Ramón (Kristyan Ferrer) é um jovem mexicano que já tentara atravessar a fronteira do México para os EUA por quatro vezes; falha na quinta. É quando um amigo menciona uma tia que mora na Alemanha, para onde Ramón vai. Tendo chegado, não consegue contato com a tia do amigo. Sem dinheiro, só com a roupa do corpo e sem falar nada de alemão, Ramón está perdido numa cidade do interior da Alemanha, passando frio e fome. A partir desse quadro, o diretor e roteirista de “Bom dia, Ramón (Guten Tag, Ramón, 2013), Jorge Ramírez-Suárez, constrói uma história delicada e poética, temperada com um humor simples e cativante.
A vida de Ramón começa a melhorar quando ele tem contato com Ruth (Ingeborg Schöner), mulher gentil e solitária (ela tem como companhia somente os vizinhos do lugar em que vive) que se oferece para ajudá-lo, proporcionando a ele a possibilidade de ganhar algum dinheiro e dando a ele abrigo no porão do apartamento em que ela vive. Em pouco tempo, Ruth apresenta Ramón aos demais moradores do prédio, que abriga velhos solitários.
Devido a seus bons modos e a ser muito solícito, o jovem mexicano vai se tornando amigo dos moradores do prédio; a exceção é Schneider (Karl Friedrich), que acaba denunciando a situação ilegal de Ramón na Alemanha. A solução para o imbróglio pode não convencer, mas isso não estraga o filme, que é permeado de ternura.
Um dos pontos altos é quando Ruth convida Ramón para jantar na casa dela. Ele nada domina do alemão nem ela domina nada do espanhol. Ainda assim, os dois mantêm um “diálogo”. Ela diz a ele o que foi o passado dela; ele diz a ela a saga por que passou até estar junto a ela. Mesmo sem que nenhum entenda nada do que o outro esteja falando, estabelece-se uma curiosa sintonia entre os dois. É uma cena bonita.
“Bom dia, Ramón”, em sua simplicidade, é retrato do que pode haver quando se está disposto a saber quem é o outro. Ruth e Ramón pertencem a culturas bem diferentes uma da outra; ele é jovem, ela é velha. A despeito disso, a película destaca o que a ausência de preconceitos pode gerar no encontro com o outro. Nesse sentido, paira em “Bom dia, Ramón” um inspirador tom whitmaniano. Em tempos tão migratórios, mas, ao mesmo tempo, tão intolerantes e preconceituosos, o filme, em vez de denunciar as mazelas que o preconceito cria, evidencia a beleza da alteridade, do reconhecimento do outro e do respeito por ele.