domingo, 9 de janeiro de 2022

Apontamentos dominicais pós-terceira dose da vacina contra covid

1.
Vacinas não são garantia absoluta. Pouca coisa na medicina tem garantia absoluta. A extirpação de um câncer não quer dizer que ele jamais voltará; um remédio contra a gripe não dá a certeza de que a gripe cederá. Vacinas são armadura para o corpo. A armadura não assegura àquele que a usa sair vivo do combate, mas é melhor combater dentro de uma. 

2.
No Brasil, o segundo semestre do ano passado teve queda no número de mortes por covid. A razão disso é a vacina. Tivesse o país um governo que não sabotasse a vacinação, o fim do ano teria sido auspicioso. Dados internacionais divulgados no fim de 2021 revelaram que 95% dos internados por covid eram não vacinados. 

3.
Teorias da conspiração são coisas de quem fala, dentre outros assuntos, de ameaça comunista sem sequer ter uma ideia do que foi o comunismo ou do que tenha sido ou do é um regime político, não importa qual. Não bastasse a falácia ou o desvario da apregoada, há décadas, ameaça comunista, o teórico da conspiração não se dá conta de que insumos chineses estão presentes em dezenas de remédios. No mundo tal como configurado hoje, é difícil ingerir ou consumir algo que não venha da China. Mas, então, um apoucado presidente arrota descalabros que acham guarida em quem já tem, há muito tempo, na corrente sanguínea, substâncias fabricadas na China. 

4.
Apesar do presidente que o Brasil tem, um presidente que, a princípio, indicou remédios ineficazes contra a covid e que faz de tudo para sabotar a vacina, tomei a terceira dose. No contexto brasileiro, isso é uma gigantesca vitória da ciência e do atendimento público, tudo o que Bolsonaro tem destruído. 

5.
Nos três momentos em que eu estava saindo dos locais de vacinação, senti um vigor que não era corporal, mas anímico. É claro que imunidade implica vigor físico; todavia, o vigor que comento agora diz respeito ao estado de ânimo com que saí do local de vacinação depois de cada uma das três doses da vacina. Além da questão política, pois cada dose da vacina que é aplicada em cada cidadão é uma vitória contra Bolsonaro, há a questão de eu sair mais preparado para a vida. Não iludido com inexistentes garantias absolutas, mas esperançoso.

6.
Eu não quero passar para o outro nada que possa ser fatal para ele. O Artur da Távola, pródigo em neologismos, criou o vocábulo “eutro”, junção de “eu” e de “outro”. O Kiss, em “We are one”, canta “you are me, I am you”. O outro é a minha comunidade. Se o outro está bem, a possibilidade de eu ficar bem aumenta. Se eu estou mal, a possibilidade de o outro estar mal aumenta. Viver é interagir. Se eu estiver gripado, não vou sair por aí espirrando na cara do outro. Se eu não tenho covid, não vou passar para o outro algo que pode ser fatal para o que ele é. Se o outro não tem covid, não vai passar para mim algo que pode ser fatal para o que sou. O mínimo que devo fazer em nome do senso de comunidade ou de coletividade é me vacinar. 

7.
Acredito mesmo que mais cedo ou mais tarde a humanidade vai sucumbir, seja diante de um vírus, de uma praga, de uma catástrofe natural, de uma guerra. Só que isso não é pretexto para que nada façamos na intenção de seguirmos vivos. É preciso teimar a favor da vida, não a favor de um babaca presidente que já se declarou a favor da tortura, da morte. Não há na história um governante insano que tenha promovido a vida. Todos os governos insanos levaram a tragédias, a mortes, a guerras, a fomes, a pobrezas. A insanidade não gosta da vida.

8.
Minha manhã de domingo começou com uma vitória contra a ignorância, uma vitória daquilo que o espírito humano pode ter de nobre, elevado. Qualquer nobreza ou elevação é uma vitória contra o bolsonarismo.