Há uma discussão entre os adeptos da gramática e os que acham que ela deve ser totalmente banida. À parte o que pensa cada um dos grupos, linguagem é poder. Uma revolução que se preze ou uma emancipação genuína para o indivíduo passa pelo domínio da linguagem. Se esse caminho será atingido por intermédio da gramática, da leitura, da mistura dos dois, da escola, do autodidatismo ou de outra abordagem, tanto faz.
É o domínio da linguagem que dá clareza num cenário que é turvo, eis o paradoxo, por causa do excesso de informação. A informação em si é linguagem. Assim sendo, pode ser manejada, burilada. Pode servir a um fim, a uma ideologia, a uma arte, a uma ciência, a uma manipulação. Seja no indivíduo, seja na coletividade, há uma consistência que somente pode ser alcançada a partir do domínio da linguagem.
A aquisição dessa linguagem a que me refiro é trabalhosa. Ela paira acima do trivial, do lugar-comum, da futilidade. É uma linguagem que se debruça sobre o que temos de essência e que procura enxergar com nitidez o embaralhamento a que somos submetidos. Por ser trabalhosa, demanda disciplina, dedicação.
Há que se levar em conta o cenário brasileiro, em que muitos não têm a oportunidade de dominar nem os rudimentos dessa mesma linguagem. Ainda que o acesso à educação, em termos proporcionais, tenha melhorado se comparado a séculos anteriores, tal acesso não é universal. No caso do Brasil, nem sei se um dia será.
O embate entre os defensores da gramática e os defensores do banimento de qualquer gramática é menor diante da gravidade que há no não domínio da linguagem. Quem a domina e quer usá-la para fins escusos tem interesse em que os outros não a dominem. O cidadão que domina a linguagem cria para si um caminho para ir mais longe no que é e um escudo para se proteger do que o mundo pode ser.