência proustiana: desde criança, freqüento bancas de revistas. Tenho em casa o acervo que acabei juntando ao longo dos anos. Mais cedo, ao entrar em uma banca a que nunca tinha ido, senti o cheiro dos papéis, mistura de diferentes publicações produzindo uma gostosa sensação. Assim que entrei, o cheiro veio forte. Um cheiro onipresente, gostoso, encorpado o bastante para me conduzir a um passado saudoso. Talvez, o que tornava tão espesso o cheiro fosse o fato de que o recinto era pequeno e havia centenas e centenas de revistas.

No fundo, sou o mesmo. O garoto que aguardava ansiosamente a chegada das revistas está no adulto que aguarda ansioso a vinda das publicações e que entrou mais cedo numa banca. O que mudou, é que o adulto (nem sempre) lida melhor com os pensamentos, impulsos e sentimentos infantis. Em essência, não mudei. O regozijo na banca, quem o sentiu foi o garoto.

CONTO 14

O grande sonho de Ricardo era se mudar para uma grande cidade. Deixou a terra natal, de setenta mil habitantes, e se mudou para Belo Horizonte. De lá, para o Rio de Janeiro. De lá, para São Paulo. De São Paulo, para Nova York. Em Nova York, teve saudade de São Paulo. Voltou para lá. Em São Paulo, do Rio de Janeiro; no Rio, de Belo Horizonte; em BH, de Alfenas. Em Alfenas, de BH... Então descobriu que não haveria para ele nenhum lugar ideal, pois, acometido de incurável saudade de tudo quanto há, Ricardo chegara à conclusão inapelável de que o melhor lugar do mundo é onde não se tem saudade de outro lugar.

sábado, 20 de setembro de 2008

APONTAMENTO 27

Jean-Baptiste Grenouille, personagem de Patrick Süskind, é, em minha opinião, um dos grandes monstros da literatura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

FOTOPOEMA 23

Foto tirada na Gruta de Maquiné, em Minas Gerais.

FOTOPOEMA 22

Foto tirada na Gruta de Maquiné, em Minas Gerais.

MÁXIMA

Eu acredito
em gnomas.

AMY WINEHOUSE

Gosto demais da artista Amy Winehouse. Gosto como ela canta, como interpreta as letras a que dá vida. Entretanto, sem querer fazer, de modo algum, um discurso careta, como lamento vê-la em fotografias. Entendo a rebeldia, a contestação, a revolta, o inconformismo... Mas é preciso sobreviver. Quando vejo fotos dela, é a mesma sensação ruim que tenho ao ver, por exemplo, um bêbado desacordado na calçada.

Há página na internet que mantém uma espécie de banco de apostas bizarro: aquele que acertar a data da morte da cantora vai ganhar um iPod.

Pois eu quero muito que ela sobreviva. Quando a vejo em fotografias, com seu corpo marcado por excessos, vem a sensação de que ela não merece isso. Não merece porque ninguém em condições iguais merece. Não merece porque ela é gente.

O drama dela está longe de mim. Mas sei de dramas locais. Lamento muito. Gente é para ser saudável, sobreviver.

É estranho... Às vezes, tenho a sensação de que a entendo... Que ela ache um abraço que a conforte e que a entenda. Que eu aprenda a ofertar meu abraço.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CONTO 13

Todo mundo sabia que o talento de Mateus para a música era muito pequeno. Somente o próprio acreditava em si. Ele se sabia fraco, mas tinha consigo que um dia se acharia, não somente na música. Vinte e três anos de intensos estudos se passaram. Todos já estavam mais do que acostumados com o trivial técnico de Mateus. Súbito, surge ele seguro, firme, maduro, com serena expressão em que se lia felicidade e leveza. Ele se achara finalmente. Em milhares de notas e acordes, tinha acabado de espatifar o violão.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

HAICAI 5

Árdua lei:
a isto, que rápido leste,
tempo dediquei.

APONTAMENTO 25 (AO MODO DE OSCAR WILDE)

Faço tudo o que posso para não resistir às tentações.

GRADAÇÃO

O riso
é o sorriso
comedidamente feliz.

A gargalhada
é o riso
desbragadamente feliz.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

PARA RICK WRIGHT


NOTAS (MUSICAIS)

Duas notas musicais – uma triste e uma feliz: a triste é a morte, como já sabido, de Rick Wright, tecladista, um dos fundadores do Pink Floyd. Morreu aos 65 anos; tinha câncer. Mas bem escreveu Eli Vieira: “Bye, Mr Wright. I can hear a great gig in the sky”.

A nota feliz é que terminou há pouco (às 22h), na Praça do Fórum, em Patos de Minas, o espetáculo Brasil Sertões, com o pianista Arthur Moreira Lima. O show começou às 20h35. A chuva ameaçou cair até poucos instantes após o início da apresentação, mas, por fim, não veio.

Moreira Lima executou clássicos populares de Mozart, Beethoven, Chopin e Liszt. Pixinguinha, Villa-Lobos, Astor Piazzolla e Radamés Gnattali também compuseram o repertório. O pianista terminou a apresentação executando o Hino Nacional Brasileiro.

A intenção do projeto Brasil Sertões é levar um repertório acessível a populações que de outro modo dificilmente teriam a oportunidade de assistir a esse tipo de manifestação. Bahia, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe são o roteiro do Brasil Sertões.

Arthur Moreira Lima é considerado um dos mais importantes pianistas brasileiros. Projetou-se internacionalmente no Concurso Chopin, de Varsóvia. Foi também laureado nos concursos de Leeds (Inglaterra) e Tchailovsky (Moscou).

