Tenho certa dificuldade em separar o trivial do épico. Não que eu não enxergue diferença entre eles. Todavia, a separação que faço deles é muito mais a partir de uma convenção herdada do que a partir do que há em mim. Há uma “miopia” em mim que me impede de separar o grandioso do banal.
Não que isso ocorra por eu subvalorizar o épico; sei reconhecê-lo. Dependendo das circunstâncias, eu me emociono com tudo aquilo que a grandiosidade é capaz de causar, seja na vida, seja na arte. Talvez o que eu faça é sobrevalorizar o trivial. Não a ponto de eu igualá-lo ao épico, pois estão em contextos diferentes, mas a ponto de inseri-los num mesmo nível, lado a lado, não havendo um que esteja mais abaixo ou mais acima do outro.
O que há, é a mania que tenho de insistir que existe algo muito significativo na aparente trivialidade que é a tônica da maioria de nossos dias. Os momentos grandiosos nas vidas das maiorias das pessoas são poucos. Pode ser que essa minha insistência em elevar o banal a um patamar que ele não deveria ocupar seja uma recusa inconsciente de minha parte em aceitar a monotonia e a chatice que talvez sejam o imperativo de boa parte das vidas.