quarta-feira, 30 de setembro de 2015

APOSTA

Façamos, pois, 
uma aposta:
se eu ganhar, 
você faz amor comigo; 
se você ganhar, 
faço amor com você. 

EFEITO

Os melhores dias 
são aqueles em que 
me sinto arguto. 

Para que haja argúcia, 
é preciso haver leitura. 

NO DETALHE

Encaro-me 
com olhar
microscópico. 
Olhado de perto, 
todo mundo é 
todo mundo. 

ATÔMICO

Sou a unicidade. 
Sou a dualidade. 
Sou a trindade.

Sou a estrela. 
Sou o chão. 
Sou o vento.

Sou eu, 
sou todos, 
sou tudo.

Morrerei. 
Meus átomos
continuarão 
sendo. 

FOTOPOEMA 376

CONTO 81

Maria Antônia estava muito chateada por causa dos chefes. Sem que ninguém soubesse, quando em casa, depois do trabalho, ela chorava. Como dependia do emprego, como ela não conseguia achar outro, passou a se valer da inteligência. Ela já sabia que os chefes que tem são malandros e sacanas, mas não são perspicazes. Passou a ser irônica, sarcástica, zombeteira. Tudo na maior elegância, no maior respeito, na maior sutileza. Desavisados até supuseram que, por vezes, ela passara a bajular. Maria Antônia não chora mais por causa de seus chefes. 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

INSTRUMENTO

Torna-se melodia
o que teus dedos tocam.
Pensando em tuas mãos, 
saio de meu canto, 
concebo arrepios.
São todos musicais, 
como se tocados por ti. 

(DES)APONTAMENTO 38

Marte tem água. Os segregacionistas mudar-se-ão para lá? Ou para lá enviarão pretos e pobres? 

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

(DES)APONTAMENTO 37

Já definiram quando começaremos a destruir a água de Marte?... 

URGÊNCIA

Não é de hoje 
que meu corpo 
precisa do teu.
É hoje que
meu corpo
precisa 
do teu.
É agora
que meu
corpo
precisa 
do teu.
Agora. 

FASES DA LUA

A primeira das fotos desta postagem foi tirada às 17h57 do domingo, dia vinte e sete de setembro. A última, à 01h27 da madrugada de segunda-feira, dia vinte e oito. Tentei diferentes abordagens, mostrando a Lua em diferentes composições. A título de curiosidade, insiro na postagem duas imagens criadas por intermédio do Google Sky Map, aplicativo que mapeia o céu.
















terça-feira, 22 de setembro de 2015

VOLKSMAC

Nos EUA, a Volkswagen é acusada de falsificar informações sobre emissões de poluentes; no Brasil, auditores registram duzentos e sessenta e três adolescentes em atividades irregulares da rede McDonald’s no Rio Grande do Sul.

Num mundo ideal, haveria nosso boicote: iríamos a pé ou de bicicleta para o trabalho, compraríamos verduras do vizinho ou as plantaríamos em nossos próprios quintais. Mas agora é tarde. Em maior ou menor grau, todos somos vítimas, reféns e... fomentadores das corporações. É a síndrome de Estocolmo capitalista. 

CONTO 80

Abrantes tem desejos de nobreza, de aristocracia. Está certo de que nasceu no lugar errado. Fica embevecido pelo que vem de fora, tem indiferença pelo que é de seu país. Supõe-se rico. Quando no exterior, fabrica gestos e poses de urbanidades. Voltando para casa, maltrata a empregada. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

CORAL

Rastejante,
colorida. 
Mesmo capaz
de silêncio, 
tem muitas vozes, 
tem todas as vozes:
cobra-coral. 

(DES)APONTAMENTO 36

O Multishow mencionou nessa madrugada a conhecida história de que o Rod Stewart, antes de tentar a carreira como cantor, era coveiro. Digamos, pois, que ele tenha... surgido dos mortos... 

domingo, 20 de setembro de 2015

LANÇAMENTO DE LIVRO

Em breve, lançarei mais um livro. Dessa vez, pela Chiado Editora, que tem sede em Portugal. O livro será lançado no Brasil e em Portugal; poderá ser adquirido também no formato “e-book”. O título é Dislexias. A produção está na fase final: a capa já foi definida e as revisões derradeiras já estão ocorrendo. Brevemente, mais detalhes. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DA NATUREZA DOS MILAGRES

Quando pequeno, minha mãe recomendava que eu fosse à missa. Eu ia. Mais pela recomendação do que pelo desejo de ir. Ainda na pré-adolescência, eu abandonaria o hábito. Eu ia à igreja dos Capuchinhos, por morar perto dela. Na época, havia a chamada missa das crianças, que ocorria aos domingos, às 9h.