APONTAMENTO 24

Ansiamos pela certeza, pela conclusão, pelo ponto-final. Mas a vida nem sempre são certezas. Ela está mais para um sonoro, poderoso e belo ponto-de-interrogação.

domingo, 14 de setembro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA(S) FOTO(S) (36)

Gosto de árvores, sejam secas, gordas, floridas, brancas ou pretas. Quando passei a fotografar, veio naturalmente o desejo de registrá-las.

No dia sete de setembro de 2007, saí de casa, ainda pela manhã, com o objetivo de fotografar árvores. Após já ter dado um bom giro pelas redondezas da cidade, avistei os galhos acima.

Para quem é daqui se localizar: a árvore fica na avenida Marabá; saindo da cidade, está à esquerda.

Na foto de baixo, penso ser um filho (burro? jegue? mula?) acompanhando a mãe ou o pai. (Caso se clique sobre a imagem, pode-se vê-la maior.) No afã de registrar o momento, não me ocorreu que eu poderia ter fechado mais, mesmo tendo sido minha intenção mostrar a árvore e os animais.

sábado, 13 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

DAS IMPUREZAS DO BRANCO

José Saramago, bem no comecinho de seu “Ensaio sobre a cegueira”, menciona o “mar de leite” que vai tomando conta dos personagens ao longo da cegueira branca que se alastra pelo livro.

Machado de Assis, no conto “Entre santos”, dá notícia de uma luz “cor de leite” no interior de uma igreja.

Herman Melville, em capítulo do “Moby Dick”, relata que o branco pode vir a ser terrífico.

Há o conto “Noites brancas”, do Dostoiévsky.

Vale a pena conferir, na página do Millôr, o "Livro branco" (disponível para assinantes do UOL).

Há ainda aquela história... Como é mesmo o nome dela?...

Deu branco...

ATO FALHO

Numa turma de ensino médio, apliquei prova sobre as cantigas medievais. Na primeira questão, havia uma cantiga. A seguir, caberia aos alunos comentar e justificar se o texto era uma cantiga de amor, de amigo ou de escárnio.

Num sugestivo e sintomático ato falho, uma das alunas iniciou assim a resposta dela: “Trata-se de uma cantiga de amor. Afinal, o eu lírico é masculindo”...

FOTOPOEMA 20 / HAICAI 4


AUMENTATIVO

De “b”, bão.
De “c”, cão.
De “ch”, chão.
De “d”, dão.
De “g”, gão.
De “h”, hão.
De “m”, mão.
De “n”, não.
De “p”, pão.
De “s”, são.
De “t”, tão.
De “v”, vão.

De aço, ação.
De ado, Adão.
De apaga, apagão.
De ave, avião.
De baio, baião.
De bala, balão.
De bis, bisão.
De borda, bordão.
De bota, botão.
De bote, botão.
De boto, botão.
De brando, Brandão.
De brasa, brasão.
De caixa, caixão.
De calça, calção.
De caldeira, caldeirão.
De caminho, caminhão.
De canastra, canastrão.
De canha, canhão.
De canto, cantão.
De capa, capão.
De casara, casarão.
De chave, chavão.
De cintura, cinturão.
De colcha, colchão.
De corda, cordão.
De conversa, conversão.
De diverso, diversão.
De draga, dragão.
De escala, escalão.
De extenso, extensão.
De ferro, ferrão.
De forma, formão.
De fogo, fogão.
De gabo, Gabão.
De galo, galão.
De gama, gamão.
De gesto, gestão.
De giba, gibão.
De leite, leitão.
De leito, leitão.
De liça, lição.
De macaco, macacão.
De meio, meião.
De mel, melão.
De moço, moção.
De orelha, orelhão.
De Pã, pão.
De paga, pagão.
De palavra, palavrão.
De porta, portão.
De preciso, precisão.
De roupa, roupão.
De sal, salão.
De Sena, Senão.
De seno, senão.
De ser, serão.
De será, serão.
De sere, serão.
De sertã, sertão.
De soluço, solução.
De tala, talão.
De tenda, tendão.
De vaga, vagão.
De vara, varão.
De verso, versão.
De vila, vilão.
De time, timão.
De tez, tesão.
De torre, torrão.
De zanga, zangão.

De Ana, anão.
De Clara, clarão.
De Elisa, elisão.
De Irma, irmão.
De Lea, leão.
De Leila, leilão. 
De Mila, Milão. 
De Rita, ritão.

De Gabo, Gabão.
De Salma, salmão.

De sentimento,
coração.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (34)

Acho um barato fotografar lagartos, principalmente por causa das poses que ofertam.

Esta foto foi uma das imagens conseguidas quando eu já estava voltando para casa. Ainda com o equipamento montado e dirigindo a moto, eu estava prestando atenção no ambiente, em busca de mais uma oportunidade. Foi quando vi o lagarto acima.

Geralmente, são ariscos. Já ciente disso, fui, paulatinamente, aproximando-me. Pude tirar umas sete fotos.

Imagem feita em primeiro de maio de 2007.

CONTO 12

Almir bebe todos os dias. Começou a beber quando tinha dezesseis anos. Hoje, tem trinta e nove. Ele diz entender muito bem o personagem Ben Sanderson, interpretado por Nicolas Cage” no filme “Despedida em Las Vegas”. A diferença básica, segundo Almir, é que ele não tem sua Sera, interpretada por Elisabeth Shue; o ponto em comum, diz, é que vai acabar como Ben. Se argumentam com Almir que ele pode mudar isso, ele diz que não quer – e que não teria capacidade, se quisesse. Para aqueles que tentam ajudá-lo, diz para não se preocuparem, acrescentando que morrerá lenta e liquidamente.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

APONTAMENTO 22

Uma teia de intrigas no local de trabalho faz com que amigo meu se lembre de um enredo shakespeariano. Não conhecesse ele o texto de Shakespeare, obviamente não faria a comparação. O vate inglês acaba fazendo com que se compreenda melhor a vida – e vice-versa – e não necessariamente nessa ordem.

