O Brasil anda carente de beleza, de inteligência e de magnanimidade. Com a pandemia, os encontros, dentre os que têm consciência, tornaram-se menos frequentes. A má gestão do vírus da covid pelo governo federal e a existência gritante do bolsonarismo, nenhum deles capaz nem de ciência nem de arte nem de inteligência, perfazem um Brasil feio, pleno de meninos valentões — mas que, na hora do aperto, quando confrontados com a justiça que teimam em banir, choram como o que são: criançolas que só entendem sons guturais e que não suspeitam de algo chamado raciocínio, de algo chamado maturidade.
Os detentores da grana e do poder deixaram de ser os mesmos que pertenciam à classe dos intelectuais. Sedimentada essa separação, os ricos do Brasil cooptaram a classe média e fazem dela o que quiserem, a ponto de essa classe média se achar culta, sofisticada e rica porque foi a Paris ou a Nova York e porque leu os livros da moda. Os intelectuais, por sua vez, não têm mais espaço nem na imprensa nem nos meios de comunicação, que se tornaram porta-vozes da burrice e dos preconceitos arraigados em seus fundadores, membros de uma oligarquia que se atribui ares de importância, não se dando conta que cheiram a naftalina, a despeito dos perfumes caros que compram (não há essência que resolva o problema de uma mentalidade retrógrada e nada generosa).
O anseio por beleza, inteligência e magnanimidade está em todos. Os bolsonaristas não têm a capacidade de perceber isso, mas mesmo dentre eles o anseio de algo elevado e significante existe. Para os que não aderiram à perversidade do bolsonarismo, a consciência de um país mais pobre, menos inteligente e com capacidade de beleza obliterada faz com que a busca pela elevação e pela inteligência seja isolada exceção, e não congraçamento, para o qual nascemos, por mais que o bolsonarismo berre o contrário; ele berra por não saber refinar, sutilizar nem embelezar a linguagem.
A beleza e a inteligência nunca devem se calar. Há momentos em que elas têm de ser mais contundentes. Não na esperança de convencer bolsonaristas, não na esperança de sensibilizar mentes toscas. A beleza e a inteligência têm de se esgueirar para que mentes belas e inteligentes sintam que não estão mesmo sozinhas. Por mais que, no campo das ideias, alguém saiba que não está sozinho, é sempre reconfortante quando se tem prova material dessa não solidão. Não caio nessa balela de que o Brasil é maior do que o bolsonarismo; o Brasil é tão ridículo quanto o bolsonarismo. Todavia, sei que o país não é somente o bolsonarismo; o país é capaz de beleza e de inteligência.