sábado, 21 de janeiro de 2017

Raduan Nassar na revista The New Yorker

A sempre imprescindível revista The New Yorker publicou em seu site matéria sobre Raduan Nassar, autor de “Lavoura arcaica”, “Um copo de cólera” e “Menina a caminho”. Quando se fala no escritor, é inevitável que se fale sobre as curtas e geniais obras-primas “Lavoura arcaica” e “Um copo de cólera”, bem como é inevitável que se fale da decisão de Nassar de não mais escrever.

A New Yorker não é exceção. Ao mesmo tempo em que Alejandro Chacoff, autor da matéria, elogia o texto denso e enxuto do escritor, o artigo joga luz sobre o que Nassar tem feito depois de abandonar a carreira literária — vem se dedicando a atividades agrárias, cuidando de fazenda que tem no interior de São Paulo.

A questão política também é abordada no texto da New Yorker. Mencionam o fato de Raduan Nassar ser contra o golpe de Temer e o fato de ele recentemente ter doado terreno para a Universidade de São Carlos. Esse episódio levou a uma rara aparição pública do escritor. A matéria da revista pode ser conferida neste link

Conto 89

Há dois anos, Jana estava se prometendo iniciar uma fase de leituras sobre filosofias do oriente. Enquanto seguia sem abrir página alguma, frequentava as aulas de Josué, que era dado a práticas que dizia serem orientais. Ele atraía vários pupilos. Jana, por sua vez, quase achou estranho ao ficar sabendo que seu guru era desonesto com os funcionários que tinha e que não dava a menor atenção para a mãe dele, que morava num asilo. 

Entrevista para livro sobre fotografia

Em 2015, os estudantes do então quinto período de letras do Unipam, sob a coordenação do professor Geovane Fernandes Caixeta, fizeram um projeto voltado para a fotografia. Dessa ideia, nasceu o livro “Patos de Minas retratada: seu espaço, seu povo, sua cultura”.

O livro contém entrevistas com fotógrafos locais. Camila Andrade, que na época era aluna do curso de letras, entrou em contato comigo para que eu fosse um dos entrevistados. Abaixo, o que respondi. As perguntas me haviam sido enviadas por e-mail. 
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1) Para você, qual é a importância da fotografia?

Penso, a princípio, numa importância individual, no sentido de o sujeito supor que tem o talento para fotografar — e, a partir daí, investir, seja em conhecimento, seja em equipamentos. Dito de outro modo: a fotografia pode ser a felicidade de uma pessoa. Contudo, há a importância social da fotografia, não importa a temática registrada. A fotografia é um outro modo de se contar uma história. Como possibilidade de registro histórico, ela, a fotografia, não vale nem mais nem menos do que outros registros, do que outras mídias. A fotografia é um jeito de contarmos que estivemos aqui e que fizemos algo. É um jeito de contar para o outro um pouco das complexidades do mundo.

2) O que não pode faltar em uma fotografia?

Não pode faltar (ou não deveria faltar) a vontade real de se ter uma boa fotografia, não importa o equipamento que se use. Com as facilidades tecnológicas e com as redes sociais, a fotografia se popularizou, o que é bom. Contudo, a fotografia é algo maior do que registros do que pessoas fizeram num fim de semana; ela é isso também, mas é mais. Nesse sentido, o que não pode faltar numa fotografia, reitero, é o desejo genuíno de se ter um bom registro. No caso de o fotógrafo ser profissional, a técnica ajuda na realização desse desejo.

3) Quais os requisitos para um ingressante se tornar um profissional reconhecido?

Eu não saberia dizer que requisitos são necessários para se tornar um profissional reconhecido. Há muita gente muito talentosa que não é reconhecida. À parte isso, eu poderia arriscar alguns requisitos para que a pessoa seja profissional: dedicação, estudo, teoria e prática; dito assim, parece fácil, mas a linguagem fotográfica é por demais plena de possibilidades. Vejo o fotógrafo profissional como alguém que domina a técnica, mas cujas fotos não são “frias”, destituídas de um elemento que pode ser chamado de espontâneo, de natural ou de algo similar.