HAICAI 4

Futebol de garoto.
Garrincha vai, vem.
O gênio é torto.

HAICAI 3

Aquosa jornada.
Ele peleja, labuta.
Quase nada.

EXCELENTE!

Freqüentemente nos queixamos, com muita razão, da precariedade e da burocracia dos serviços públicos. São na maioria das vezes ineficazes, pachorrentos e nos tratam como se estivéssemos atrapalhando a existência dos funcionários, como se fôssemos um incômodo para o bem-estar deles, que, a rigor, são mantidos por nós, por intermédio dos impostos e taxas que pagamos.

Mas, um dia desses, tendo saído logo pela manhã, a fim de resolver pendengas burocráticas, tive de ir a um desses serviços públicos. Já cheguei armado e fazendo cara de quem deixa bem claro que estar ali não era nada bom. Como sempre, fila, mas não demorei a ser entendido. Não tive nem tempo de começar a pensar na vida e no que devo fazer para que tudo seja diferente. Eu já estava com a senha de atendimento em mãos; em menos de dois minutos eu seria chamado.

Quem me atendeu foi um senhor. Já calejado e ciente de que a burocracia impede o bom senso na maioria das vezes, após corresponder ao “bom dia” do funcionário, fui logo adiantando que talvez eu não estivesse no lugar certo para resolver o problema com as faturas. Mas o atendente, após me perguntar de que conta se tratava, foi logo dizendo que eu estava no lugar certo.

Revendo-o agora, creio que deve ter uns cinqüenta anos. O sorriso com que me recebeu era cordial mas não era exagerado. Por isso mesmo, convenceu. Entreguei-lhe os comprovantes de pagamento de contas que estavam atrasadas e ele começou a digitar. Digitava e olhava para a tela, digitava e olhava para a tela. Eu tentava ler em seu rosto algum problema, alguma irregularidade com os comprovantes. Mas ele continuava digitando. Num dado momento, perguntou-me alguma informação técnica sobre minha mãe, pois os documentos estavam no nome dela. Como eu havia pedido a ele segunda via de um documento, ele me disse que tal segunda via não seria necessária, pois a conta já havia sido paga. E mais: acrescentou que uma outra conta, paga momentos antes, também há havia sido quitada. Por fim, esclareceu que eu não precisava me preocupar, pois o dinheiro seria restituído por intermédio de créditos (acho que foi essa a palavra que ele usou).

Enquanto o senhor digitava, reparei que, sobre o balcão, havia um mecanismo vertical, de uns quinze centímetros, que parecia proporcionar ao cliente a possibilidade de opinar sobre o atendimento que tivera. Havia quatro ou cinco botões, um de cada cor. Sob cada botão, havia uma palavra. Elas iam de uma gradação que começa com (salvo engano) “excelente” e vai até (salvo engano) “péssimo”. Deduzi que o dispositivo estava ali para que pudéssemos de fato avaliar o modo como havíamos sido tratados, como havia sido o serviço etc. Por dois ou três instantes, senti-me tentado a apertar o botão “excelente”, mas não o fiz por temer que talvez essa não fosse a utilidade do mecanismo. Também por dois ou três instantes, pensei em perguntar a serventia da maquininha, o que não fiz.

No término do atendimento, o funcionário virou o monitor do computador para mim e me mostrou a prova de que duas das contas já haviam sido pagas. Trocamos algumas palavras e fui embora. No caminho de volta para casa, fiquei remoendo meu vacilo, meu pestanejar: eu deveria ter perguntado a utilidade do equipamento. Caso servisse para o que eu tinha pensado que servia, eu poderia ter opinado sobre o atendimento que recebi. Nem tanto pela repartição, mas pelo tato daquele funcionário. Voltei para casa com a sensação de que eu perdera a oportunidade de exercer algo de bom em mim.

HAICAI 2

Manhã à mão.
Sol busca o céu.
Glorioso sertão.

DA PAZ

A paz é um céu
bem escuro
pontuado
por estrelas.
A paz é escura
e silenciosa.

APONTAMENTO 21

A mais curta das viagens, desde que não se queira fazê-la, torna-se a mais longa.

CONTO 11

Marcos havia sido o tipo literato até os quarenta anos. Estava sempre bem-informado e praticando os idiomas que aprendera – inglês, francês e espanhol. No exato dia em que completou quarenta anos, desistiu do mundo das letras (de vez em quando escrevia alguns versos). Na juventude, chegara a publicar por conta própria um livro de poemas chamado “Caminhos do olhar”. Depois que abandonou o mundo da literatura, passou a se dedicar à criação de coelhos. A seguir, entusiasmou-se pela música. Logo após, pela filatelia. Mesmo antes das letras já havia sido interessado em basquete, chegando a jogar no time principal da cidade. Hoje em dia, tem se dedicado ao direito. Fez vestibular e foi aprovado, mas já está cogitando a idéia de abandonar o curso e se dedicar à etologia. A intenção é se concentrar no estudo das formigas.

CONTO 10

O grande sonho de Cátia era ser modelo. O desejo de freqüentar as passarelas, ser fotografada, gravar comerciais, dar entrevistas, ser famosa, ganhar dinheiro e estar em outdoors começou a acabar quando ela completou dezesseis anos. Foi nesse instante que, inexoravelmente, passou a engordar. A princípio, ainda teve alguma esperança de voltar a ter o corpo esguio e o andar leve. Depois, percebeu que seriam em vão as esperanças, as dietas e as ginásticas. Nunca parou de engordar. Hoje, muito veladamente, sente uma pontinha de inveja quando vê cenas de um desfile ou fotos de alguma modelo. Nada grave: já que não há como jogar fora o peso do corpo, Cátia jogou longe o peso das gordas preocupações.

