quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O país dos maricas

Presidente, algumas perguntas a partir do uso que você fez de “maricas”...

Os 160 mil que, até agora, morreram por causa da covid-19 eram maricas? Ou alguns deles morreram porque quiseram ser mais machos do que os demais?

Maricas é quem não votou em você? É quem não votou em você e morreu de covid-19? É quem votou em você e morreu de covid-19? Quem não votou em você e não morreu de covid-19 é maricas? Ou maricas é quem usa máscara? É quem não quer transmitir a covid-19?

Você disse que “todos nós vamos morrer um dia”. Isso quer dizer que não temos razão para tomarmos precauções quanto à covid-19 devido ao fato de que “vamos morrer um dia?”. Esse mesmo “raciocínio” vale para outros contágios ou para outras doenças? Ou isso somente vale quando o assunto for a covid-19? Caso sim, por quê?

O mesmo vale, por exemplo, quando o assunto é o câncer? “Todos nós vamos morrer um dia”; logo, não devemos tratar o câncer nem devemos tomar cuidado com ele? Nem com a leptospirose? E quanto a possíveis facadas? Devemos deixar de ser maricas e não procurarmos um hospital caso levemos uma facada? Ou o “todos nós vamos morrer um dia” só é válido quando se trata da covid-19? Caso sim, por quê?

Você foi examinado por um médico quando teve covid-19. Isso é ser maricas? Ou maricas são os que procuram médico e, ainda assim, morrem? Quem não procura médico em caso de covid-19 provou não ser um maricas?

O que é, exatamente, ser um maricas? É quem não quer morrer devido à covid-19? É quem toma cuidados para tentar não morrer em breve? É quem toma cuidado para não matar os demais? O presidente de um país que deixa a população desse país sem ministro da saúde durante meses numa pandemia é um maricas? Ou isso é sinal de macheza?

Para que eu entenda sua “ideia”: o João tem covid-19 e a transmite para José, que morre de covid-19, transmitida por João. Quem é o maricas?... É o João?... Caso sim, por quê?... Caso não, por que não?... É o José?... Caso sim, por quê?... Caso não, por que não?... São os dois? Caso sim, por quê?... Caso não, por que não?...

De acordo com você, a pandemia foi “superdimensionada”. Já há 160 mil mortos. O que seria não “superdimensionar”? Seu critério é numérico? Tive apenas uma pessoa morrido, isso não importaria? (Se o critério for seu, sou levado a crer que não. Afinal, quando o exército matou, fuzilando, você declarou que “o exército não matou ninguém”. Isso é regra sua que tem validade somente para os outros? Ou ela tem validade para você?)

Cinco milhões já foram infectados pela covid-19. São maricas? Ou maricas são apenas os 160 mil que já morreram? Maricas é quem não teve covid-19 e tem medo de ter? É quem deseja que haja vacina?

O que é, com exatidão, um maricas? É um covarde? Um fraco? Caso sim, o que é um fraco para você? Ser maricas é não querer morrer? Ou é não querer morrer devido à covid-19?

Referindo-se aos que buscam os mortos pelo regime militar, você endossou cartaz com os dizeres “quem procura osso é cachorro”. Agora, você usou o termo “urubuzada”. “Animalesco”, você. Todavia, urubus se alimentam de carniça; assim fazendo, realizam trabalho de limpeza. A vida é assim mesmo: uns limpam, outros sujam; uns se alimentam do que já morreu; outros matam.