Nenhum escritor tem a obrigação de se engajar politicamente. O único dever de um escritor é escrever bem, por mais vaga que a expressão “escrever bem” possa soar. Há grandes escritores que não se envolveram com questões políticas. Já outros decidem se valer do que dominam — a palavra — para emitir opiniões politizadas.
Foi o que ocorreu recentemente com o genial Raduan Nassar. Na terça-feira, em São Paulo, durante cerimônia em que recebeu o Prêmio Camões de 2016, Nassar, em seu discurso, criticou não somente o golpe empreendido por Temer, mas também algumas das lambanças da gestão golpista.
Depois, em seu discurso, Roberto Freire, ministro da cultura, defendeu o governo de Temer, ao mesmo tempo em que criticou Raduan Nassar. Isso acabou gerando mal-estar durante o evento e protestos na plateia, que por sua vez foi criticada por Freire.
É um alento saber que Raduan Nassar, mesmo tendo abandonado a escrita literária, não se omitiu diante do cenário político do Brasil de hoje. Autor de uma literatura contundente, dono de uma escrita densa e elegante, Nassar deixou claro que suas palavras têm força também ao serem claramente políticas.
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