"HOW DO YOU DO"

Mais cedo (3/9/2008), tive de ir ao dentista. Como eu ainda não havia sido paciente do profissional, ele tratou ao máximo de me acalmar, nos momentos que antecederam os trabalhos; o que nem seria necessário, pois não me preocupo com esse tipo de intervenção.

Enquanto dente e gengiva eram cavoucados, bem baixinho, quase imperceptíveis, ao fundo, pude ouvir solos de flauta. Não conheci o artista. Mas eu estava mesmo é com a canção “How do you do”, do Roxette, na cabeça. Eu nem gosto muito dessa canção, mas ficou em minha cabeça, desde que a escutei, ontem, numa rádio.

APONTAMENTO 20

É muito fácil ser otimista quando se é ignorante. Mas nem todo otimista é ignorante.

APONTAMENTO 19

No sonho, a verdade. Na leitura, a ponte para o sonho.

FOTOPOEMA 19


POP POEM

Be “Close to me”
and be The Cure.

CONTO 9

Joaquim conheceu Andréia. Os dois se casaram e foram morar no fundo da casa de Estevão e Isoleta, pais de Andréia. Chegou um ponto em que Joaquim não estava mais suportando a falta de privacidade, os palpites da sogra, a falta de educação do sogro e os latidos agudos de Bidu, o cachorro de Estevão. Numa discussão, os sogros de Joaquim jogaram na cara dele que ele pegava o boi de morar lá, pois não pagava aluguel nem criava vergonha na cara e construía uma casa. Joaquim disse para a esposa que iria embora; perguntou-lhe se ela iria com ele. Diante do vacilo dela, o marido não disse mais nada: fez as malas e partiu. Até hoje, os familiares de Andréia lamentam a ausência de Bidu, que acabou seguindo Joaquim no dia da partida.

FOTOPOEMA 18


LETRA DE MÚSICA (CANÇÃO DESAJEITADA)

Você tem um jeito...
Essa coisa imprecisa que
ao mesmo tempo é tudo.
Seu jeito é você toda.

Seu caminhar, respirar...
Cabelos, roupas, gestos...
Fico sem jeito, mas olhar é preciso.

Sua voz, humor e gentileza.
Um quê de criança na mulher feita.
Finjo levar jeito e componho uma canção.
Oferta de um cético que de repente acorda:
o amor me pegou de jeito.

CONTO 8

O dia de seu casamento havia chegado, e Margarida não estava certa se deveria mesmo se casar com Amauri. Horas antes da cerimônia, não sabia se fugia para Lagamar ou se entrava na igreja. Por fim, decidiu ir embora – vinte e dois anos e três filhos depois de casada.

O IDH DA CHINA

Ontem (16/8/2008), sábado, eu estava num bar conferindo música ao vivo. Numa das vezes em que fui ao banheiro, chegou até mim trechinho de conversa mantida entre um casal. Olhei para o lado. Pela aparência dele, julguei que tem uns 55; ela, uns 50. Mas sou péssimo em atribuir idade. De qualquer modo, apesar da olhadela, tive a impressão de que não eram um casal estabelecido; fiquei com a sensação de que ele a estava cortejando, de que aquela era a primeira vez em que saíam juntos.

Achei um barato o trecho da conversa que chegou até mim. Momentos antes de entrar no banheiro, ele conversava sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da China. E como eu já compusera toda uma situação na mente, atribuindo aos dois um clima de paquera, que nem sei se de fato havia, fiquei pensando nos caminhos que uma conversa pode tomar no momento em que há uma tentativa de conquista.

Embora ela conversasse quando saí do banheiro, não pude escutar nenhuma palavra. A música ao vivo continuava agradável. Pouco depois de o músico terminar, vi o casal saindo.

De mãos dadas.

ASSANHAMENTO

Quero um corpo
amoroso e safado
para que eu seja
safado e amoroso.
Dê-me teu corpo
e seja amorosa e safada,
para que eu seja
safado, amoroso e teu.

RELAÇÃO

Da palavra,
posso vir a ser
senhor e escravo.

Senhor,
se fizer dela
o que quiser.

Escravo,
caso sem ela
não consiga viver.

APONTAMENTO 18

Polemizar é muito mais fácil do que ser simples.

APONTAMENTO 17

Minha melhor ficção não está no papel. Minha melhor ficção sou eu.

CORPOS DO AMOR

De fato,
o coração dispara.
Mas não se iluda:
da cabeça aos pés,
tudo é a língua do amor,
tudo são músculos do amor.
Tudo é corpo amoroso.

FOTOPOEMA 17


A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (33)

O que me levou à fotografia de aves e pássaros foram as aves de rapina. Sempre gostei delas. A partir do momento em que decidi levar fotografia mais a sério, logo veio o desejo de fotografá-las.

A foto acima é mais uma feita lá no bairro Copacabana. Mais uma feita na última rua do bairro, a que fica mais perto do Rio Paranaíba. Eu estava em minha moto; equipamento fotográfico pendurado no corpo e pronto para o disparo. Em velocidade bem reduzida, eu prosseguia, prestando bastante atenção nos arredores, a fim de flagrar alguma imagem. Súbito, à minha esquerda, avisto este gavião-carcará. Assim que parei a moto, ele já se alarmou. Com movimentos lentos, sutis e pacientes, tirei o capacete, peguei a câmera e disparei. Pude fazer duas fotos.

PALAVRA E MELODIA

Gosto demais quando as barreiras que separam o erudito do popular são derrubadas. Sempre me senti atraído pela tentativa de se fazer uma amálgama dos dois. Em mim, isso é tão forte, que chego a pensar que se algum dia eu tivesse de arriscar uma definição para o que é a arte, eu partiria desse princípio de fusão entre o que é considerado popular e o que é considerado erudito.

