sexta-feira, 21 de março de 2014

AGORA, AQUI

Nunca me instigaram 
nem o de-onde-vim 
nem o para-onde-vou. 
O que me aguça são 
o insondável agora,
o intrigante aqui. 

APONTAMENTO 196

Aquela coisa de “assim ficaria melhor”, “eu teria usado a palavra ‘espera’ em vez de “esperança”... Nunca fui leitor de consertar escritos alheios. Mas eles consertam quem sou. 

FOTOPOEMA 348


Tanto a foto quanto o poema são antigos; decidi juntá-los. 

TORRENTE

Decidiu ele que não 
choraria as mágoas. 
Acabou se afogando 
na enchente de si mesmo. 

MATERIAL

Manejar palavra como quem maneja corpo de mulher.
Manejar corpo de mulher como quem maneja verbo.
Manejar verbo como quem leva corpo de mulher ao êxtase.
Palavra é para fazer vibrar o corpo.
Corpo é para se tornar poesia. 

CANÇÃO

Haverá algo mais belo do que “Lambada de serpente”?
Eu acho isso agora.
Isso é coisa de momento.
E daí? 
O amor é coisa de momento.
O amor é momento que se quer a todo momento.
Eu escuto “Lambada de serpente” há horas, sem parar.
Eu compreendo o momento.
Compreendo sem querer compreender, sem querer pensar.
Sou apenas um coração fraco que não sabe o que faz com tanta beleza por [todo lado.
Eu escuto a canção e me entendo, sem ter me esforçado para isso.
Ainda bem que existem canções.
Eu as escuto, eu me permito e aceito o que sou.
Eu sou agora a consequência de quem escuta uma canção.
É só um momento.
Mas como sou grato ao Djavan por tê-lo inventado. 

CRUZEIRO 2 x 2 DEFENSOR

Cada um usa as armas que tem. Assim é na vida. Assim é no futebol, que é a vida se movimentando num gramado. Fôssemos analisar o futebol em si, o Cruzeiro é melhor do que o Defensor. Este, no primeiro tempo, teve a catimba como arma.

A estratégia funcionou. Embora o placar da primeira etapa tenha sido de um a zero para o Cruzeiro, o time caiu na armadilha do Defensor, tendo a equipe belo-horizontina se tornado uma pilha nervosa ainda no primeiro tempo.

Ambas as equipes tiveram um jogador expulso antes do intervalo. Curiosamente, o jogo feio da primeira metade do jogo não voltou para a segunda. Num clima de mais futebol e de menos astúcia por parte do Defensor, o Cruzeiro fez dois a zero. Esse placar asseguraria à Raposa o segundo lugar no grupo.

Parecia haver algo de artificial na calma do Cruzeiro. Tocando a bola de lado e recuando demais, a equipe mineira exercia um domínio aparente. A ânsia do primeiro tempo não havia ido embora; ela somente estava sendo camuflada. No fim do jogo, o Defensor empataria.

A fim de prosseguir no torneio o Cruzeiro precisar vencer os dois jogos que restam. Todavia, ainda que isso ocorra, o time vai depender de resultados alheios, o que deixa a classificação muito incerta. Fica no torcedor uma temerosa esperança.