A igreja ficava cheia. Quando era chegada a hora de as pessoas receberem as hóstias, o padre ficava perto do altar; havia dois ou três ajudantes que iam para outros pontos, a fim de também distribuírem hóstias.

Eu sempre me tornava ansioso, por supor que não haveria hóstia o bastante para aquele tanto de gente; afinal, os cálices não eram grandes. Imagina se faltasse hóstia para os desejosos? Nunca faltou. Na minha cabeça, ocorria, durante a celebração, o milagre da multiplicação das hóstias. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

SOBRE LER

Um livro pode ser ponte. 
Um livro pode ser muro. 
O leitor pode ler ponte quando há muro.
O leitor pode ler muro quando há ponte. 
Seja por desaviso. 
Seja por má-fé. 

SIMPÓSIO SOBRE CYRO DOS ANJOS É REALIZADO

No fim de semana, participei, no Unipam (Centro Universitário de Patos de Minas), do Primeiro Simpósio de escritores de Minas: Cyro dos Anjos. Publico nesta postagem algumas fotos e a programação do evento. Publico também um texto meu sobre o escritor a que o simpósio era dedicado.

Programação

11/09

19h, abertura
19h15, apresentação musical: canções folclóricas de Minas, com o Grupo Tupam (Núcleo de Arte e Cultura/Unipam)
19h30, mesa-redonda de abertura:
Professor doutor Élcio Lucas (Unimontes): “O homem que espia o homem: o Belmiro por trás da letra”
Professor doutor Luís André Nepomuceno (Unipam): “A menina do sobrado: o amor e o belo como distintivos sociais”
Mediador: Professor Lívio Soares de Medeiros

12/09

14h, mesa-redonda 1
Professor mestre Carlos Roberto da Silva (Unipam): “O herói fracassado em O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos: notas de leitura”
Professora mestra Bruna Pereira Caixeta (doutoranda em Teoria e História Literária pela Unicamp): “A menina do sobrado e o romance não autobiográfico de Cyro dos Anjos”
Professor doutor Frederico de Sousa Silva (UFU): “Apontamentos clássicos em Cyro dos Anjos”
Mediador: Luís André Nepomuceno

15h45, mesa-redonda 2
Professor Moacir Manoel Felisbino (Unipam): “Ofício de escritor — da arquitetura textual à indagação acerca do sentido da vida em Abdias
Professor Lívio Soares de Medeiros (IFTM): “Poemas coronários, de Cyro dos Anjos: impressões de leitura
Mediador: Carlos Roberto da Silva

Belmiro Borba e Belmiro Montesclarino — Lívio Soares de Medeiros

Cyro dos Anjos publicou “Poemas coronários” em 1964. O livro havia sido escrito no ano anterior, de vinte e dois de agosto a dezenove de setembro, enquanto o autor estava internado. Os doze breves poemas que compõem o volume foram escritos na iminência da morte.

O autor logo anuncia um eu lírico para os poemas — Belmiro Montesclarino. De imediato, a “piscadela” nos remete ao narrador de “O amanuense Belmiro”, romance de Cyro dos Anjos. Ora, se por um lado há que se tomar certo cuidado ao associar a biografia do autor à sua obra, por outro, o próprio Cyro dos Anjos, ao nomear o eu lírico de “Poemas coronários” como sendo Belmiro Montesclarino, propõe um jogo lúdico-literário-biográfico. Afinal, Cyro dos Anjos é de Montes Claros; além do mais, ele, de fato, relembremos, esteve internado devido a problemas coronários.

Seria útil e didático comentar brevemente cada um dos “Poemas coronários”. A paráfrase deles que faço a seguir os empobrecerá, mas será útil para que se tenha uma visão global do que é, em minha leitura, o corpo do texto. Os poemas não têm títulos. Na ordem em que aparecem, enumero-os e comento-os a seguir:

Poema 1: celebra-se o nascimento do dia;
Poema 2: na iminência da morte, cria-se um deus;
Poema 3: não se quer nem o deus de Aristóteles nem o deus de Espinosa: quer-se um deus com zangas e birras, mas que seja bom;
Poema 4: confessa-se a fragilidade que se tem, bem como a dependência que se tem dos outros;
Poema 5: a morte é visita; pede-se que ela vá embora, pois há um filho para se criar;
Poema 6: não saber quem se é nem se o que se é vale para algo;
Poema 7: atmosfera de tristeza e de fragilidade. O tom é quixotesco;
Poema 8: expressa-se a alegria de estar vivo ao acordar (o que acaba remetendo o leitor ao primeiro poema do livro);
Poema 9: “O corpo vence a morte”;
Poema 10: a vida vale a pena, desde que vivida uns pelos outros;
Poema 11: a família do autor é apresentada;
Poema 12: a morte tem belo aspecto; desculpas são pedidas “aos poetas de ofício”.

