quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A eleição de Trump e a mídia

Nos EUA, um dos líderes da Ku Klux Klan escreveu, após declarada a vitória de Trump: “This is one of the most exciting nights of my life”. Naftali Bennett, ministro da educação de Israel e importante figura de coalizão do país na questão com a Palestina, disse que a eleição de Trump é uma oportunidade de Israel se retrair quanto à noção de um Estado palestino. Texto de David Remnick, publicado na revista The New Yorker, afirma que a vitória de Trump é uma tragédia para a Constituição deles e um triunfo do autoritarismo, da misoginia e do racismo. O texto de Remnick aponta que o problema de Trump é o outro, que pode ser afro-americano, hispânico, mulher, judeu ou muçulmano.

Muitos ainda têm se perguntado como alguém tão obtuso obteve tantos votos. A questão é que ele foi eleito precisamente por ser xenófobo, machista, petulante, inconsequente, vulgar e dado a bravatas. Muitos eleitores disseram ter votado em Trump por ele não ser um político “típico”, e, por isso, estaria apto a livrar a política dos que fizeram com que ela se tornasse o que é hoje. Tais eleitores são ingênuos; contudo, Trump foi eleito em função dos preconceitos que ele já demonstrou ter, não em função de eliminar da política os maus políticos (como se isso fosse possível).

Ignacio Ramonet, num brilhante texto publicado no desinformemonos.org, escreveu sobre Trump: “Apela a los instintos, a las tripas, no a lo cerebral, ni a la razón. Habla para esa parte del pueblo estadounidense entre la cual ha empezado a cundir el desánimo y el descontento. Se dirige a la gente que está cansada de la vieja política, de la ‘casta’. Y promete inyectar honestidad en el sistema; renovar nombres, rostros y actitudes”.

Se parte do eleitor de Trump está cansado da “velha” política, não nos esqueçamos jamais de que uma grande quantidade dos votos que ele obteve foi dada por quem está interessado não em banir essa “velha” política, mas em intensificar antigos preconceitos. Em janeiro deste ano, Trump declarou: “Eu poderia ficar no meio da Quinta Avenida e dar um tiro em alguém e eu não perderia nenhum eleitor”. Ele conhece muito bem o perfil de parte dos que votaram nele.

Nos EUA, diferentemente do que ocorre por aqui, boa parcela dos grandes meios de comunicação deixa claro para o eleitorado que candidato estão apoiando. Tomar partido é uma coisa; ser tendencioso é outra. O tendencioso amplifica os defeitos do que se opõe a ele, escondendo as qualidades que essa oposição possa ter, ao mesmo tempo em que esconde os defeitos daquilo que defende, amplificando as qualidades das ideias por que luta. Nessa estratégia, o tendencioso, não raro, mente, seja quanto àquilo que defende seja quanto ao que ataca. Tomar partido é deixar claro, com honestidade, com discernimento e com discurso civilizado o que se pensa, o que é defendido, não somente no terreno político.

No Brasil, os poderosos meios de comunicação são tendenciosos; nos EUA, nesta eleição, como nunca, a mídia tomou partido, o que acabou fazendo com que houvesse rusgas entre Trump e ela. Na cobertura da campanha política, The Washington Post, Politico e Huffington Post tiveram suas credenciais retiradas pelo magnata, segundo informa Ignacio Ramonet. Ainda segundo Ramonet, até a Fox, pró-Trump, foi atacada por ele. A mídia dos EUA não pode ser acusada de ter orquestrado em uníssono a eleição do preconceituoso e arrogante Donald Trump. 

Fotopoema 399

A história por trás da foto (96)

Nesta foto, tirada hoje pela manhã, reflexo da janela da cozinha aqui de casa sobre água que estava numa pequena xícara de café. 

Pétalas

Se gostasses 
de flores, 
dar-te-ia
um buquê.
Já que 
não gostas,
oferto-te
versos.
Se te tocarem, 
terão florescido.