João Batista escutara num bar que o som de todas as palavras que pronunciamos viaja pelo Universo afora, podendo, assim, ser captado em alguma galáxia por aí. Ele ficou terrificado. Num esboço de razão, cogitou pesquisar a cientificidade do postulado. Tal sensatez, contudo, foi só uma pálida vontade. Já saindo do bar, João sentia profunda vergonha ao imaginar que as coisas ditas por ele ao longo de sua existência poderiam ser escutadas por alguma criatura em algum rincão do Universo. Peremptório, viveu o resto de seus cinco mil oitocentos e quarenta e quatro dias sem pronunciar uma palavra.