— Pai, quantas estrelas o Universo tem?
— Algumas.
— Algumas? Isso é muito?
— Hum, digamos que é um tanto bom.
— São todas essas que a gente vê daqui?
— São todas essas e mais todas as outras que a gente não vê.
— Nossa! Quer dizer que existem estrelas que a gente não vê?!
— Sim, existem.
— Mas das que a gente vê, são quantas?
— Um tanto bom.
— Um tanto bom é quanto?
— Não sei exatamente.
— Mas dá pra contar?
— Dá, mas ia demorar.
— Muito?
— Muito.
— E o número das que a gente não vê é maior do que o número das que a gente vê?
— Ué, meu filho, certamente que sim.
— Poxa! É muita estrela pra contar, não? Alguém conta?
— Creio que sim. Acho que os cientistas contam. Ou fazem estimativas.
— O que “estimativa”, pai?
— É quando não sabem com certeza um número, mas com base num pedaço do céu, supõem quantas estrelas existem nos outros pedaços. É por aí.
— Acho que entendi.
— Você gostaria de estudar as estrelas?
— Acho que sim.
— Então você pode ser um astrônomo.
— Mas seria possível visitar uma estrela?
— Não. Nesse caso você teria de ser um astronauta.
— Os astronautas visitam as estrelas?!...
— Bom, a rigor, não. Eles saem um pouco da Terra. Já tá bom, não?
— É, parece que sim.
— É melhor ser astrônomo ou astronauta?
— É melhor ser aquilo que você quiser ser.
— Mas eu não sei o que eu quero ser.
— Não se preocupe: eu também não sei.
— Sério?!
— Sério.
— Eu queria ser uma estrela. Se eu fosse uma estrela, você iria me visitar?
— Ora, você está aqui: não preciso ir tão longe. Você é minha estrela.
— As estrelas são apagadas um dia?
— Sim. Elas se apagam um dia.
— Mas você disse que sou sua estrela. Quer dizer que vou me apagar um dia?
— Hum... vai.
— Você também vai ser apagado?
— Vou.
— Quando?
— Não sei.
— E ser apagado é bom?
— Não sei.
— Hum... E quem sabe?
— Não sei de ninguém que saiba.
— Nem as estrelas?
— Nem as estrelas.