sábado, 28 de fevereiro de 2015

NO BOTECO COM LÍVIO SOARES DE MEDEIROS — EDIÇÃO 1


Na quinta-feira, eu me encontrei com Lucas de Paula, integrante da banda O Berço, num bar local. Tive então a ideia de gravar uma entrevista com ele, que topou imediatamente. No mesmo dia, num outro bar, eu me encontrei com o Ciro, também integrante da banda. Gravei entrevista com o Ciro também (esse áudio será veiculado em breve).

A Paula Toller disse certa vez em entrevista que as grandes verdades da vida são ditas na cama. Não que eu discorde dela, mas eu acrescentaria outro ambiente no qual verdades são ditas: um bar. Durante a entrevista com o Ciro, ele me parabenizou pelo projeto — só que não havia projeto algum.

Contudo, gostei demais da ideia. Decidi fazer dela uma verdade. O que surgiu como algo improvisado é, desde quinta-feira, um projeto ou algo assim. O nome é No Boteco com Lívio Soares de Medeiros. A intenção é que os convidados sejam entrevistados em bares, botecos, boates, restaurantes e similares. E ao Lucas de Paula, obrigado pelo bate-papo. 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ROLLING

(Para o pessoal da banda Black Dog, que fez um showzão ontem.)

O rock precisava de algo:
inventou a noite. 
A noite precisava de algo:
inventou as pessoas. 
As pessoas precisavam de algo:
curtiram rock. 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

APONTAMENTO 239

O senso de humor seduz. Mas quando ele vem em forma de chistes espirituosos, não raro com trocadilhos, ambiguidades ou outras sutilezas verbais, ele é atraente demais para que não queiramos estar em companhia dessas mentes criativas. Esse tipo de pessoa agrada à inteligência; agradando à inteligência, fazem-nos felizes. 

DUAS LEMBRANÇAS

Meu pai fazia certas brincadeiras em tom muito sério. A seriedade me convencia de que a brincadeira era verdade pétrea. Numa dessas pilhérias, ele disse algo assim: “Estamos em fevereiro; as mulheres conversam menos neste mês”. O impacto dessa “informação” foi imenso; fiquei intrigado. Na minha cabeça, era como se o mês de fevereiro tivesse alguma propriedade “mágica” que fizesse com que as mulheres conversassem menos.

Uma outra brincadeira foi assim: estávamos eu, ele e mais alguém de que não me lembro nas imediações da cidade, num carro. Do nada, meu pai apontou para um poste solitário num pasto e comentou algo mais ou menos assim: “Olha ali, Lívio: aquele poste ali é para marcar que aquele lugar é o meio do mundo”.

Pirei. Fiquei me perguntando: “Como assim?! O meio do mundo é em Patos de Minas e ninguém sabe disso?!”. Não bastasse meu assombro, fiquei indignado com a falta de informação no lugar. Ora, se lá era o meio do mundo, deveria haver na área placas explicando algo tão importante! Em minha concepção, o meio do mundo não poderia ficar sem indicação alguma, solitário num ermo do Cerrado. 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

FOTOPOEMA 371

FONÉTICA

O seu estrelato. 
O céu estrelado.

O timbre se abre, 
a consoante
se sonoriza:
escolho as
estrelas. 

JASMIM


APONTAMENTO 238

Valorizar a si mesmo deveria ser obrigação mínima de qualquer um que queira ser uma pessoa mais plena. Contudo, o que se vê na maioria das vezes é uma deturpação ou um desvirtuamento do que é valorizar a si mesmo. O reconhecimento e o exercício das boas qualidades que se possa ter são substituídos por empáfia e individualismo. Qualidades que muitas vezes não existem são vomitadas por intermédio de um discurso arrogante.

Valorizar a si mesmo não é berrar para o Universo qualidades materiais ou imateriais que podem só existir na cabeça de quem as propaga. Valorizar a si mesmo é, antes de tudo, ter um vasto conhecimento das qualidades e dos defeitos que se tem. Mas a preocupação maior é em camuflar os defeitos e em inventar qualidades, o que comumente acaba levando à prepotência.

APONTAMENTO 237

Há que se achar o tom adequado, seja para a crítica mais incisiva, seja para o elogio mais retumbante.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

FOTOPOEMA 370

FEARLESS

Algumas regravações são tão boas que nos deixam com a impressão de que certas canções foram feitas para serem regravadas. "Fearless", do Pink Floyd, cantada pelo Fish, que foi vocalista do Marillion, é um desses casos.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

ESTRATÉGIA

No altar, 
o belo padre. 
A fiel está 
encantada
com os
dons de
seu deus. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

SINGULAR

Ela quer
no plural.

