domingo, 7 de fevereiro de 2016

Geografia

Não raro, os lugares valem não por eles em si, mas por quem lá está. 

Os ressentidos

Aquele que realiza um trabalho tem uma concepção do que seja sucesso. Naturalmente, essa concepção varia de pessoa para pessoa. O que é feio não é essa concepção em si, seja ela qual for; o que é feio é quando o indivíduo se entrega ao ressentimento quando tal concepção não se realiza, levando a pessoa a atirar contra aqueles que chegaram ao sucesso (pelo menos ao sucesso tal qual concebido pelo ressentido).

Com as redes sociais, é comum ter-se a possibilidade de ler textos de artistas voltando-se contra seus pares, afirmando que estes não merecem o sucesso que alcançaram, sob a alegação de que o trabalho é ruim. Nesse caso, o acusador está a sugerir: “Meu trabalho é muito melhor do que o seu. Eu, sim, deveria ter o sucesso que você tem”.

Em muitos casos, falta ao ressentido a noção de que muita coisa faz sucesso exatamente por ser ruim. O critério de qualidade não deveria jamais ser quantitativo. O fato de milhões de pessoas consumirem um trabalho não é a prova cabal de que esse trabalho contenha excelência; o fato de apenas alguns consumirem um trabalho não é prova cabal de que esse trabalho seja ruim.

Outra noção que o ressentido precisa cultivar é a de que não há como precisar os mecanismos que levam alguém ao sucesso. Se há regras para isso, nós as desconhecemos em sua totalidade (já escrevi sobre isso). Sucesso ou fracasso têm elementos demais os circundando. É impossível apontar com minúcia o que levou a um ou a outro.

A questão é que o ressentido atribui seu fracasso à ignorância da turba. Nesse fio condutor, quanto maior o ressentimento, maior é a ignorância dos que não tomaram conhecimento do que o ressentido produziu. Em vez de achar força nos poucos que porventura tenham consumido seu trabalho, o ressentido volta seus ataques contra quem não quis conhecê-lo. Isso é embaraçoso, pois o ressentimento, quanto mais raivoso, mais ridículo. 

Pink folia

Ontem, no vizinho, folia de reis, manifestação popular que eu não escutava há um tempão. À medida que o som da folia ia se afastando, vindo de outro vizinho, veio surgindo “Us and them”, do Pink Floyd. A folia e o Pink Floyd: dois regozijos.