Nem Galvão Bueno nem a Globo precisam de minha audiência. Não sou um dos “milhões de uns”, na expressão de atual campanha publicitária da emissora. Isso não me impede de dizer que Galvão Bueno é o que há de pior no jeito de a Rede Globo fazer as coisas. Não bastasse a chatice imensa, ele encarna o que de mais podre há na emissora: a pauta acrítica, o puxa-saquismo, a patriotada do canal da família Marinho; bastam alguns segundos do Bem, Amigos!, atração comandada pelo locutor no Sportv, para que essas coisas sejam percebidas. Por isso mesmo, não assisto ao programa. A favor de si, Galvão Bueno tem a voz, que é excelente, mas tem contra si algo lamentável em quem está num meio de comunicação — a burrice. Ele é espertalhão, mas a esperteza por si não define em totalidade o que é ser inteligente.
Para piorar, julga-se carismático; quando tenta ser engraçado, presenciamos algo constrangedor. Ele, como porta-voz mor do que a Globo faz contra o futebol brasileiro, reveste sua atuação com uma pseudobrasilidade nada interessada no real crescimento do futebol praticado aqui. Ainda bem que há muitos anos tenho opções para não acompanhar as transmissões conduzidas por ele. A última partida ao vivo que conferi narrada por Galvão Bueno foi a final da Copa do Mundo de 1994. Tempos depois, eu conferiria, não ao vivo, a história contada por ele no jogo em que a Alemanha goleou o time da CBF por 7 a 1. No dia, não escutei o locutor, mas meses depois fiz questão de acompanhar a reação dele diante do fiasco da equipe da Confederação Brasileira de Futebol, fiasco do qual a emissora que ele nojentamente defende também tem culpa.
Galvão Bueno epitoma o que a Rede Globo tem de pior. Parte dos demais profissionais do canal, sem se mostrarem partidários interesseiramente ensandecidos da ca(u)sa, seguem a linha editorial ditada pelos chefes, conforme o que acompanho, principalmente, no Sportv. Mas seguir as diretrizes dos chefes não é o bastante para Galvão Bueno. Seja por ser descaradamente teatral seja por ser fervorosamente genuíno (ou as duas coisas), o locutor é a expressão mais literal e figuradamente escandalosa da superficialidade com que a Globo trata todas as coisas importantes. É espantoso o quanto ele incorpora a futilidade do canal. Galvão Bueno é um desserviço para a comunicação, para o futebol, para o Brasil. É o que há de mais pernicioso quando um empregado decide ser vassalo de seus chefes e de tudo o que fizeram e fazem contra o país.