Deve ser muito difícil escrever ou falar na obrigação de causar polêmica ou na de vender muito. Causar polêmica é fácil, mas fico pensando em quantos espíritos muito capazes têm de usar seu talento em textos escritos com o único propósito de causar impacto midiático ou com o único propósito de soar polêmico ou, o que é pior, de soar verdadeiro quando não passa de engodo.
Mesmo o público que supõe consumir informação densa ou que a ela tem acesso está acostumado a se guiar pela falta de análise e de profundidade. Para esse público, Boechat morreu porque criticou Malafaia, um texto de meia página é chamado de textão. Esse público, precisamente por ser superficial, vende-se ou rende-se ao “jornalismo” de grupos de WhatsApp, incentiva o “debate” com memes de gosto duvidoso e de teor mentiroso, preconceituoso; é um público que não produz ideias, que não consome ideias. A fim de faturar e de agradar a esse grupo superficial, além, é claro, de manter o cabresto nesses superficiais leitores, espectadores e ouvintes, grande parte da chamada grande mídia não faz jornalismo. O que essa grande parte da mídia tem feito é tão superficial quanto o público que a alimenta e por ela é alimentado, numa danosa, perigosa e acomodada via de mão dupla.
De um lado, o jornalismo não se aprofunda por querer um mau leitor; do outro, o leitor nada exigente continua acessando a grande mídia porque o que ela oferece é palatável, embora esquálido e, não raro, mentiroso. Aquele que quiser uma análise sem os vícios da preguiça e da falta de profissionalismo tem de fugir de veículos consagrados (Veja, Estadão, Globo, Jovem Pan...), os quais iludem muitos consumidores, que acreditam no arremedo de jornalismo dessas e de outras grandes corporações.
Para o ouvinte, o espectador ou o leitor exigente e que não seja bobo, uma alternativa é o jornalismo independente, não vinculado às grandes corporações; outra é o jornalismo do exterior ou o jornalismo de algumas empresas estrangeiras que atuam no país (The Intercept, Le Monde Diplomatique Brasil...).
Inteligências com muito a contribuir nas redações vão sendo banidas das grandes empresas, que passam a dar espaço a subservientes e a pessoas sem lastro como um Kim Kataguiri. São poucos os que sabem escrever, que sabem pensar, que sabem analisar e que não têm preconceitos a ter espaço nas megacorporações midiáticas nacionais. Elas preferem um papagaio puxa-saco a um profissional questionador. Num espaço assim, as grandes inteligências, caso não consigam outro ambiente para trabalhar, não florescem. Pelo menos, não para o leitor, o espectador ou o ouvinte.