Novos ares, 
novos bares, 
novas gares, 
novos mares, 
novos pares.

Menos que dois, 
só quer um lar. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

CHUVA

Chove tão sutilmente, 
que é como se não chovesse —
mas chove.

Quase não há 
barulho de chuva —
mas há.

A chuva brinca 
de ser quase e
goteja em meu verso. 

FOTOPOEMA 369

OLIVER SACKS SE DESPEDE

O neurologista Oliver Sacks, em texto publicado hoje no jornal The New York Times, anuncia que tem meses de vida, devido a câncer. Publicamente, Sacks se despede com altivez — o que não surpreende.

Nos livros dele, Sacks deixa transparecer algo que se tornou raro: ele trata os pacientes como... gente... Ele realmente parece se importar com os pacientes. Isso, que parece ser condição inicial para qualquer médico, tornou-se exceção. 

SINTONIA FINA — EDIÇÃO 31

Pessoas, está no ar mais uma edição do Sintonia Fina, programa musical editado e apresentado por mim. Para escutar, basta dar “play”.


Paul McCartney — Freedom
Caetano Veloso — Quando o galo cantou
Trio Rio — New York, Rio, Tokyo
Beto Guedes — Vevecos, panelas e canelas
U2 — So cruel
Tianastácia — Itacaré
Tony Anderson — Breakthrough
Milton Nascimento — Calix bento

FONOAUDIOLOGIA EM CAMPO?

Desde quando o PVC foi para o Fox Sports, eu ainda não tinha conferido a atuação dele pelo canal. Ontem, tendo assistido a Corinthians e São Paulo pela emissora, pude escutar novamente o comentarista de farta memória e de excelente e sutil senso de humor.

Conheci o trabalho dele na ESPN. De inteligência privilegiada, PVC, contudo, tinha ligeiro problema de dicção. Ontem, entretanto, tive forte impressão de que a fala do comentarista está mais clara. Não estando eu enganado, isso se deve, assim me pareceu, a trabalho eficaz de algum fonoaudiólogo.

Independentemente de eu estar certo quanto à melhora da dicção do PVC, sempre fui entusiasta da fonoaudiologia, não só quando há alguma falha na dicção ou algum outro problema na fala. Fundamental para profissionais cujas profissões dependem em primazia da voz, a fonoaudiologia é bonita também por tornar possível a qualquer um a melhoria no discurso. A ciência é uma das grandes aliadas da retórica. Em amplo sentido, é mais um modo de irmos mais longe em nós mesmos. 

VOOS


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ARCO

“Porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal da aliança entre mim e a terra” (Gênesis 9, 13).

“Astúcia  que tive uma sonhice: Diadorim passando  debaixo de  um  arco--íris” (João Guimarães Rosa).




segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

QUARTETO EM SI

A CAVERNA

Tudo bem que graças à civilização podemos escutar a “Ode à alegria” ou saborear um pato com laranja, mas, ainda assim, não nos iludamos: o homem das cavernas está aqui, e ele gosta de vir à tona. De um modo ou de outro, consegue. 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O LUGAR DA BELEZA

Tua beleza está 
na cabeça — 
pelo que ela
tem por fora
e pelo que 
tem por dentro.

Tu és irresistível 
em qualquer lugar de ti. 
Começa na cabeça 
e vai parar
lá nos pés.

De alto a baixo,
reparo. 
Não há 
lugar em que
eu não queria
estar presente. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ANTENADO

POR QUE A TATURANA ATRAVESSOU A ESTRADA?

Atravessando a BR-365, próxima ao trevo de Patos de Minas, em horário bem movimentado, vi uma taturana. Das dezenas de carros que passaram por ela, cinco ou seis estiveram muito perto de esmagá-la. Mesmo assim, ela chegou ao outro lado, ignorante do risco que correu. Mas, a rigor, quem está ciente dos perigos à espreita? Atravessemos a estrada. 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

LETRA DE MÚSICA 38

Glória, se eu soubesse
que trarias a degradação 
para dentro de minha sala, 
eu não te teria aberto a casa.

Entraste pela porta, 
chegaste perto, 
fizeste porto.

Confiei em ti. 
Glória, não és mais
a irmã que tive. 
Eu te expulsei de casa, 
eu te apaguei da vida.
Meu sangue não é o teu. 
Recebe meu anátema, 
não voltes à minha casa.

