terça-feira, 1 de maio de 2018

Haicai 66

Manhã; aclamei.
Ao longe escutava-se
o Brian May. 

Por que não escuto Galvão Bueno

Nem Galvão Bueno nem a Globo precisam de minha audiência. Não sou um dos “milhões de uns”, na expressão de atual campanha publicitária da emissora. Isso não me impede de dizer que Galvão Bueno é o que há de pior no jeito de a Rede Globo fazer as coisas. Não bastasse a chatice imensa, ele encarna o que de mais podre há na emissora: a pauta acrítica, o puxa-saquismo, a patriotada do canal da família Marinho; bastam alguns segundos do Bem, Amigos!, atração comandada pelo locutor no Sportv, para que essas coisas sejam percebidas. Por isso mesmo, não assisto ao programa. A favor de si, Galvão Bueno tem a voz, que é excelente, mas tem contra si algo lamentável em quem está num meio de comunicação — a burrice. Ele é espertalhão, mas a esperteza por si não define em totalidade o que é ser inteligente.

Para piorar, julga-se carismático; quando tenta ser engraçado, presenciamos algo constrangedor. Ele, como porta-voz mor do que a Globo faz contra o futebol brasileiro, reveste sua atuação com uma pseudobrasilidade nada interessada no real crescimento do futebol praticado aqui. Ainda bem que há muitos anos tenho opções para não acompanhar as transmissões conduzidas por ele. A última partida ao vivo que conferi narrada por Galvão Bueno foi a final da Copa do Mundo de 1994. Tempos depois, eu conferiria, não ao vivo, a história contada por ele no jogo em que a Alemanha goleou o time da CBF por 7 a 1. No dia, não escutei o locutor, mas meses depois fiz questão de acompanhar a reação dele diante do fiasco da equipe da Confederação Brasileira de Futebol, fiasco do qual a emissora que ele nojentamente defende também tem culpa.

Galvão Bueno epitoma o que a Rede Globo tem de pior. Parte dos demais profissionais do canal, sem se mostrarem partidários interesseiramente ensandecidos da ca(u)sa, seguem a linha editorial ditada pelos chefes, conforme o que acompanho, principalmente, no Sportv. Mas seguir as diretrizes dos chefes não é o bastante para Galvão Bueno. Seja por ser descaradamente teatral seja por ser fervorosamente genuíno (ou as duas coisas), o locutor é a expressão mais literal e figuradamente escandalosa da superficialidade com que a Globo trata todas as coisas importantes. É espantoso o quanto ele incorpora a futilidade do canal. Galvão Bueno é um desserviço para a comunicação, para o futebol, para o Brasil. É o que há de mais pernicioso quando um empregado decide ser vassalo de seus chefes e de tudo o que fizeram e fazem contra o país. 

Um pedido que não será lido por Temer

Temer causou hoje mais uma patuscada para si. Exercendo sua hipocrisia, foi ao local onde está o que sobrou de um prédio que pegou fogo e que desabou em São Paulo. O presidente disse que estava lá para prestar solidariedade às vítimas. Vindo de quem só tem demonstrado não ter a menor solidariedade nem a menor sensibilidade quanto às necessidades dos pobres, isso soa como populismo sem falta de autocrítica e como hipocrisia. Xingado e hostilizado pela população, mal tendo chegado, foi embora do lugar a que, tivesse ele algum senso do ridículo, não deveria ter ido.

Não importa se a decisão de ir lá tenha sido de um assessor ou do presidente, ficou evidente mais uma vez que as “boas” intenções de Temer não são bem-vindas. A presença dele no local da queda do edifício revelou mais uma vez o quanto o presidente não tem carisma. Sempre que tenta guinada a fim de passar uma imagem de quem está ao lado do povo, malogra. É que não há como decidir ter carisma. Como a sensualidade, carisma é o tipo da coisa que se tem ou não se tem. Não há como agir ao modo de quem tem carisma, não há como fingir ser alguém com carisma; isso seria imitação tosca. Valer-se de mesóclise não torna ninguém carismático.

É comum políticos se valerem de tragédias para executarem tacadas populistas. Todavia, a figura pública de Temer e suas medidas políticas deixam evidentes que ele não está a favor de pessoas a quem ele disse que ofereceria solidariedade hoje, lá em São Paulo. Não fosse ele serviçal de corporações que querem sugar o Brasil, Temer, em atitude inteligente, deixar-nos-ia (valer-se de mesóclise não torna ninguém carismático) em paz. Mas não foi para isso que ele topou compor o golpe. Estou de acordo quanto à expulsão de Temer ocorrida hoje. Não precisamos da pseudossolidariedade dele. Mesmo sabendo que ele nunca me lerá, peço: deixe-nos em paz, Temer; esqueça-nos. Somos melhores sem você. 

Escuriluz

Existe a luz.
Existe a treva.
Da mistura do que há 
de claro 
e do que há 
de escuro
em nós,
surge aquilo
que somos:
penumbra. 

Fotopoema 415

Haicai 65

Não se trata de pátema.
Dependendo de quem vem,
é bem melhor o anátema. 

Vaivém

“Você está me seguindo”.
“Ou vice-versa”.

Na dúvida, 
vide verso. 

Em cores

Olho para o céu.
O azul está passando
em brancas nuvens. 

Fotopoema 414

Haicai 64

Tenho o agora.
O resto é pensamento 
fazendo hora. 

Curicaca

Locutora de futebol no Esporte Interativo

Eu me lembro de que quando a Mabel Cezar começou a fazer as chamadas da Globo, revezando esse trabalho com o genial Dirceu Rabelo, houve imbecis que criticaram a escolha do canal, por ele ter permitido a uma mulher que gravasse as chamadas da emissora. A reclamação desses caras é a cara do machismo à brasileira.

Desde quando a Fox anunciou que terá narradora(s) na Copa do Mundo, tenho aguardado para conferir o resultado. Até o dia de hoje, eu nunca havia escutado uma partida de futebol ser narrada por uma mulher. Só que há pouco mais de meia hora, o Edgar, meu irmão, entrou em contato comigo e disse para eu ligar a TV no Esporte Interativo 2.

Neste momento, há uma locutora narrando a partida entre Real Madrid e Bayern de Munique. O nome dela é Viviane (o comentarista Mauro Beting se refere a ela como Vivi). No sítio do canal, não consegui achar o sobrenome dela, se é que ela adotou algum para sua persona pública. Ainda na página da emissora, pode-se inferir que houve ou está havendo uma espécie de concurso para escolha de narradora(s).