Em carta com a data de primeiro de maio de 1500, Pero Vaz de Caminha dá notícia ao rei de Portugal sobre o achamento (palavra essa usada por Caminha) de um novo lugar, a Ilha de Vera Cruz.
A carta deixa claras algumas das intenções dos portugueses quando chegaram por aqui. Por ora, não as comento. Quero é transcrever trechos nos quais Caminha destaca o escambo que estava ocorrendo entre os portugueses e os índios, com o escrivão mencionando a ingenuidade dos nativos daqui, seduzidos por bugigangas.
Escreve Caminha num trecho da famosa carta: “Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar”. Outro trecho: “Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer coisa”. Um último: “Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças e por qualquer coisa que lhes davam”.
Deixando para trás o ano de 1500, voltemos para 2014. O motivo de eu ter citado no parágrafo anterior os trechos da carta do Caminha se deve a uma matéria que li recentemente na edição deste mês de março do Le Monde Diplomatique Brasil.
O título da matéria já elucida: “A Chevron polui, mas não quer pagar suas multas no Equador”. No texto, Hernando Calvo Ospina explica como um gigante do petróleo, a Texaco, depois comprada pela Chevron, destruiu vidas humanas e poluiu o ambiente no Equador.
Quinhentos e treze anos depois da carta de Caminha, leio no texto de Ospina, que cita Jimmy Herrera, interlocutor entre os indígenas do Equador e o atual governo: “As comunidades indígenas foram as mais afetadas, pois a Texaco alterou sua existência a ponto de algumas desparecerem. (...) A petroleira solucionava os inconvenientes dando ‘espelhinhos’ de presente aos índios (...), ou ameaçando com a repressão do Exército”.