Procuraste abrigo. 
Eu te abriguei, 
alimentei teu corpo. 
Entregando-o, 
tu me feriste.

Glória, aprendi que
és ilusão e armadilha. 
Infelizes aqueles que 
de ti correm atrás. 
Flertas, conquistas. 
Mas quando estiveres desnudada, 
verão tua máscara no piso. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PARA BORGES

A Borges coube a
escuridão em vida. 
Coube a ele 
a memória.
Ou a ficção. 
Feliz na manhã dourada, 
soube ser feliz na tarde escura. 
Soube me fazer feliz
na madrugada chuvosa.
Graças a Borges, 
daqui a pouco, 
vou sonhar. 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

JOÃO 8, 6

Ele escreveu sua história. 
Escreveu a minha.
Escreveu a carne entre os dentes
e as guerras e os corredores. 
Escreveu amores, ódios e tigres. 
Escreveu grãos de areia, vulcões, 
poemas, tratados e derrotas. 
Escreveu tucanos, estrelas e ratos. 
Escreveu ermos. 
Escreveu cidades. 
Escreveu silêncios, sexos.
Escreveu o Universo. 
Escreveu pais, mães e blusas de frio. 
Escreveu a neve, a chuva e os cabelos. 
Escreveu a rebeldia, as tempestades, as paredes, 
as árvores, as estradas e a noite.
Escreveu o sono, as canções. 
Escreveu unhas, sóis e judeus.
Escreveu o câncer, a chibatada, a fé, 
os alimentos e a fome.
Escreveu a chuva, o desejo, as camisas. 
Escreveu impérios, xingamentos, devoções, 
olhares, escadas, cavalos, 
poeira, formigas, mesas, pães, 
terremotos, dons, cadeados, cismas, 
vozes, números, receitas, sonos. 
Escreveu mares, pulgas, desertos. 
Escreveu trevas, dúvidas e vozes. 
Escreveu crianças, flertes e coceiras. 
Escreveu brisas, pestes, livros,
perfumes, esperanças, manhãs,
crucificações, aves, bebidas,
conceitos, alianças, circos,
pedras, Pedros, Borges, solidões,
travessias, congados, tamanduás,
alfabetos, torres, manás, dissabores.
Escreveu o que ninguém logrou escrever.

De repente, parou.
Releu o que escrevera. 
Revisou, considerou, ponderou. 
Arrematando o texto, 
reordenou os grãos. 
Onde antes havia palavras, 
há agora um novo código. 
Não foi ainda decifrado. 

domingo, 8 de fevereiro de 2015

AINDA SOBRE A SENSUALIDADE

Em texto publicado anteriormente, escrevi sobre a sensualidade. A temática continua me atraindo. Volto ao assunto, desta vez para dizer que pessoas que têm sensualidade a exalam em tempo integral. Há nelas um jeito de caminhar, um modo nos gestos, um quê na cadência com que executam as tarefas no dia a dia que as tornam sensuais.

Não são estabanadas; tampouco são monótonas nos movimentos. Acham um equilíbrio que faz com que se movam com graciosidade. Não passam a ideia de indolência nem transparecem a sensação de que estão apressadas. Esse equilíbrio, aliás, está também na voz, que não é sussurro nem grito. As pessoas sensuais são um meio-termo mais “fatal” do que qualquer excesso. 

LUGAR

Inserimos números nas casas, 
damos nomes às ruas, 
riscamos constelações no céu, 
inventamos dispositivos de localização. 
Há todo um sistema para que
saibamos onde estamos. 
Os nomes, os números, os endereços...
Nada disso elimina o nome do
caminho que é nosso: labirinto. 

TRIO

sábado, 7 de fevereiro de 2015

THE DIRTY WOLVES BLUES BAND

Diversas frases me ocorreram enquanto eu assistia, na madrugada que passou, ao show de The Dirty Wolves Blues Band. Eu deveria tê-las anotado, para que compusessem este comentário sobre a apresentação. Confiei na memória. As frases se perderam. Restou só esta: um show tão dançante que me fez chacoalhar até as bochechas.

Cheguei ao bar no exato momento em que a apresentação estava prestes a começar. Bastaram alguns segundos para que meu corpo já estivesse louco para sair dançando mundo afora. Os Lobos fizeram um show da mais genuína alegria. Não somente pela razão de que pareciam se divertir, mas também pela competência técnica. Há um tempão eu não dançava tanto durante um show.

