terça-feira, 25 de abril de 2017

Não me pediram para ler

Lendo o saboroso “Nonrequired reading”, da poeta Wisława Szymborska (1923-2012), que era polonesa. Não há edição do livro em português; a versão em inglês ficou por conta de Clare Cavanagh. 

Em “Nonrequired reading”, a autora escreve sobre livros que não estiveram em listas dos mais vendidos, obras que não pertencem à literatura de imaginação. Assim, há resenhas sobre livro de como consertar coisas em casa, sobre aves e pássaros da Polônia, sobre cães, sobre dois arqueólogos dos EUA...

O mais curioso nas breves resenhas que Szymborska escreve é que ela quase não fala dos livros que está, em teoria, resenhando. Em vez de falar sobre ela, a obra, a poeta embarca em saborosas, leves e bem-humoradas divagações. Sem cabotinice, acaba revelando mais de si do que dos trabalhos que (não) comenta. 

A sagacidade e o talento para enxergar questões triviais a partir de um ângulo inusitado estão presentes nos textos de “Nonrequired reading”. Também neles a sofisticada simplicidade pela qual Szymborska se tornou conhecida.

Sou um entusiasta da autora; em conversas com amigos, eu a menciono com frequência, já escrevi alguns textos sobre a obra dela. É uma pessoa que eu queria ter conhecido pessoalmente. Eu tentaria ser amigo dela. Ela me deixa com a impressão de que eu me sentiria à vontade para propor a ela a gente tomar uns chopes e jogar conversa fora. 

Adentro

Abre.
Vou entrar com vontade.
Enquanto eu estiver descobrindo
delícias não imaginadas,
que eu te faça conhecer
prazeres não concebidos. 

Fotopoema 404