No passar lento-rápido dos dias, quanto tempo é necessário para que uma pessoa supere uma experiência traumática? É a reflexão feita em “Tudo vai ficar bem” (2015) [Every Thing Will Be Fine], do diretor Wim Wenders. O roteiro é de Bjørn Olaf Johannessen. Logo nas cenas iniciais, o escritor Tomas Eldan (James Franco), dirigindo carro durante nevasca, atropela uma criança.
A partir daí, passamos a acompanhar a vida não só de Tomas Eldan, mas também da mãe do garoto atropelado, do irmão dele, que quase havia também sido atropelado no mesmo acidente, e dos que gravitam em torno de Eldan. Se, por um lado, o tempo se esvai rápido, por outro, a tentativa de superação de um evento radical é algo feito um dia após o outro.
Louvável como “Tudo vai ficar bem” é sem pressa. Isso, todavia, está longe de implicar monotonia. Os cortes não seguem a linguagem de videoclipe ditada por Hollywood. As dores de Eldan e de Kate (Charlotte Gainsbourg), a mãe do garoto atropelado, teimam em não irem embora, fazendo com que o espectador se pergunte se eles vão, por fim, sucumbir. Num curioso paradoxo, o ritmo lento é capaz de gerar momentos de tensão e de suspense, principalmente a partir de quando Christopher (Robert Naylor), o irmão que sobrevivera ao atropelamento, anos depois, entra em contato com Eldan.
A sequência inicial da produção mostra Tomas Eldan num cubículo. A luz que vem de fora e passa por uma janela enche o ambiente de calidez. É instigador observar justamente a incidência da luz natural sobre os personagens, como se ela estivesse, em várias sequências, a sugerir uma metáfora... luminosa, sem contudo definir se o desfecho será de fato reluzente. “Tudo vai ficar bem” é uma bela reflexão sobre o efeito da passagem do tempo nos sentimentos.