segunda-feira, 7 de março de 2016

Fotopoema 386

Aos poucos

Pela manhã, 
disse que começaria à tarde.

Quando veio a tarde, 
deixou para a noite.

Quando veio a noite, 
deixou para o outro dia.

Quando veio o outro dia, 
deixou para semana seguinte.

Quando veio a semana seguinte, 
deixou para o mês seguinte.

Quando veio o mês seguinte, 
deixou para o semestre seguinte.

Quando veio o semestre seguinte, 
deixou para o ano seguinte.

Quando veio o ano seguinte, 
deixou para a década seguinte.

Quando veio a década seguinte, 
a vida não resistiu. 

Apontamento 316

A literatura não rejeita nem a transcendência nem a vileza. A literatura comporta o que o ser humano é; nada do que somos deve ser estranho para ela. Servem para o texto literário o momento de ascese ou o desejo de pacto com o demônio, uma cena terna entre amantes ou a maldade absoluta levada a cabo numa viela de uma cidadezinha. A literatura é o que o homem é; é tudo aquilo que ele é capaz de realizar, seja nobre, seja torpe; seja ridículo, seja sagaz; seja engraçado, seja monótono.