segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

EM COMUM

Alguém caminha por uma rua qualquer. Está vestindo a camisa do time pelo qual torce. Ao dobrar a esquina, depara-se com um estranho que está vestindo a camisa do mesmo time. Ainda que não digam nada, haverá cumplicidade nos olhares; talvez haja discretos sorrisos.

Essa cumplicidade, ainda que não manifestada com veemência, sugere algo do tipo: “Ei, que legal, a gente torce pelo mesmo time”. Só que um desses torcedores, minutos depois, depara-se com alguém que está vestindo a camisa do time rival. Ainda que não eloquente, paira uma animosidade.

As pessoas não sabem ampliar o que têm em comum. O torcedor que veste a camisa de seu time e se depara com alguém vestido com a camisa do rival não tem o senso de pensar “ei, que legal, a gente tem algo em comum, a gente gosta de futebol”. O que era para uni-los acaba os separando.

É claro que isso não vale somente para o futebol. As pessoas se separam por motivos ingênuos e estúpidos. A rigor, não fossem tão obtusas, no encontro entre dois estranhos deveria pairar a ideia “ei, eu sou gente, você é gente; vamos trocar uma ideia?”. Whitman faz falta.