segunda-feira, 20 de abril de 2009

LUZIA

Luzia é procurada indiscriminadamente por todo tipo de homens. Há rico que chega em portentosos carros importados. Há pobre que longe caminha para ir ter com ela. Há casados que já largaram as esposas, foram à bancarrota. Há solteiros que vivem pedindo Luzia em casamento. Há gênios, há tolos...

Todos. Todos saem transidos de prazer e de loucura quando sentem na retesada e arrepiada pele o que Luzia sabe fazer. Saem sentindo no corpo a leveza do amor perfeitamente consumado e a certeza de que nunca mais poderão viver em paz se não tiverem novamente o dom com que Luzia os ensandece.

Luzia tem dinheiro. Cobra caro de quem pode pagar muito; cobra quase nada de quem não pode. Vive sem ostentação. Quando sai, não é daquelas que chamam a atenção. Não tem filhos, nunca foi casada. Com naturalidade, passa a ser a dona daqueles que recebem o que ela perfeitamente executa.

Não é a beleza de Luzia que deixa insanos aqueles que a procuram. Onde terá Luzia aprendido a arte que tem? O que a faz ser o que ela é? Será que alguém ensinou para ela a percorrer com assombrosa perfeição o corpo de quantos a procurarem?

Os dentes, a língua, os lábios, a saliva... Luzia faz com que todos os homens dela se tornem escravos sem que para eles entregue seu sexo – ela lhes entrega sua boca. Depois disso, nenhum homem jamais é o mesmo. Tornam-se servos, escravos, súditos, dependentes. Os que voltam para as parceiras depois de terem passado por Luzia passam a conviver com o fardo que é estar com uma mulher querendo outra.

Luzia, com seu feitiço oral e seus truques úmidos. As cavernas, os mundos antigos e animalescos em que os homens mergulham quando ávida e sofregamente procuram por ela. Eles a procuram em busca de possível felicidade terrena, ainda que fugaz, ainda que utópica, ainda que cara, ainda que louca. Eles a procuram porque são bichos, mas também porque sentem na carne o que é uma alma feliz e toda plena de prazer e gozo. Luzia, com suas idas e vindas, com sua gula, sua lascívia e seu profissionalismo. Luzia, que revigora os homens. Luzia, onde os homens querem ficar até que a vida os deixe, num epífano grito de prazer.