Emerge da leitura dos doze textos o retrato de um eu lírico fragilizado, humanizado. Essa fragilidade se expressa em textos que não têm conhecidos (embora eficazes) truques literários. A literariedade, que poderia ter ficado mais evidente do que o que se confere na leitura, está em segundo plano (os textos, por exemplo, são classificados como poesia muito mais em função do aspecto visual do que pela cadência que têm); o que há são os medos, inseguranças e alegrias de quem está num hospital, temendo perder a vida. É como se o que importasse não fosse fazer literatura, mas, sim, registrar o que poderiam ser as últimas palavras a serem escritas por um paciente em um hospital.

O caráter frágil a que me referi acima é também estilístico. Os “Poemas coronários” se valem da retórica da falsa modéstia. Antes mesmo do primeiro poema, numa espécie de introdução, o eu lírico usa as expressões “lira ingênua”, “escritor menor” e “imperito nas artes poéticas”; no último poema, recordemos, esse mesmo eu lírico pede desculpas “aos poetas de ofício”. Cyro do Anjos, prosador que era, estava, nos “Poemas coronários”, pisando terreno que não percorria em sua trajetória de escritor. Essa falsa modéstia acaba por estar em sintonia com o tom espontâneo dos poemas.

De “O amanuense Belmiro”, valho-me de uma frase, a fim de realçar algumas diferenças entre o narrador do romance e o eu lírico dos “Poemas coronários”. Num dado momento, Belmiro anuncia: “Creio que já não quero o mito mas a pessoa”. A pessoa em questão é Carmélia, de quem Belmiro fala ao longo da obra.

Os “Poemas coronários” abrem mão de um mito, por assim dizer; abrem mão do mito literário. Em “O amanuense Belmiro”, há a construção de um personagem/narrador. Dito de outro modo: forja-se um personagem/narrador. Seria um tanto difícil para o leitor que não teve contato pessoal com Cyro dos Anjos apontar o que dele, Cyro dos Anjos, há em Belmiro. Em contrapartida, talvez um tanto irresponsavelmente, afirmo: o eu lírico dos “Poemas coronários” é Cyro dos Anjos. Se não o é plenamente, pelo menos o é em maior escala do que Belmiro Borba. Este passa o livro todo construindo um mito, seja por não ter Carmélia, seja por edificar uma persona literária. Quando não tem mais a capacidade de erigir mitos, desiste de escrever.

Nesse sentido, é curioso o quanto o narrador Belmiro é diferente do narrador Casmurro. Menciono isso por já ter havido comparações entre Cyro dos Anjos e Machado de Assis. À parte a concordância ou a não concordância quanto a tais comparações, Casmurro e Belmiro diferem nisto: aquele, terminada sua narrativa, já adquiriu o gosto pela escrita; tanto é assim que anuncia, nas linhas finais de “Dom Casmurro”, que iniciará a escrita de outro livro; já Belmiro, mesmo tendo escrito o segmento “esta literatura íntima é a minha salvação”, acaba por anunciar que não há mais o que escrever, pois a vida se tornara vazia. Um dá sentido à vida por intermédio da escrita; o outro abandona a escrita por ter perdido o sentido da vida.

























segunda-feira, 14 de setembro de 2015

FULANO, BELTRANO E SICRANO

“Por que hão de os homens separar-se pelas ideias? De bom grado, eu sacrificaria minha ideia mais nobre para não perder um amigo. Neste mundo, sou apenas um procurador de amigos”.
Cyro dos Anjos

1
Fulano torce para o time A.
Beltrano torce para o time A.
Deram-se bem por causa disso.

Fulano votou no candidato A.
Beltrano voltou no candidato B.
Fulano brigou com Beltrano por causa disso.

2
Fulano votou no candidato A.
Beltrano votou no candidato A.
Deram-se bem por causa disso.

Fulano torce para o time A.
Beltrano torce para o time B.
Beltrano brigou com Fulano por causa disso.

