Que tecnicamente o Emílio Surita é um baita locutor, até as
tarântulas sabem. Acompanhei a carreira dele até à primeira metade da década de
noventa. Depois disso, talvez por já estar ficando velho, fui perdendo o
interesse em escutar a Jovem Pan FM, uma rádio voltada em essência para o
público adolescente.
Ontem, após assistir a um vídeo, fiquei surpreso com a
consciência político-social do Emílio Surita. Ao entrevistar a Rachel
Sheherazade, que trabalha para a Jovem Pan e para o SBT, Surita revelou uma
sensatez que eu desconhecia. Não que eu o julgasse destemperado: é que
simplesmente eu não tinha conhecimento do que ele pensa sobre questões como,
por exemplo, a redução da maioridade penal.
É sempre bom quando se tem a chance de saber o pensamento,
concordando-se ou não com ele, de profissionais que estão em destaques nos
grandes meios de comunicação. No caso do Emílio Surita, não deixa de
surpreender a moral que ele tem, por ter dito o que disse numa rádio cujas
pautas estão em sintonia com as demandas da atual direita no Brasil.
Não raro, mandachuvas são boçais; chega a ser um mérito para
o Tutinha, dono da emissora, permitir na rádio dele, num dos programas de maior
audiência do rádio brasileiro, um locutor transmitir ideias que não são as do
veículo em que ele trabalha. Digo isso partindo do princípio de que ou o Emílio
Surita tem carta branca para dizer o que pensa ou não sofrerá retaliação pelo
que disse.