Canções e literatura sempre me atraíram. O John Lennon disse que quando começou a escrever letras, tentava imitar o Bob Dylan. Nessa tentativa, Lennon se esforçava por escrever letras complicadas cujo sentido permanecesse latente. Com o passar do tempo, mudou a abordagem e passou a escrever textos mais simples, mais diretos, com menos metáforas – “Imagine” é um exemplo dessa fase menos rebuscada. Contudo, Lennon reiterava que tentava escrever letras que pudessem ser também lidas, letras que funcionassem como um poema.

A música pop tem letras que são poemas. O que é pop não tem de necessariamente produzir textos que possam ser considerados peças literárias, mas isso não impede que a literariedade esteja presente no que é pop.

Penso em “The Unforgiven”, do Metallica. Com muita freqüência, eu me lembro de um dos trechos da letra. Diz o seguinte (tradução liviana):

What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through what I’ve shown

(O que senti
O que conheci
Nunca brilhou por intermédio do que mostrei)

O trecho não precisa ser cantado para “funcionar”.

Neste momento, escuto algumas canções. Uma delas, “Misread”, do Kings of Convenience. Um trecho da letra foi o que me levou a escrever o texto que você está lendo agora. Diz o trecho (novamente, tradução liviana):

How come no one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference

(Por que ninguém me disse
Que por toda a história
Os mais solitários
Foram os que sempre falaram a verdade
Os que fizeram a diferença
Resistindo à indiferença)

A MPB é pródiga em letras-poemas. De Pixinguinha a Lulu Santos, há fartura. E assim, “a porta do mundo é aberta/Minha alma desperta/Buscando a canção”.

LIVRES

Caminham juntos, os dois.
Não sabem para onde
nem para quê.
Inimigos, somente os que
eles mesmos inventam.
Superam todos.
Sem laços,
sem saudades,
não se voltam
para as pegadas
que imprimem,
não concebem futuro.
Plenos do presente
e inconscientes de si,
não sabem,
mas são felizes.

BREU

A luz pode ser trágica.
Enquanto isso,
a escuridão me pacifica.

POEMA

Gradação(1)

Fascinante,
a história de teu corpo,
quando ele vai
do coração que dispara
ao grito que goza.
(1) Há uma versão diferente deste poema lida em liviosoares.com.

APONTAMENTO 16

Palavras não são tudo, mas viver é menos pesado e triste quando transformo as coisas em palavras.

INEXORÁVEL

Mesmo
no esquife,
tudo se esquiva.

FANTASIA

Amor,
minha fantasia é
também geográfica.
Tanto que
está no mapa;
tem longitude e
(l)atitude:
eu e você,
emaranhados,
em camas de
Lençóis Maranhenses.

SILÊNCIOS

Tenho de me segurar.
Se não me policio,
vou à tua casa,
escalo as muralhas,
trago-te comigo.
Por fora, sou calma e senso;
por dentro, furor e desejo.
Para não invadir teu espaço,
edifiquei redoma.
Daqui de dentro,
a esperança (vã?)
de que estou
no silêncio teu.

APONTAMENTO 15

Renato Russo no palco: um ator que cantava.

SITE

Rusimário Bernardes reformulou seu portal na internet.

Além do talento para escrever, ele também faz páginas para a internet. Eu me lembro de que certa vez, conversando com ele, comentei que eu tinha o interesse de ter um site; então perguntei quem poderia fazer a página para mim. Ele disse: “Eu”. Isso já deve ter uns três anos. Desde então, temos trabalhado juntos, o que muito me agrada, pois ele soube traduzir muito bem o que eu tinha em mente.

Aqueles que conhecem o carismático Rusimário também sabem que entre seus inúmeros dons está o da amizade.

Para conferir o portal dele, acesse
www.nhardes.com .

FOTOPOEMA 16


SOFISMA?

O Brasil
nasceu na Bahia.
Eu nasci no Brasil.
Logo, sou baiano.

DIA DE BONGÔ

Hoje (26/7/2008), comecei o dia surrando meu combalido e empoeirado bongô. Comecei a escutar algumas canções, entusiasmei-me e me desenferrujei.

Acompanhei as seguintes canções:

“Ventura highway” – America (Essa, preciso treinar.)
“A estrada” – Cidade Negra
“Hope of deliverance” – Paul McCartney
“À noite sonhei contigo” – Paula Toller
“When a man is wrong” – Seal (Essa, com a pandeirola.)
“Só pra te mostrar” – Daniela Mercury – participação de Herbert Vianna
“Misread” – Kings of Convenience (Nessa, embananei no meio.)
“All around the world” – Lisa Stansfield e Barry White (Essa, pensei que não ficaria legal, mas gostei.)
“Lady” – Mojo (Essa tem um andamento mais rápido; por eu estar fora de forma, passei apertado.)
“In your eyes” – Peter Gabriel
“Esse seu jeito sexy de ser” – Sempre Livre
“A horse with no name” – America (Essa, toquei duas vezes; a primeira, ficou muito ruim; a segunda, um pouco pior.)

Fiquei devendo nas duas do America que compuseram o repertório. Mas foi legal. De alma lavada, sigamos.

P.S.: Depois de lidar com alguns afazeres, voltei para o bongô e ainda batuquei ao som de duas canções do Zé Ramalho: “Garoto de aluguel” (versão acústica) e “Beira-mar”.

OFERTA

Para as mangas, mangueira.
Para as maçãs, macieira.
Para o amor, amoreira.

O MISTÉRIO

Queres um quê
de mistério?
Sê simples.

SINESTESIA

Meu silêncio
e o silêncio
de minha casa
têm a cor
do crepúsculo.

APONTAMENTO 14

Se fosse para contar sobre os que foram embora, eu teria um bom número de histórias, mas quero é contar sobre os poucos que ficaram.

