sábado, 16 de fevereiro de 2013

FOTOPOEMA 304

A MAIOR PROVA DE AMOR

Calendário deste ano, lançado por uma editora de material didático, diz que o Taj Mahal é a “maior prova de amor que já houve”, explicando que um imperador o mandou construir em memória de sua esposa favorita.

Ainda segundo o calendário, a fonte da informação é a Wikipédia. De fato, basta que se digite “Taj Mahal” no Google para se achar o texto que está no calendário da editora; é o primeiro “link” que aparece.

Fiquei com essa história de “maior prova de amor” na ideia. É que fiquei sem entender se o autor do texto quis dizer “maior” no sentido de tamanho, de medidas, ou se quis dizer “maior” no sentido de intensidade, de profundidade de sentimento.

Se a intenção era dizer “maior” no sentido literal, referindo-se às dimensões do mausoléu, isso mostra o poderio de quem mandou construir a edificação. Se a intenção era dizer “maior” no sentido de se referir ao que o imperador sentia, parece-me “estranho” afirmar isso. Não há como mensurar a intensidade de um sentimento, seja ele qual for, seja quem for que o esteja sentindo.

Um cara que ame a esposa e que tenha uma renda de, digamos, trinta mil reais por mês, terá, penso, dificuldade em dar a ela um carro que custe uns quatro milhões de reais. A materialização do amor é alcançada de acordo com a possibilidade de quem ama. Se esse mesmo sujeito dá para a esposa um vestido de vinte mil reais, isso não quer dizer que ele a ame menos, por não ter dado a ela o carro de quatro milhões de reais.

Não preciso dizer da maravilha que é o Taj Mahal como obra arquitetônica. Se o texto se referia ao plano físico ao dizer que a construção é a “maior prova de amor”, este texto meu é inútil, o que não é novidade. Mas se quiseram medir a intensidade do amor ao afirmar o Taj Mahal como “maior prova de amor”, penso ser melindroso
calcular isso.

Há algo que me contaram certa vez. Não me lembro dos detalhes; por isso, inventarei circunstâncias, mas preservarei a essência: diz a história que um garoto de uns onze anos foi a uma relojoaria. As roupas dele eram puídas. Tímido, aproximou-se de um dos funcionários.

Disse o garoto que queria comprar um relógio para a mãe, pois era o aniversário dela. Para tal, tinha consigo trinta reais, conseguidos com seu trabalho como engraxate. O funcionário lhe explicou que o dinheiro não daria para comprar nada. O dono da relojoaria, que estava por perto, decidiu conversar com o menino.

Entenderam-se: o comprador escolheu um relógio que, supôs, agradaria à mãe. Entregou os trinta reais para o dono da empresa e foi feliz para casa. Pouco tempo depois, estava de volta, dessa vez, acompanhado pela mãe, que pediu para falar com o proprietário da relojoaria.

Mal ele se aproximou, a mãe, que supunha que o garoto furtara o relógio, foi logo pedindo desculpas, afirmando que já havia ralhado com o menino, que chorava. Depois de escutar a mãe, o dono disse: “Minha senhora, fique com o presente. Eu conversei com seu filho. O valor do relógio não importa. O que importa, é que ele deu para a senhora tudo o que ele tinha”.