segunda-feira, 31 de março de 2014

BEROLA 0 x 0 GUSTAVO

Via Twitter, Neto Berola, atualmente no Atlético/MG, atacou Bob Faria, comentarista do Sistema Globo. Os comentários de Berola são inconsequentes e imaturos. Chegam a abrir brechas para um processo; não sei se Faria tomará tal atitude.

Em um programa de TV, Lélio Gustavo, famoso comentarista da Rádio Itatiaia, rebateu as críticas que Berola fizera contra Bob Faria. O problema é que Gustavo foi tão inconsequente quanto Berola.

Lélio Gustavo confirmou que foi demitido da Rádio Itatiaia em virtude dos comentários que fizera. O que sobra do episódio é que jogadores, mídia e torcedores continuam, na maioria, primários. De tempos em tempos, o despreparo e o destempero vêm à tona.

Não importa o lugar, não importa o time: torcedores têm brincadeiras que são, quase todas, imbecis ou preconceituosas; jornalistas deixam o profissionalismo e se tornam torcedores infantis; jogadores, não raro, fazem declarações tão lamentáveis quanto o futebol que jogam. 

Estão quase todos num campo só, participando de um futebol minguado e de uma estrutura incompetente. Caso queira conferir “link” para matéria sobre o imbróglio Berola-Gustavo, clique aqui

INFIEL



Ayaan Hirsi Ali nasceu na Somália, em 1969. De família muçulmana, seu destino já estava traçado: obedecer ao que prescreve o Corão, obedecer aos homens, casar-se com quem escolhessem para ela. Ainda menina, devido às tradições de que foi vítima, passou por clitorectomia.

Ela é autora do estupendo Infiel, publicado pela Companhia das Letras. Autobiográfica, a obra relata a vida de Ayaan Hirsi Ali desde a infância, num mundo arcaico e cheio de costumes anacrônicos, assolado por conflitos bélicos, até a fuga para a Europa, a carreira política na Holanda (foi deputada por lá) e o atual exílio nos Estados Unidos.

Infiel muda de tom quando Ayaan Hirsi Ali começa a falar de sua carreira política na Holanda. Se antes de contar sua incursão em trâmites políticos sua dolorida biografia era narrada sem questionamentos mais profundos, a partir do momento em que nos conta sua jornada política, a escritora não se furta a analisar temas controversos, como o islamismo que herdara; hoje, após anos de reflexão, Hirsi Ali se declara ateia. 

Ela também conta o episódio em que um amigo dela foi assassinado depois de dirigir um curta-metragem cujo roteiro é de Ayaan Hirsi Ali. Submissão, o nome do curta, tem direção de Theo van Gogh, que seria assassinado por causa da feitura do vídeo. Hirsi Ali passou a receber ameaças de morte. O vídeo está no Youtube: bastar digitar o nome dela e a palavra “submission”.

A autora deixa claro: (...) “Nós, no Ocidente, fazemos mal em prolongar desnecessariamente a dor dessa transição [a transição para o mundo moderno], alçando culturas repletas de farisaísmo e ódio à mulher à estatura de respeitáveis estilos de vida alternativos”. Hirsi Ali desaprova a complacência ocidental para com um sistema “incompatível com os direitos humanos e os valores liberais”, nas palavras dela.

Infiel fez com que eu olhasse de um modo menos desconfiado para o Ocidente. Não que eu tenha passado a aprovar as crueldades desse Ocidente, seja no Oriente, seja na África, seja no próprio Ocidente. Entretanto, o livro fez com que eu reconhecesse de modo mais nítido conquistas “simples”, como a liberdade de me exprimir.

Ayaan Hirsi Ali escreveu um livro essencial. Também via Youtube é possível ter acessos a debates de que ela participou. Infiel é o retrato de uma mulher notável. Ela teve malária, pneumonia; teve a genitália mutilada, teve uma faca na garganta num assalto, teve o crânio fraturado por um professor de Alcorão. Reflete a autora: “Quantas moças nascidas no Hospital Digfeer, em Mogadíscio, em novembro de 1969, ainda estão vivas? E quantas têm voz, realmente?”. Ainda bem que Hirsi Ali lutou para achar a dela.