quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"O PODER DOS QUIETOS"

Graças à minha aluna Maria Luiza Martins Quartel, pude ler o belo “O poder dos quietos” [Quiet: the power of introverts], de Susan Cain. A tradução é de Ana Carolina Bento Ribeiro; o livro foi publicado pela editora Agir.

De imediato, duas coisas me atraíram para a leitura: a primeira, o que está escrito na capa: “Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar”; a segunda, um trechinho da epígrafe: [O planeta] “precisa daqueles que podem capturar a impressão passageira de flores de cerejeira em um poema de catorze sílabas ou dedicar 25 páginas à descrição dos sentimentos de um garotinho deitado na cama no escuro esperando o beijo de boa-noite da mãe...”.

Isso já era o bastante para que eu lesse o livro, que me foi emprestado pela Maria Luiza. E como valeu a pena... A ideia básica é a de que o mundo está muito impositivo, forçando as pessoas a adotarem o modelo extrovertido como excelência do que é correto quando se trata de comportamento.

Contudo, a obra de Cain traz dois pilares: o primeiro, o de que o mundo não teria os progressos que tem se não fosse a ação dos introvertidos; o segundo, o de que os introvertidos não precisam mudar quem são para darem sua rica contribuição.

Cain, num texto elegante e (por isso mesmo) incisivo, critica os males e as agressões de uma hiperextroversão que é invasora e... intimidadora. Um mundo em que o que é preciso não é ser bom, mas... parecer ser bom. Nesse universo feito de pura extroversão, vence quem está sempre sorrindo, falando mais alto e se promovendo o tempo todo.

Embora essencialmente escrito para o público norte-americano, “O poder dos quietos” relata o que tem acontecido aqui também, em que as escolas, as universidades particulares, as relações interpessoais e o mundo corporativo estão impregnados e contaminados pelo modelo da extroversão.

Justamente ao insistir nesse modelo — impondo-o —, é que a sociedade deixa de ter acesso às ricas contribuições que podem estar naqueles que não elevam o tom de voz, que não ficam distribuindo sorrisos de comerciais de pasta dental e que preferem trabalhar sozinhos.

Não se trata de um livro contra falastrões, mas a autora não poupa os poderosos extrovertidos que, na opinião dela, causaram a quebra financeira global. Está no livro: “Eles [os empresários] contratam alguém que não sabe nada de negócios, mas que pode fazer uma boa apresentação”...

Se alguém não leva jeito para falar em público, se prefere trabalhar isoladamente, se não gosta de badalações ou se prefere conversas intimistas ao vozeiro da multidão, essa pessoa é descartada, sem que muitas das vezes tenha a chance de revelar a contribuição que poderia dar.

Didática, Cain dá dicas de como donos de empresas, professores, pais e cônjuges podem se beneficiar da convivência com introvertidos. Se o leitor for um introvertido, há dicas de como ele pode conseguir o máximo de si a partir do que ele é.

Esse é um dos grandes ensinamentos do livro: não precisamos deixar de ser quem somos, mesmo com toda a pressão que há para que adiramos ao modelo de extroversão. Isso não implica comodismo, não significa ser inflexível. Significa, sim, que a essência do que somos dever ser respeitada, sem ser vista como “aleijão” ou defeito.

O mundo fala muito. Eleva-se o tom, fala-se demais e pouco se aproveita. Não creio que “O poder dos quietos” possa ser indício de uma mudança na percepção das pessoas. Mas, deixando isso de lado, leia o livro. A introversão também pode ser forte.