A banda é formada por Mauro Fontoura (guitarra/vocal), Samuel Fontoura (bateria), Alliss Big Bull (baixo acústico) e Vinícius Lustosa (trompete). Investindo na raiz do blues, The Dirty Wolves Blues Band entrega um espetáculo em que ficar parado seria muita provação para um só corpo. 

QUERO-QUERO



NEBLINA

PAR

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

PONTO DE VISTA

Com força e talento,
o cinzel atua.
O mármore se rende,
sabendo que ao fim
vai se tornar o que é.

Pietro se concentra.
Observa o mármore,
observa o pó que
vai caindo no chão
durante o trabalho.

Do mármore 
para o pó,
do mármore
para o pó...

A escultura receberá
a vida em instantes.
É quando Pietro comenta:
“Esse Michelangelo só faz sujeira!” 

DA IRONIA

A ironia é 
lâmina:
fulgura, 
corta.

É lâmina fina, 
fina como papel.
A ironia é fina.

Contenta-se 
em existir
sem ser
percebida. 
Mas se alcançada, 
o sorriso é fino. 

A TEMPO

Não se preocupe,
dá tempo. 
Ainda estamos
em fevereiro:
depois eu
março.

(DES)APONTAMENTO 20

Os presos se rebelaram: reação em cadeia. 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

FIO

DISPARADO

Perder o equilíbrio 
faz disparar o coração?
Ou é o coração disparado
que faz perder o equilíbrio?

Se estás, sou agito. 
Perto de ti, 
nunca sou monotonia:
sou desequilíbrio que pulsa. 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O RIO CRIATIVO

A mente precisa achar um rio em que consiga navegar com criatividade. Quando acha, é como se não houvesse margens, é como se ela navegasse sem limites. O que advém desse estado mental é a criação, é o novo, é o espírito humano realizando o que tem de mais nobre e poderoso, que é a capacidade de criar mundos. Só a mente atenta percorre um rio assim; só a mente atenta cria quando devaneia. Quando acha esse rio, a mente torna-se manancial que faz jorrar o poder criativo que se tem, que deixa jorrar o que se é. 

SOBRE O PASSADO

Aprender o gosto por coisas velhas. Não simplesmente por serem velhas: há coisas velhas que devem ser jogadas fora, há gente velha que é estúpida. O que é velho está na juventude, está no carrão que acabou de ser tirado da concessionária. Seus antepassados correm em suas veias; enquanto você caminha, seus pés pisam também os séculos anteriores.

O passado já muito valeria se fosse "somente" história, mas ele é mais. Ele compõe o presente das coisas e das pessoas. O passado ensina. As tramas do passado se repetem. Não há enredo novo, e os personagens e as coisas estão todos impregnados de coisas velhas. O passado é um espelho à disposição do presente. 

FESTA NO MILHO


REVOADA

VOEMOS



Aprendi demais sobre fotografia no Treknature, página dedicada a fotos de natureza. Há a preferência por registros em que os animais não estejam em cativeiro. Inicialmente, fiquei espantado com as imagens; a seguir, mesmo nada sabendo de fotografia, comecei a postar minhas fotos.

Há na página um espaço dedicado a dúvidas que os membros possam ter sobre fotografia. Além disso, como minhas fotos eram muito ruins, os demais integrantes sempre me davam dicas, seja com relação ao ato de fotografar em si, seja quanto à edição das imagens. Não raro, nas fotos dos demais integrantes, eu perguntava como haviam conseguido um registro ou outro.

Sempre que postei alguma dúvida, nunca fiquei sem resposta. Sempre foram gentis, solícitos. Não havia a ideia pequena de não partilhar o que se sabe, como se o conhecimento que se tem não pudesse ser dividido. Devo muito ao Treknature. Tive na página uma presteza e uma vontade de ajudar que infelizmente não foram comuns quando tentei aprender com fotógrafos do Brasil que moram nos grandes centros.

Lembro-me de alguém por lá ter comentado que em fotografia de animais é bom fotografá-los quando estão fazendo alguma coisa. Se um animal está perseguindo a presa ou se está fugindo do predador, existe ação, algo está acontecendo. Se estão se reproduzindo ou se alimentando, a vida está acontecendo.

No sentido de se registrar os animais enquanto fazem algo, sou da ideia de que quando se trata de aves ou de pássaros, fotografá-los durante o voo é registrá-los num grande momento — pelo menos sob nossa ótica, que é humana. Para eles, suponho, é um ato como outro.