terça-feira, 18 de julho de 2017

Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes

Sou muito ruim para me lembrar de datas. Tenho um amigo que é capaz de se lembrar de como foi, por exemplo, o ano de 1992 na vida dele. Eu não me lembro nem de como foi minha semana passada (sic). De qualquer modo, houve um ano de que não me esqueço. Para ser mais preciso, houve um mês que não esqueço. O ano é o de 1980; julho é o mês.

Sou de um tempo em que não íamos para a escola mal tendo saído da barriga da mãe. Hoje em dia, qualquer criança com dois dias de vida já frequenta bancos escolares há tempos, faz aula de xadrez, de idiomas e de karatê. Eu somente soube o que era um banco de escola quando eu tinha sete anos. Nesse tempo, não havia aulas em julho, e quando o fim do ano ia se aproximando, o ano letivo se encerrava. A impressão que eu tinha era a de que ficávamos décadas sem voltarmos para a escola. Eu chegava a sentir saudade do ambiente escolar.

Não me lembro do que eu estava fazendo naquele julho de 1980. Todavia, lembro-me especificamente de uma ocasião. Uma olhadela na internet me diz que essa ocasião ocorreu em nove de julho de 1980. Assim que fiquei sabendo do fato, lamentei demais estar em férias, pois eu queria muito contar para a professora, dona Vitória, e para os colegas de sala a informação de que eu havia tomado conhecimento.

Assim foi. Passei o resto das férias de julho de 1980 contando os dias que faltavam para que eu tivesse a oportunidade de compartilhar com a professora e com os colegas o que foi, para mim, o grande acontecimento (ruim) daquele mês. Houvesse redes sociais naquela época, talvez eu tivesse feito uma postagem marcando os amigos e a dona Vitória. Como não era o caso, o jeito foi aguardar com ânsia o recomeço das aulas.

Quando recomeçaram, não fui logo desvendando para os colegas a informação, embora doido para contá-la para todo mundo. Cumprimentos de praxe, todo mundo perguntando para todo mundo como haviam sido as férias. Quando já estávamos todos em sala de aula, mal tendo a dona Vitória nos cumprimentado, levantei o dedo, pedindo autorização para dizer algo. Assim que ela ma concedeu, o coração disparou. Criei coragem. Eu disse: “Dona Vitória, o poeta Vinicius de Moraes morreu no dia nove deste mês”.