domingo, 28 de abril de 2019

Velozes e furiosos

A família Bolsonaro tem pelo menos quarenta e quatro multas de trânsito. O presidente, a atual esposa dele e os filhos do militar da reserva foram multados nos últimos cinco anos. As infrações estão registradas no Detran/RJ. As multas da família perfizeram R$ 5.800,00. A maioria delas, vinte e quatro das quarenta e quatro, é por excesso de velocidade.

O presidente anunciou que cancelaria a instalação de oito mil fotossensores nas estradas. Ele também quer revisar contratos já existentes. Além disso, anunciou que é intenção dobrar para 40 pontos o limite de infrações em um ano. Na legislação atual, o limite são 20 pontos. 

A filosofia que cria cordeirinhos para abate

Alegar questões financeiras para não investir em filosofia e em sociologia nas universidades é balela. Em si, os cursos não requerem investimentos pesados, pois não requerem laboratórios nem equipamentos caros, o que é demanda de outros cursos; outro dado que deve ser levado em conta é o de que discentes de filosofia e de sociologia representam 2% dos que estão em cursos superiores em universidades públicas. Fosse mesmo questão econômica, o governo preocupar-se-ia, dente outras coisas, em gastar menos com o cartão corporativo, também mantido pelos contribuintes. Nos dois primeiros meses do atual governo federal, o aumento de gastos com o cartão corporativo foi 16% maior em relação à média dos últimos quatro anos. E olha que esse perdulário governo defendida o fim desse cartão. Não só o manteve como elevou os gastos com ele.

Respeitar o dinheiro do contribuinte é dar a ele oportunidades, não privá-lo delas, não privá-lo do conhecimento, e só uma mente limitada hierarquiza o saber, separando-o em útil e em inútil. Não existe conhecimento inútil. Atribuir níveis de importância aos diversos afluentes do conhecimento é não querer dar a oportunidade ao cidadão de ser uma pessoa mais plena, mais capaz, com maior noção do mundo em que vive, não importa se essa pessoa é um técnico em eletrotécnica ou se é um neurologista. Dominar uma engenharia não significa que alguém não possa conhecer o percurso histórico, sociológico e filosófico por que vem passando a humanidade; isso faz parte da plenitude do que é ser cidadão. A estratégia de excomungar filosofia e sociologia nada tem a ver com questões econômicas, embora seja esse o pretexto.

Para o governo federal, os estudos de humanas não respeitam o dinheiro do contribuinte e não dão retorno imediato. Mentes pequenas não conseguem vislumbrar mais longe do que o dia de amanhã. Há retornos que são imediatos e há retornos que demoram a surgir. Além do mais, o imediatismo não dever ser essência política de um governo. Ao mesmo tempo em que há questões pragmáticas e urgentes, por outro lado, um país precisa de planejamento para o que não é imediato. Qualquer gestor de qualquer área sabe disso. Todavia, é mais fácil apelar para um imediatismo inconsequente do que apresentar um projeto que vislumbre décadas no porvir.

A estratégia de banimento dos estudos de humanidades é simples, mas de eficácia incontestável. Em essência, é uma estratégia que não permite ao ser humano o acesso à palavra. Sem esse acesso, a pessoa vai se tornando algo parecido com um autômato, uma criatura sem capacidade de organizar pensamento e sem capacidade de (se) observar, dois graves entraves para essa própria criatura e para a elevação do pensamento social. Esse cenário é perfeito para engodos políticos. Nesse viés, distopias como “1984”, do George Orwell, e “O planeta dos macacos”, do Pierre Boulle, são contundentes retratos do que pode ocorrer quando o acesso à palavra vai se esvaindo. Mas livros são palavras. Palavras ampliam e refinam o cidadão. Um sujeito com noção histórica, sociológica e filosófica é pedra no sapato e rocha recalcitrante em qualquer projeto que pretenda execrar o pensamento. Para muitos, o negócio é gerar cordeirinhos que se jactam de serem enfileirados para tosa e abate. 

Passeio













Robusta clausura

Tenho medo do mundo,
do meu país, 
da minha cidade.

Tenho medo de ti.

Tenho recebido o mundo
em telas que reluzem
e em páginas que elucidam.
Eu me fechei,
fechei as portas da casa, 
acionei todos os cadeados.

Lá fora, 
armas calibradas 
e encontros desequilibrados,
sem filosofia, sem sociologia,
sem palavras.
Estão ocos e furiosos.

Nem suspeitam de que
não sou o único
que não desistiu.
Nem desconfiam
da existência dos
que acreditam no belo.
Não sabem que são 
transitórios como um tiro
e que somos teimosos
como um verso. 

Do alto

Eu estava a uns treze quilômetros de Patos de Minas quando tirei a foto. O drone estava a mais ou menos duzentos metros de altura de onde eu estava.