FOTOPOEMA 15


CONTO 7

Juras

Tudo começou muito bem. Nos planos, seriam felizes, aumentariam o amor, aumentariam o patrimônio. Este aumentou, mas aquele diminuiu até acabar. O casal está agora às turras, principalmente quando a briga é por dinheiro. Vivem trocando juros de amor.

FOTOPOEMA 14


A HISTÓRIA POR TRÁS DA(S) FOTO(S) (32)

A natureza não é feita somente de idílicos ocasos ou bucólicas paisagens. Uma olhadela um pouco mais atenta já vai revelar o muito de sangue que há na diária e incessante luta pela sobrevivência. Por intermédio de cândidos passarinhos ou de opulentos gaviões, passando por humanos cheios de empáfia, tenho presenciado, desde quando comecei a fotografar a natureza, cenas de sangue e morte.

Às vezes, essa luta pela sobrevivência gera momentos um tanto engraçados. A tesourinha, por exemplo, é turrona e metida a valente: persegue adversários bem maiores do que ela. Já vi tesourinha afugentando tucano e gavião – o bem-te-vi também é assim. (Ainda quero conseguir uma foto de bem-te-vi ou de tesourinha perseguindo tucano.)

As imagens acima ilustram dois momentos em que uma tesourinha botava pra correr um gavião-carrapateiro, que momentos antes estava pousado num fio. Mesmo quando já estavam bem mais longe, não podendo ser mais fotografados, o assédio continuou, e em dose dupla, pois súbito surgiria uma outra tesourinha para dificultar a vida do gavião.

Eu estava no bairro Copacabana quanto tirei as fotos.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (31)

Desde pequeno, sempre tive o maior fascínio por urubus. Creio que isso teve início na época em que eu lia histórias em quadrinhos. Com freqüência, eu conferia as aventuras do Homem-Aranha, que tinha um inimigo chamado Abutre. Era meu vilão predileto.

Além do mais, a sensação que tenho é a de que antigamente havia mais urubus. Pode ser uma impressão incorreta; afinal, a infância é hiperbólica... Ou talvez haja de fato menos urubus hoje, pois de lá para cá destruímos muito da natureza. À parte isso, era um barato observar os urubus lá longe. Eu ficava impressionado com o quanto voavam alto.

O tempo passou e comecei a fotografar. Quando me decidi a realizar fotografias de pássaros e aves, rapidinho passei a procurar os urubus. Uma das fotos, postei no
TrekNature. Paul Bratescu, um dos integrantes do site (conhecido lá como AnimalExplorer), ressaltou o trabalho de limpeza que os urubus realizam. Gostei muito do comentário dele. Eu, que já gostava de urubus por causa de memórias dos tempos da infância, passei a gostar ainda mais depois do comentário do fotógrafo. Uns olham para a imagem de urubus na carniça e dizem que a cena é nojenta; outros, que os urubus estão realizando um trabalho de limpeza. São dois modos de verbalizar uma só coisa. Na ocasião, cheguei a pensar no poder que as palavras têm. Mas isso é uma outra história...

A foto acima foi tirada no bairro Copacabana, aqui em Patos de Minas.

FOTOPOEMA 13


SHOW DE BOLA

Agora há pouco (18/7/2008), estive conferindo show com o Mistura Fina e Wilmar Carvalho (voz e guitarra), num dos restaurantes da cidade. No repertório, clássicos do cantor e compositor Djavan.

O Mistura Fina tem como integrantes César Braga (piano digital), Castor (bateria) e Ivan Rosa (baixo). O trio tem mantido um trabalho à parte, já tendo se apresentado em bares e restaurantes, com música instrumental. Paralelamente, já realizaram com Wilmar Carvalho shows no Teatro Municipal Leão de Formosa, ocasiões em que apresentaram canções de Caetano Veloso.

A apresentação de há pouco teve um breve intervalo, de modo que o show foi divido em duas partes.

O que mais me chamou a atenção na história toda é que o espetáculo não teve cara de cover do Djavan. Pérolas como “Faltando um pedaço” (em belíssimo arranjo), “Lilás”, “Meu bem querer” e “Pétala” compuseram o repertório, mas foram executadas à moda do quarteto. Para se ter uma idéia, “Sorri” teve “pegada” jazzística. O efeito disso foi bacana. Ao mesmo tempo em que nós, platéia, estávamos escutando Djavan, havia um toque pessoal por parte de cada um dos integrantes da banda. Em conversa com eles depois do show, Castor disse que já são experientes o bastante para darem o toque personalizado no que estão tocando.

Terminada a apresentação com as canções do Djavan, o trio Mistura Fina ainda tocou por mais alguns minutos.

É intenção do quarteto continuar tocando junto.

Logo mais, apresentam-se novamente, no mesmo local. A noite de sexta está garantida.

FOTOPOEMA 12


FOTOPOEMA 11


PREFERÊNCIA

Teus cabelos?
Prefiro
quando estão
debelados
e desajustados.

FOTOPOEMA 10


FEROMÔNIO

Amo-te
por gostar
de teu cheiro
ou gosto
de teu cheiro
por te amar?

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (30)

Como de praxe, nesse sábado (12/7), fui conferir música ao vivo num dos restaurantes da cidade. Estavam se apresentando Woodson (bateria eletrônica), Pedro (violão) e Rejane (voz).

A cantora havia me ligado para que eu fizesse algumas fotos da apresentação. Enquanto a música rolava, vi que a sombra do braço do violão, produzida por uma luz amarela atrás dos artistas, proporcionaria uma foto.

No intervalo de uma música para outra, pedi ao Pedro que posicionasse o braço do violão de modo que eu pudesse fotografar a sombra, que se projetava no chão.

