terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Entrevista para a Rádio Clube

Neste áudio, comento sobre meu livro Anacrônicas, que em breve será publicado.

 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Breves notas de leitura

Leitura de ontem: Discografia legionária, de Chris Fuscaldo. Publicado pela editora Leya, o livro tem detalhes técnicos de todos os discos do Legião Urbana e de todos do Renato Russo em carreira solo. Para quem curte como se dão as coisas em estúdio, o livro pormenoriza, mencionando, dentre outras coisas, microfones usados em algumas gravações e a tecnologia utilizada em determinados registros.

(Para o fãs do Legião Urbana, também indico As quatro estações, de Mariano Marovatto. Nele, o autor detalha produção do quarto trabalho lançado pelos legionários. O livro faz parte da série O Livro do Disco, editada pela Cobogó (dessa série, também indico o dedicado a Unknown pleasures, do Joy Division). Nessa série, cada livro se debruça sobre um disco de determinado artista.)
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Leitura de hoje: O lago desconhecido: entre Proust e Freud, publicação da L&PM Editores. A autoria é de Jean-Yves Tadié; a tradução é de Julia da Rosa Simões. No ensaio, num instigante estudo comparativo entre dois dos pilares do século XX, Tadié, profundo estudioso de Proust, traça os paralelos e convergências entre arte e ciência a partir das produções de Proust e de Freud. Leitura que envolve e que inspira.
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Leituras a serem iniciadas: estou aqui com três livros que eu vinha paquerando já há algum tempo, três livros do Jessé Souza: A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado, A tolice da inteligência brasileira: o como o país se deixa manipular pela elite e A elite do atraso: da escravidão à lava jato. Os três foram publicados pela editora Leya, que presta um belo serviço ao Brasil publicando o trabalho de Jessé Souza; em breve, resenha.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

“Que tiro foi esse”?

Somente ontem escutei “Que tiro foi esse”. Eu não conhecia a canção nem sabia que as pessoas estão fazendo coreografias, registrando-as em vídeos e as postando em redes sociais. Assim que comecei a escutar, pensei que eu havia perdido o início. A cantora entoa “que tiro foi esse”; depois é que se ouve o “tiro”. Como a frase é “que tiro foi esse”, supus que o “tiro” já havia sido disparado, para então se fazer a pergunta ou o comentário sobre que tiro havia sido aquele. Hoje, escutei de novo a canção, a fim de conferir se a pergunta ou o comentário sobre o “tiro” vem antes do próprio. É o que parece.

À parte isso, que foi só uma boba tentativa minha de buscar alguma lógica no trabalho, também hoje, conferi uma entrevista com Jojo Maronttinni, que canta “Que tiro foi esse”. Ela disse que a expressão “que tiro” é usada quando uma pessoa quer dizer que a roupa ou o visual do outro está bonito, vistoso ou algo assim. Eu não conhecia a expressão.

Prefiro outros “tiros” ou “estrondos” do pop e do rock: os “disparos” no começo de “Demônia”, do Kiko Zambianchi, as batidas iniciais em “Rough boy”, do ZZ Top, o estrondo em “The whole of the moon”, da banda The Waterboys, o também estrondo em “Right between the eyes”, com The Wax, o gongo no fim de “Big in Japan”, do Alphaville, a “bomba” em “Get your filthy hands off my desert” ou o “tiro” em “The final cut”, ambas do Pink Floyd. 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Bovary, Kariênina, Capitu

Madame Bovary é um livro da escola realista. É sobre uma mulher que se apaixona por outros homens enquanto é casada. Nada mais de acordo com o tema da escola realista do que isso. Num julgamento apressado e preconceituoso, seria fácil falar mal de Emma Bovary.

De antemão, é preciso ter em mente que as Madames Bovarys, as Annas Kariêninas e as Capitus não são prostitutas (Capitu, nem sabemos se ela teve de fato um romance com Escobar, pois Bentinho, mais uma criação genial de Machado de Assis, é um narrador não confiável). Prostituta é aquela que entrega o corpo por dinheiro, o que não é o caso nem de Emma Bovary nem de Anna Kariênina nem de Capitu. Num julgamento superficial e machista, seriam. Todavia, lembremo-nos, uma das características do realismo é justamente exibir a derrocada do casamento como instituição burguesa.

