quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, BILL CLINTON, FIDEL CASTRO

Quando Fidel Castro e Bill Clinton ocupavam o poder, Gabriel García Márquez, que era amigo de ambos, disse que a situação entre EUA e Cuba poderia ser melhorada caso os dois comandantes se encontrassem pessoalmente. Não tenho notícia se tal conversa efetivamente ocorreu. À parte isso, García Márquez declarou que os dois entender-se-iam caso conversassem face a face.

A convivência do escritor colombiano com poderosos (em especial com Fidel) era comumente criticada. Havia quem sugerisse que Márquez, nascido em Aracataca, pequena cidade na Colômbia, era apenas um adulto deslumbrado com o poder. Fascinado ou não pelo poder, o escritor atuou informalmente como uma espécie de diplomata, não somente na relação entre EUA e Cuba.

García Márquez não viveu para testemunhar o anúncio de Obama, feito nesta semana. Bill Clinton, em entrevista concedida dias após a morte do escritor, disse que Márquez lhe pedira, enquanto Clinton era presidente, que o embargo a Cuba tivesse fim. Em entrevista, o ex-presidente americano declarou que acreditava desfazer o bloqueio contra Cuba em seu segundo mandato. 

CRONOLOGIA DE UM ÊXTASE

Gosto de músicas e de canções com crescendos. Neste instante, o exemplo que me ocorre é “Talking out of turn”, da banda The Moody Blues. Refiro-me a crescendos a título de pretexto para falar mais uma vez de “Breakthrough”, do Tony Anderson, sobre quem escrevi em postagem de ontem.

Por natureza, trilhas sonoras criam um clima, uma atmosfera. Ainda assim, podem ser escutadas à parte, descontextualizadas dos filmes ou dos documentários para os quais são produzidas. Não conheço “Finding home”, o documentário para o qual “Breakthrough” foi composta; mesmo assim, tenho escutado, sem parar, a música.

Ela começa com um teclado sutil; aos dezessete segundos, vem a primeira nota de um piano (ou de um outro teclado). O teclado inicial continua fazendo o fundo, já dando um certo corpo ao clima. Aos cinquenta e cinco segundos temos o primeiro vocal (masculino). Com um minuto e catorze, um violão se junta ao arranjo; com um e trinta e quatro, vozes (femininas).

Com dois minutos e doze segundos, a bateria chega com peso; ao mesmo tempo, os violoncelos. Aos dois e vinte, o primeiro ataque do baterista. A essa altura, o som já é robusto, tem peso. O crescendo vai se aproximando do auge, que, aos dois e cinquenta, já pulsa forte nas veias. É quando corpo e mente se entregam numa explosão de prazer.

Alucinados e plenos de energia, usufruem dele; saciados, gozam do tempo que resta para que a música termine. Aos três e quarenta e oito, tem início o diminuendo. Corpo e mente descansam, pois não suportariam se o astral durasse demais. Quatro minutos e cinquenta e dois segundos depois, o êxtase está consumado. 

APONTAMENTO 227

De vez em quando, sinto uma saudade desgraçada de muitas coisas e de muitas gentes e de muitos lugares. Em ocasiões assim, tenho saudade de tudo e de todos. Vontade de jamais me despedir nem de nada nem de ninguém. Dezembros me trazem essas saudades. São tantas e tão fortes, que até me esqueço de que janeiro está à porta. Volto-me para mim, volto-me para o passado. A saudade vai se ampliando, até o ponto em que tudo o que sou é uma saudade movente.