4) Que momento(s) na vida de uma pessoa não pode(m) passar sem ser fotografado(s)?

Sem a menor intenção de querer soar exagerado, digo: todos os momentos da vida de uma pessoa mereceriam um registro fotográfico. Obviamente, é impossível haver isso na prática. Desse modo, cabe a cada um decidir o que merece ser fotografado. Não há uma “receita” universal sobre quais momentos não podem deixar de ser registrados.

5) Que fotografia ainda não fez e que gostaria de fazer?

Eu gostaria de fotografar uma mulher adulta, madura, produzida como se fosse receber o Prêmio Nobel. Só que o ambiente em que eu a fotografaria nada teria de sofisticado: eu gostaria de fazer os registros nos bares dos bairros da cidade — de preferência aqueles bares que têm mesa de sinuca e garrafas de pinga na prateleira de madeira.

6) Que tipo de fotografia desafia um profissional?

Novamente, penso não haver uma resposta universal. Penso haver dois tipos de desafio quando o assunto é fotografia: um deles é a foto que ainda não foi feita, mas que o fotógrafo suspeita de que conseguiria fazer; o outro é fotografar algo que fuja da temática geralmente feita pelo profissional. Em meu caso, fotografar animais selvagens nas savanas da África seria o primeiro tipo de desafio; já fotografar modelos em estúdio pertenceria ao segundo tipo.

7) Como você vê a influência da tecnologia na área da fotografia?

Não é raro escutar que a tecnologia, em especial o celular, teria banalizado a fotografia. O que às vezes chamam de banalização, prefiro, sem eufemismo, chamar de popularização. Não encaro a popularização da fotografia como algo ruim. O sujeito que leva a fotografia a sério, se tem em mãos, digamos, um celular qualquer, ainda assim tentará fazer o melhor registro, caprichando, por exemplo, na composição. E se o sujeito tem um equipamento digital que tenha recursos, é preciso lembrar que a essência da fotografia não mudou. Dito de outro modo: as técnicas relativas à abertura e à velocidade são as mesmas desde sempre. A tecnologia influencia ao facilitar, ao tornar mais prático, mas ela, em si, não substitui o talento.

8) Qual a sua opinião sobre fotografia em Patos de Minas?

Levando-se em conta o tamanho da cidade, que é pequena, há um belo número de excelentes fotógrafos, dos quais alguns são jovens. Isso é ótimo. Além do mais, há muita gente que não vive da fotografia mas que tem feito excelentes trabalhos.

9) Você gosta de se fotografar e de ser fotografado?

Não gosto de me fotografar, não gosto de ser fotografado. Sou feio para essas coisas.

10) Conte uma história que o marcou relacionada a uma de suas fotografias.

São várias; muitas delas estão em meu blogue. Neste momento, lembrei-me de uma foto que tirei certa vez de um porco-espinho; a rigor, pude tirar várias fotos dele. Os registros foram feitos no Bairro Copacabana, aqui em Patos de Minas. Na época, houve uma enchente, não sei se do Rio Paranaíba ou se de um córrego que há nas proximidades do Copacabana. O que importa é que, devido à enchente, animais que ficavam mais afastados da cidade acabaram sendo trazidos para perto da área urbana. Estando de moto, reparando no ambiente, olhei para uma árvore e pensei avistar um ninho ou algo assim; chegando mais perto, dei-me conta de que se tratava de um porco-espinho. Enquanto eu o fotograva, fui abordado por uma patrulha da Polícia Militar. Quando desceram, ameaçaram-me; quando perceberam que eu estava fotografando, acalmaram-se — de longe, haviam pensado que minha câmera, com uma longa lente nela acoplada, fosse uma arma; de longe, supuseram que eu estava atirando no porco-espinho. 

Apontamento 360

Não basta queimar incenso para ser místico.