terça-feira, 28 de abril de 2015

NO BOTECO COM LÍVIO SOARES DE MEDEIROS — EDIÇÃO 5

No ar, mais uma edição de No Boteco com Lívio Soares de Medeiros. O entrevistado é o cantor e compositor Hebreu.
 

APONTAMENTO 245

Tem insônia quem sabe o poder que podem assumir gotas de torneira a pingar em intervalos regulares madrugada adentro. 

O TAMANHO DO DOCUMENTO

Se por um lado preciso escrever, por outro, padeço de medo mórbido de cansar o leitor — esse temor não merece perdão. Suspeito de que esse receio seja reflexo do que sou como pessoa. É que se eu pudesse escolher, eu percorreria as ruas e os ambientes sem que ninguém desse conta de minha presença; pudesse eu escolher, eu seria invisível.

A invisibilidade é impossível; ficar sem escrever é possível. Mas é uma possibilidade que não quero. Assim, busco um texto que seja pouco... visível, um texto que seja discreto. Numa autoanálise que pode estar incorreta, atribuo a pouca extensão de meus textos ao desconforto que sinto quando sou visto. Não que eu acredite haver trilhões de pessoas dando-se conta de quando estou nas proximidades. A questão não está na quantidade, mas no simples ato de ser visto.

Desde quando comecei a escrever, tenho tido o anseio de escrever textos que fossem mais longos do que os que escrevo, sejam eles ensaios, sejam poemas, sejam contos. Contudo, todas as minhas tentativas foram infrutíferas. Mesmo assim, continuo insistindo em textos maiores, apesar de conviver com uma voz a me sussurrar que é mais sensato polir o que sei fazer, em vez de ansiar pelo que não sei.

Quando comecei a escrever, optei por textos curtos. Penso que isso se deve às leituras de fim da infância e de começo da adolescência. Meu pai lia um jornal chamado Boletim Informativo. Era muito comum o periódico veicular frases do Millôr. Depois, passei a ler os epigramas da seção Dito e Feito, que fazia parte da Superinteressante. Por fim, a coleção O Pensamento Vivo (leitura da adolescência), publicada pela Martin Claret, realçava epigramas dos biografados.

Tudo isso é teoria. A essas cogitações, é preciso acrescentar uma vergonhosa e farta dose de indisciplina. Ao mesmo tempo em que eu realizava o tipo de leitura mencionado no parágrafo anterior, eu lia romances, ensaios e biografias. Como leitor, nunca tive problemas com escritos de maior fôlego; como quem escreve, sempre tive. Por isso mesmo, já passou da hora de eu terminar este texto.