quarta-feira, 8 de outubro de 2014

VESTIMENTA

Veste-se a caráter.
Prefere, contudo, deixar
no guarda-roupa o caráter. 

"ULYSSES": UMA CAPA


Passei mais da metade da vida prometendo a mim mesmo que um dia leria “Ulysses”, do Joyce. Não sei se ainda cumprirei a promessa. Pesquisei muito sobre a obra, reuni esquemas de leituras, dediquei-me a críticas sobre o livro... Só que o dito-cujo, nunca li. Num paralelo, seria como ler muito sobre uma cidade, saber muito sobre ela, mas nunca tê-la visitado.

À parte isso, a capa da edição da Penguin-Companhia para “Ulysses” é genial (como não tenho a edição deles, não há como eu conferir de quem é o trabalho): numa olhadela, as linhas brancas sugerem um labirinto. Pode-se pensar também em formas urbanas ou geométricas.

Após a olhadela, o olhar decifra o nome “Ulysses”, formado pelas linhas brancas. Se tais linhas ou formas, por si, já seriam uma rica representação visual do labirinto que, segundo o que já li, são os personagens do livro (e todos nós), as mesmas linhas brancas podem compor traçados de um caminho pelas ruas de Dublin.

A capa, assim me parece, conseguiu uma sugestiva e poderosa representação visual do que é sugerido, de acordo com o que já li, nas páginas do livro. Não bastasse isso, a aparente aleatoriedade das linhas brancas revela, após breve exame, um rigor que está presente no livro de Joyce (numa das edições que tenho, há o famoso guia de leitura com as partes que compõem a obra).

Não estou à procura de mais um motivo para encarar as páginas do “Ulysses”. Estivesse, a capa não deixaria de ser sedução. Preciso ler o livro. Se os personagens de Joyce são labirintos, se as ruas que Bloom percorre são labirínticas, nada impede que as que percorremos não sejam. 

CORUJANDO