domingo, 21 de abril de 2019

O governo que (se) esconde

O governo federal decretou sigilo sobre os estudos que embasam a reforma da previdência. Isso, na prática, significa que nós, cidadãos, não teremos acesso a dados econômicos e sociais que a sustentam. Vou sempre repetir: essa reforma prevê, dentre outras atrocidades, que uma pessoa venha a receber, entre os sessenta e os setenta anos, quatrocentos reais por mês. Sob ponto de vista estritamente financeiro, descontadas as implicações desumanas da reforma, entendo os empresários a apoiarem, mas quem não é empresário, que pode, aliás, estar nesse grupo que receberá quatrocentos reais por mês durante dez anos, só pode apoiar a reforma da previdência por desinformação ou por estar inserido em grupo que será pouco afetado por ela. Ainda assim, isso seria um total descaso desses grupos quanto à maioria do povo, o que não é surpresa em se tratando de Brasil.

Quanto ao sigilo acerca dos “estudos” que embasam a reforma, ora, o raciocínio chega a ser simplista: se ela fosse boa para o povo, por que esconder dele, povo, os “cálculos” que a sustentam? Por que esconder do povo algo que fosse bom para ele? Se, de fato, ela fosse boa para a população, esses “estudos” tinham de ser, sim, divulgados, espalhados, explicados. Mas não: mais uma vez, o governo opta por atuar na surdina, nas sombras, longe das luzes da humanidade.

É preciso lembrar que não é a primeira vez que o atual governo tenta esconder dos cidadãos informações que são de direito dele, cidadão, conhecer. Já haviam tentado privar a população de dados essenciais, restringindo a lei de acesso à informação; agora, querem esconder do povo os “estudos” em que se baseiam para realizar a reforma da previdência. O que se tem é um governo que nega o óbvio (“o exército não matou ninguém”) e que decidiu esconder do povo dados que terão como consequência um país de velhos miseráveis, desvalidos e sem amparo, precisamente na fase da vida em que mais precisam de apoio. Como a reforma tem incentivo dos grandes empresários, será aprovada, com ou sem divulgação de “estudos” que a sustentam.