SEM PALAVRAS

Mais cedo (9/7/2008), num dos bares da cidade, conferi show com o grupo Mistura Fina, que executa música instrumental. Os integrantes são Ivanir Rosa (baixo), Castor (bateria) e César Braga (piano digital). No repertório, clássicos do jazz, do samba e da MPB em geral. De Creedence Clearwater Revival, passando por Tom Jobim e Jorge Benjor, o repertório é executado com técnica e curtição pelos três experientes músicos.

Em conversa que mantive com eles depois da apresentação, disseram que têm a intenção de continuar com os shows. Além de realizarem o trabalho com música instrumental, é plano deles se juntarem a cantores e apresentarem mais uma faceta de seu trabalho. Já há apresentações agendadas com o cantor e músico Wilmar Carvalho. Nos dois primeiros shows por vir, vão apresentar músicas de Djavan (com Wilmar Carvalho, já se apresentaram no Teatro Municipal Leão de Formosa, em shows com clássicos de Caetano Veloso). Virão ainda apresentações com canções do Legião Urbana.

Os três são professores do Conservatório Municipal, onde se pode entrar em contato com eles.

CROMO 6

Mais uma de minhas fotos feitas com câmera analógica; mais uma da série feita com cromos.

Tirei a foto no Parque do Mocambo. Quando cheguei ao local, um dos vigias do parque, assim que me viu com equipamento fotográfico, fez gesto para que eu me aproximasse com vagar e silêncio de um lugar apontado por ele. Lá chegando, avistei o mico acima a alguns metros. Quando perguntei ao vigia o motivo de o animal estar ferido, foi-me dito que por certo havia sido alguma briga envolvendo os integrantes do bando a que o mico pertencia. Ou então, alguma pedrada...

Nas proximidades, havia um abrigo. O vigia foi até lá e pegou um pedaço de pão. Em seguida, aproximou-se do mico. Este reteve o pão mas não foi embora; talvez, na esperança de ganhar mais um pedaço. Enquanto ele se alimentava, pude tirar várias fotos.

APONTAMENTO 13

O astrônomo lê nas estrelinhas.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (29)

Eu me lembro de que no dia em que tirei esta foto (23 de julho de 2005), lamentei não ter, na época, uma objetiva de alcance maior, pois havia alguns urubus se alimentando ao longe, num pasto. Havia uma cerca, que não pulei. A noite estava prestes a chegar. Sem a possibilidade de fotografar de perto as aves, ainda assim, não vim embora. Permaneci nas proximidades, procurando mais alguma possível imagem. Foi então que percebi que, saciados, os urubus iam para uma árvore. Meio sem expectativa, tirei uma foto da árvore em que estavam e vim embora. Eu havia até me esquecido desta foto; ontem, mexendo em velhos arquivos, ela surgiu.

FOTOPOEMA 9




FOTOPOEMA 8


APONTAMENTO 12

Algo em mim muda a todo momento. Algo em mim permanece o mesmo a cada instante.

"VIAGENS PROFUNDAS", DE ROSE GONÇALVES

Hoje (1/7/2008), recebi correspondência que me deixou muito contente – foi-me enviado o livro “Viagens profundas”, de Rose Gonçalves.

Rose mora atualmente em Lavras/MG. Enquanto esteve em Patos de Minas, exerceu seu belo talento, dando aulas de canto e se apresentando em bares e restaurantes da cidade. Foi a partir de um encontro num bar que passamos a ter mais contato.

Rose tem passado por problemas de saúde. Em Lavras, conta com o apoio e a ajuda da família. Mas o bacana na história toda é que ela não larga mesmo mão de se agarrar à vida. A mais nova prova disso é o livro lançado por ela recentemente.

A obra reúne poemas escritos pela cantora. Foi publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, do Rio de Janeiro.

Rose, que já conferia voz e sentimento a versos alheios, decidiu conferir palavras e páginas a seus próprios sentimentos, à sua própria voz. Que a viagem esteja apenas começando.

APONTAMENTO 11

A zebra é simetricamente pedrês.

APONTAMENTO 10

Fiquei esperando uma verdade súbita, mas isso não há. O que há é o devagarinho de cada instante.

MAIS NOVIDADE EM MEU SITE

Caras pessoas, agora, em meu site, há também textos em inglês lidos por mim. São letras de música pop e trechos de autores estrangeiros que curto. Caso queiram conferir, gentileza acessar liviosoares.com.

APONTAMENTO 9

Agora há pouco (29/6/2008, 1h12), estive dando uma olhada em algumas fotos que tenho tirado desde quando passei a me dedicar de modo mais intenso à fotografia. Sem pedantismo, digo que achei muito bom olhar as imagens. Não por elas em si, mas pelo que fiz em nome da paixão pelo ato de fotografar. Pegar o equipamento, pegar a moto e sair à caça de imagens. Cada foto, uma história. Por fim, regozijei-me, pois gostei da história que construí. (Se isso soa a vaidadezinha boba, relevem.)

A vida é precária; precária é a história que tenho feito. Mas é uma história que, por instantes, muito me agradou. Envolvi-me com textos e com imagens. Tudo mesmo para que eu me envolvesse com a vida.

NOVIDADE EM MEU SITE

Pessoas, agora, em meu site, há a leitura que faço de alguns textos meus. Caso queiram conferir, gentileza acessar liviosoares.com.
Valeu.

APONTAMENTO 8

Não sei bem se a literatura faz com que eu me aproxime de mim ou se faz com que eu me afaste de mim. O fato é que sem literatura viver seria muito mais perigoso ainda.

À MANEIRA ORIENTAL 2

Nem
a esquerda
nem a direita.
Quando muito,
à esquerda
ou à direita.
Mas já que
o caminho
é um, não há
à direita
ou à esquerda.
Não há
nem direita
nem esquerda.
Há apenas
o caminho.