3
Sicrano, enquanto isso,
mudou-se para Miami. 

APONTAMENTO 281

É preciso duvidar de quase tudo, mas é preciso acreditar em algo. 

domingo, 13 de setembro de 2015

DO TODO À PARTE

Conhecer 
todo o prazer 
de que teu corpo 
é capaz.

Conhecer 
todo prazer 
de que teu corpo 
é capaz. 

ENSAIA

Saia de cara limpa,
saia da preguiça,
saia de cena,
saia do conforto.

Saia para o trabalho,
saia para casa,
saia para a escola,
saia para a noite.

Saia de pé.
Saia para o amor.

Se longa,
se velha,
se justa,
se nova,
se curta,
se larga...

Caso
se lembre
de mim,
saia. 

"EVERYBODY HURTS", DO R.E.M.

O pop/rock tem diversas canções tristes. Uma com um clima bem melancólico é “Everybody hurts”, do R.E.M. Por si, a voz do Michael Stipe já é merencória (o que, claro, não é problema algum). Não bastasse, em “Everybody hurts” o arranjo é lamentoso, o que acaba gerando um paradoxo instigante, pois a letra tem um tom que conclama à não desistência. A faixa tem uma voz triste, amparada por um triste arranjo, numa letra a qual diz que não se deve desistir. Uma bela canção. 

BUSCAS

Se não me entrego à poesia, 
ela me busca.

Se ela não se entrega a mim,
eu a busco.

Eu dependo dela. 
Ela não depende de mim. 

APONTAMENTO 280

Os sexos têm pontos em comum de que nem suspeitamos e diferenças de que nem fazemos ideia. 

CRUZEIRO E ATLÉTICO EMPATAM NO MINEIRÃO

Depois de um primeiro tempo chocho, Cruzeiro e Atlético fizeram um memorável segundo tempo há pouco, no Mineirão. Com Mena tendo sido expulso aos seis minutos da segunda etapa, a pressão do Atlético passou a ser grande, embora tenha sido o Cruzeiro, com Alisson e com Willian, a ter as grandes chances. Mesmo assim, a impressão que se tinha era a de que, devido à forte pressão que fazia, seria questão de tempo para que o Atlético marcasse. O que ocorreu, aos quarenta e três, por intermédio de Carlos.

Se o goleiro Victor falhara no gol do Cruzeiro, redimiu-se, defendendo o pênalti cobrado por Willian, que esteve ofuscado enquanto Luxemburgo comandou a Raposa recentemente. No duelo particular entre Cruzeiro e Atlético, dentro do campeonato brasileiro, a Raposa teve vantagem sobre o Galo, pois o Cruzeiro venceu no primeiro turno. Já os corintianos ficaram satisfeitos com o empate no Mineirão: o Corinthians está a cinco pontos do Atlético. 

domingo, 6 de setembro de 2015

"OPERILDA NA ORQUESTRA AMAZÔNICA"

Na noite de sábado, dentro da programação do Balaio, aqui em Patos de Minas, conferi o espetáculo “Operilda na orquestra amazônica”. Operilda é interpretada pela atriz Andréa Bassitt. Em cena, ela se apresenta ao lado dos músicos Elaine Giacomelli (piano), Clara Bastos (contrabaixo), Paula Souza Lima (violino), Joca Araújo (clarinete e flauta), Joyce Peixoto (trombone) e Cássia Maria (percussão). A direção musical é do maestro Miguel Briamonte. A geral, de Regina Galdino.

Trata-se de uma criação que é teatral e que é, ao mesmo tempo, musical. Agrada a crianças — com piadas criativas — e agrada a adultos — com humor criativo. Não bastasse, “Operilda na orquestra amazônica” conta a história de grandes compositores da música brasileira, ao mesmo tempo em que evidencia o espetáculo que é a natureza daqui.

No contexto em que vivemos, a produção se torna necessária para o Brasil, não para que ele olhe para si com benevolência ou com condescendência, mas para que ele olhe para si e enxergue um País talentoso, musical, criativo e de natureza exuberante. “Operilda na orquestra amazônica” inspira, mostra-nos que o povo brasileiro pode ser tão grande e exuberante quanto o chão que pisa.
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Consegui a foto via Facebook (https://www.facebook.com/Operilda). Não havia autoria do registro. 

APONTAMENTO 279

Não sei o que é mais danoso: se uma inteligência malévola ou se uma burrice malévola. Se igualmente danosas, diferem-se, contudo, nos métodos. Todavia, podem ser, ambas, eficazes.