quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

PARA CARLOS

João atira pérolas aos porcos sabendo serem pérolas.
Teresa atira pérolas aos porcos supondo serem pedras.
Raimundo atira pedras aos porcos supondo serem pérolas.
Maria atira pedras aos porcos sabendo serem pedras.

Joaquim se matou por não ter conseguido transformar pedras em pérolas.
Lili e J. Pinto Fernandes criam porcos. 

TITO E O PNEU

DIÁLOGO POP

— Cara, você sabia que o vocalista do Wallflowers é filho do Bob Dylan?
— E o que você quer dizer com isso?
— Eu quero dizer com isso que o Bob Dylan é pai do Jakob Dylan. 

EMPREENDER COM EMOÇÃO

Houve uma época em que a expressão “inteligência emocional” se espalhou mais do que o mosquito da dengue, num tempo em que este não se espalhava tanto como hoje. A tal da inteligência emocional foi um modismo. Não que o conceito estivesse errado (há séculos, sabe-se que a inteligência abarca mais do que habilidades com números), mas era apenas uma expressão marqueteira para se referir a ideias antigas, que há séculos habitam, por exemplo, o mundo da literatura. O engodo reluziu: a inteligência emocional vendeu livros, invadiu as escolas. A estratégia de dar nomes novos para coisas velhas passa, para os desavisados, a ideia de que estão antenados com o que há de mais ousado e inédito, quando estão, na verdade, revisitando (mal) velhos terrenos. Isso deu lucro.

Hoje em dia, a palavra da moda é “empreendedorismo”, que tem se espalhado mais do que o mosquito da dengue, num tempo em que este se espalha muito. O tal do empreendedorismo é um modismo. Não que o conceito esteja errado (há séculos, sabe-se que é preciso criar o novo e ter conhecimento), mas é apenas um termo marqueteiro para se referir a ideias antigas, que há séculos habitam, por exemplo, o mundo dos negócios. O engodo reluz: o empreendedorismo vende livros, invade as escolas. A estratégia de dar nomes novos para coisas velhas passa, para os desavisados, a ideia de que estão antenados com o que há de mais ousado e inédito, quando estão, na verdade, revisitando (mal) velhos terrenos. Isso dá lucro. 

APONTAMENTO 308

Amor calado faz barulho em quem o cala. 

LEITURA MÉDICA

Ontem, li uma entrevista com Kate Edgar, que trabalhou com Oliver Sacks, o qual já mencionei em alguns textos meus. Sempre que falo de Sacks, chamo a atenção para o seguinte: ele tratava seus pacientes como... gente. É o que tem faltado para muitos médicos. Eles parecem se esquecer de que diante deles há, “simplesmente”, outra pessoa.

Mas o parágrafo anterior é para dizer que o Jung, numa frase, resume o que deveria ser a postura médica: “Não é o diploma médico, mas a qualidade humana, o decisivo”. A impressão que muitos médicos têm deixado é a de que negligenciam os pacientes. Será que a leitura de profissionais como Sacks e Jung poderia sensibilizá-los? Minha premissa é ao mesmo tempo uma esperança — a de que o interesse por humanistas pudesse levá-los à qualidade humana a que se refere Jung.