Ele escreveu sua história.
Escreveu a minha.
Escreveu a carne entre os dentes
e as guerras e os corredores.
Escreveu amores, ódios e tigres.
Escreveu grãos de areia, vulcões,
poemas, tratados e derrotas.
Escreveu tucanos, estrelas e ratos.
Escreveu ermos.
Escreveu cidades.
Escreveu silêncios, sexos.
Escreveu o Universo.
Escreveu pais, mães e blusas de frio.
Escreveu a neve, a chuva e os cabelos.
Escreveu a rebeldia, as tempestades, as paredes,
as árvores, as estradas e a noite.
Escreveu o sono, as canções.
Escreveu unhas, sóis e judeus.
Escreveu o câncer, a chibatada, a fé,
os alimentos e a fome.
Escreveu a chuva, o desejo, as camisas.
Escreveu impérios, xingamentos, devoções,
olhares, escadas, cavalos,
poeira, formigas, mesas, pães,
terremotos, dons, cadeados, cismas,
vozes, números, receitas, sonos.
Escreveu mares, pulgas, desertos.
Escreveu trevas, dúvidas e vozes.
Escreveu crianças, flertes e coceiras.
Escreveu brisas, pestes, livros,
perfumes, esperanças, manhãs,
crucificações, aves, bebidas,
conceitos, alianças, circos,
pedras, Pedros, Borges, solidões,
travessias, congados, tamanduás,
alfabetos, torres, manás, dissabores.
Escreveu o que ninguém logrou escrever.
De repente, parou.
Releu o que escrevera.
Revisou, considerou, ponderou.
Arrematando o texto,
reordenou os grãos.
Onde antes havia palavras,
há agora um novo código.
Não foi ainda decifrado.
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