Emma Bovary não suporta o marido, que é o típico burguês. Ela é sonhadora, idealiza o amor, os amantes. Se, por um lado, pode-se dizer dela que foi ingênua, por outro, pode-se dizer de Charles, o marido dela, que ele é o responsável pela monotonia que é o casamento deles. E o narrador não perdoa: logo na primeira cena do livro, quando Charles está em uma sala de aula, ainda menino, o tom de zombaria do narrador em relação ao personagem já está presente. Charles é o típico marido burguês, que nada acrescenta à esposa, seja em que aspecto for; ela, por sua vez, quer o sonho, o aprendizado, a aventura, o amor, o sexo, ainda que os busque com ingenuidade.

Há quem veja na escola realista muito de machismo pelo fato de que as mulheres, com muita frequência, se dão mal. Não vejo isso como machismo. No realismo, as mulheres são vítimas das instituições da burguesia. O Borges escreveu que “o casamento é um destino pobre para uma mulher”, embora ele, no fim da vida, tenha se casado com uma.

Não é regra que o casamento seja um destino pobre para uma mulher. Hoje, ela, quando se casa, na maioria das vezes, está em busca não dos aspectos, digamos, burgueses do casamento, mas do amor, do sexo, da aventura consequente, querendo, ao mesmo tempo, sentir-se segura.

O chamado bom marido burguês pode se tornar muito desinteressante para a esposa ao longo do casamento. Ele é talhado para ser um bom burguês, o que não implica, na ótica feminina, ser necessariamente um bom marido.

Nesse sentido, o realismo persiste não somente como escola literária. Além do mais, hoje em dia, há caminhões de mulheres independentes, que têm o próprio dinheiro e que estão predispostas a aprender, sonhar, transar gostoso. Mas, com frequência, não é isso o que elas têm tido no casamento burguês, que continuará fazendo com que elas, não raro, sejam as vítimas.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Vida

Não raro, tem-se uma visão ingênua da vida, o que leva a ignorar que, para existir, ela precisa eliminar outras vidas. Com esse objetivo, fará o que for preciso. Uma horda de abutres que fica aguardando a morte de uma vaca pode ser adjetivada como cruel ou sádica, mas os abutres estão em busca da vida, assim como esteve a vaca. Eles fazem o que fazem não por sadismo nem por maldade.

Nós, humanos, adjetivamos a natureza, assim atribuindo a ela características que são nossas. Um filhote de cachorro é chamado de dócil, uma leoa que estraçalhe uma zebra pode ser chamada de cruel. Mas nem o filhote de cachorro pensa em termos de docilidade nem a leoa concebe o mundo em termos de crueldade — ela quer sobrevier.

Com frequência, nossa presunção nos leva a ignorar não somente a força da natureza, mas também nos faz esquecer de que somos parte dela; logo, estamos sujeitos às leis da sobrevivência, estamos lutando pela vida. Nesse jogo, atacamos e somos atacados, somos caçadores e caças, predadores e presas.

Do micro ao macro, a vida quer acontecer. Uma onça que esteja perseguindo alguém não levará em conta se essa pessoa paga os impostos em dia, se é um bom pai ou se é religiosa. Um micro-organismo que esteja no corpo de um indivíduo pode levá-lo à morte, não importa se esse indivíduo é um gênio ou um tolo. A natureza não se preocupa conosco. Se a sobrevivência dela implicar nossa morte, ela não vai deixar de tentar sobreviver.

Premissas como essas estão em Vida [Life], do diretor Daniel Espinosa. O roteiro é de Rhett Reese e de Paul Wernick. Astronautas na estação espacial internacional levam a bordo um micro-organismo que logo revela uma capacidade de sobrevivência e de adaptação que, aos nossos olhos, pode se mostrar aterradora.

Além da questão de que a existência da natureza não está ligada à ética humana, o filme lida também com a temática do perigo que a manipulação da vida pode gerar. Se “Vida” não inova nas temáticas que aborda (o que em si não é um problema), ele não deixa, a despeito de não ser um grande filme, de ser um lembrete: nossa arrogância pouco pode quando a vida quer acontecer. 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O "milagre" de Ernest Renan

Quanto mais o tempo passa, mais robusta se torna minha opinião de que o melhor leitor que a Bíblia já teve foi Ernest Renan, autor do Vida de Jesus

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Fotopoema 412

Apontamento 372

Ler me traz sorte. 

Interessado?

O conto de Tadeu

Tadeu acordou de madrugada. O mundo era um mar de escuro e de silêncio. Tadeu estava intranquilo. Como sempre, para não atrapalhar o sono da esposa e dos filhos, mal respirava, mal se mexia na cama. Mesmo assim, naquele dia, temeu que sua consciência pesada acordasse todo o Universo. 

Nua, crua

Teu corpo em minha cama:
verdade nua.

Meu corpo dentro do teu:
verdade crua.

Teu corpo querendo ser inédito:
verdade tua.