Teófilo Arvelos, estudante e autor dos livros Parnaso e Lágrima, enviou-me texto de prova da Unicamp. O texto é de uma autora que eu não conhecia — Elena Ferrante. Esse nome é um pseudônimo. Segundo o que li, além de escritora, ela seria tradutora.
Ainda não conheço os livros escritos por ela. Preciso ir atrás deles. Depois de ler o texto que o Teófilo me enviou, acessei o site (o necessário e brilhante The Guardian) de que o escrito havia sido retirado. Na prova da universidade, o texto não estava na íntegra. Eu já havia gostado da versão editada; quando a li sem cortes, eu soube que seria necessário me dedicar a mais coisas de Elena Ferrante. Li todos os títulos que ela publicou na coluna que ela tinha no Guardian.
No site, fosse eu escrever sobre os textos dela em termos de gênero, eu diria serem crônicas, no sentido mais brasileiro que se possa dar ao termo, a boa e velha crônica ao modo dos grandes cronistas brasileiros do século XX. Ou, quem sabe, os textos de Elena Ferrante possam ser considerados apontamentos. Mas a questão dos gêneros textuais não me preocupa.
O material dela no jornal The Guardian é extremamente pessoal, mas transformado em algo universal a partir da linguagem, a qual é tema de um texto que alega exatamente o pensamento de que a universalidade está na linguagem, não nas circunstâncias ou nos estereótipos. A escritora não está preocupada em soar profunda, mas em burilar a linguagem, ato este que é a essência do fazer literário.
Metalinguagem, amor, sexo, amizade e questões femininas estão nos textos de Elena Ferrante. Ela escreve de modo comedido, elegante. Há um charme cerebral, altivo. Os textos da autora são a ponta do iceberg do cotidiano. Lemos o trivial; todavia, um trivial que nos deixa entrever suas complexidades a partir do depurado estilo da escritora.
Isso, por si, é motivo para que se confira os textos dela no Guardian. Só que o espaço merece ser frequentado devido a outra razão também, pois os textos de Elena Ferrante são ilustrados por uma artista chamada Andrea Ucini. Os desenhos dela são obras de arte em si; eles podem prescindir dos textos da escritora, embora, é claro, tenham com eles ligações íntimas. Elena Ferrante e Andrea Ucini nos ofertam felicidade em palavras e em imagens.