À MANEIRA ORIENTAL

Se queres ser dono
da verdade,
sê dono
de nada.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA(S) FOTO(S) (28)

Conforme combinado na postagem anterior, eis as fotos de um porco-espinho.

Eu estava no bairro Copacabana. Era o dia trinta de dezembro de 2006. Tempo nublado. O Rio Paranaíba estava cheio. Por causa disso, animais que geralmente ficavam do outro lado do rio vieram para o lado de cá ou se viram obrigados a êxodo temporário, por causa da enchente.

Parece-me ser o que ocorreu com o amigo acima. O curioso é que ao vê-lo no alto de uma árvore, pensei se tratar de um ninho qualquer, embora um ninho bem grande. Contudo, chegando mais perto, vi que era um animal que eu nunca tinha visto. Comecei a fotografar. O barulho de obturador o acordou, mas ele não fez nem menção de sair do lugar em que estava. Enquanto eu fotografava, uma viatura da Polícia Militar, patrulhando a área, parou. Havia dois ou três policiais no carro; desceram e me perguntaram o que eu estava fotografando. Quando lhes mostrei o porco-espinho, um deles se aproximou da árvore em que o animal estava e mexeu nos galhos. O porco-espinho então saiu de onde estivera até então e foi para outra árvore; uma das imagens acima registra o momento em que ele se movimentava.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (27)

Foto tirada perto do colégio Polivalente. Vou muito por aqueles lados em busca de imagens. Gaviões, anus-pretos e anus-brancos são freqüentadores assíduos da área. Lagartos podem ser vistos também. E foi por lá que consegui fotos de um porco-espinho. Em breve, eu a postarei.

Na foto acima, havia um bando de anus-pretos numa cerca. São aves com forte instinto gregário (o mesmo vale para o anu-branco); onde há um, há outros.

Quando tentei uma maior aproximação, a maioria deles voou. Já os dois acima tinham coisa melhor para fazer.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (26)

Em 13 de outubro de 2007, fotografei um casamento. A festa foi num sítio nas proximidades de Patos de Minas.

Quando chegaram ao local da festa, fizeram algumas fotos perto da piscina. Numa das poses, decidi fotografar apenas o reflexo deles no azul da piscina. Com a foto no computador, apenas a girei.

APONTAMENTO 7

A humanidade é perdida e desnorteada – qualquer coisa que tenha cara de verdade a convence.

FOTOPOEMA 7




A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (25)

Numa foto ideal, o tamanduá estaria num fundo que oferecesse mais contraste. A tentativa nesta foto foi de mostrar todo o corpo do animal.

Para mais detalhes sobre o registro, gentileza conferir postagem anterior.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (24)

Em julho de 2006, estando em férias, decidi ir a São Roque de Minas, pequena cidade que fica ao pé da Serra da Canastra. A intenção era fotografar o tamanduá e, se possível, o lobo-guará.

Assim que cheguei ao hotel, decepção: o guia contratado por mim simplesmente havia me dado o bolo. Eu havia perguntado se era necessário pagar antecipadamente. Ele dissera que não. A proprietária do hotel me disse que ele havia subido a Serra com um grupo de turistas: um grupo é mais lucrativo do que um único turista.

Para chegar até São Roque, fui de carona com o Adriano, amigo que hoje leciona para a Federal de Tocantins. Diante do fiasco, a princípio, cogitei ir de imediato com o Adriano para Alfenas, para onde eu iria somente na semana seguinte, depois do “safári” na Serra da Canastra. Contudo, após conversas, eu e o Adriano decidimos subir a Serra no carro dele; iríamos embora no outro dia pela manhã.

O caminho é sinuoso, o morro é grande. Há muita poeira. De acordo com o combinado, eu pagaria para que o carro fosse lavado assim que chegássemos a Alfenas. Era um fim de tarde. Subíamos a Serra; eu, sem muita esperança; estava ainda nervoso devido à irresponsabilidade do guia. Ainda na subida, consegui fotografar um gavião-carrapateiro em cima de um boi. Continuamos subindo. A noite não demoraria a chegar. No caminho, encontramos dois alemães. Tinham equipamentos sofisticados. A intenção deles era observar o tamanduá. Conversei com eles, que disseram não ter avistado nenhum. Adriano e eu prosseguimos Serra acima. Como eu não via nem tamanduá nem lobo-guará, eu aproveitava para fotografar a flora do lugar. Já num ponto bem alto, decidimos voltar. Na descida, à nossa direita, do meio do mato, surgiu uma jovem. Perguntamos se ela estava indo para São Roque. Ela disse que sim; oferecemos carona e ela topou. Antes que ela entrasse no carro, perguntei-lhe se ela tinha visto algum tamanduá por perto. Ela me disse que havia um a uns duzentos metros de onde estávamos. Fiquei doido! Era a minha chance!

Fui logo indo na direção apontada por ela, que estava cheia de admoestações. Disse que havia muita cobra na área. Além disso, pediu-me para não estressar (foi o termo que ela usou) o animal. Ela é bióloga; na ocasião, parece ter se arrependido de ter me dito que havia tamanduá por perto, pois ficou o tempo todo falando das cobras e me pedindo para não estressar o bicho. Quando o vi, comecei a fotografar. O sol já estava quase indo embora; eu não teria muito tempo. Tirei umas dez fotos. Depois, descemos a serra; quando mostrei as fotos do tamanduá, ainda no monitor da câmera, para a bióloga, ela me pareceu menos arrependida de ter me mostrado onde ele estava.

Não fosse por ela, eu não conseguiria avistar o tamanduá. Além do mato, que estava alto, o animal é da cor desse mesmo mato. Tanto é que as imagens não ficaram muito boas, pois ele se confunde com o fundo. Ainda assim, eis uma das fotos dessa criatura, que acho formidável.

FOTOPOEMA 6