quarta-feira, 24 de junho de 2015

APONTAMENTO 266

Tem uma leveza bonita. Acho que é o jeito de se movimentar. Não é malemolente nem acelerado. Não há arrancos, não há lentidão. É como se fosse um movimento sutil (por isso marcante) e contínuo. Um meio termo que também está na voz, que, se não grita, também, sem afetação, não sussurra. Um modo de existir que não é apagado, mas que está longe de querer ofuscar. Uma existência que flui, que parece se esgueirar. Sem esforço aparente, destaca-se. É como se existir fosse a mais espontânea das ações. 

CONTO 78

Era o primeiro jantar que Ana Cláudia e Celso compartilhavam depois da briga. Estavam à mesa mais por insistência dele que por desejo dela, que ainda assim aquiesceu. O encontro foi na casa de Ana Cláudia, que preparou pato com laranja. Foi essa a primeira vez na qual ele achou que a comida dela não estava gostosa. Secretamente, ela teve a mesma opinião dele, ciente de que a refeição estava insossa por ela não ter seguido preceito que ela mesma criara — o de que se for para temperar com rancor, melhor não cozinhar. 

IMAGINAÇÃO E LEITURA

O engano daquele que tem imaginação é mais rico do que a platitude daquele que é mediano. A imaginação fértil precisa de solo fértil. Se não o acha no ambiente em que está, acha-o nos livros de que se vale. A leitura tonifica a imaginação; não bastasse, é escudo contra a mediocridade, seja a própria, seja a alheia.