O poema conheceu praticamente todas as minhas calças. Eu o escrevi há alguns dias. Durante a feitura, eu não estava em casa. Sendo assim, dobrei o papel e o coloquei no bolso traseiro. Naquele dia, tendo trocado de roupa após o banho, peguei o poema e o coloquei no bolso de trás de outra calça.
O ritual foi assim até o dia de hoje; à tarde, o poema elegeu para si um novo destino. Por certo, cansou-se de minha procrastinação em passá-lo a limpo. Sem ser burilado, ele ia sendo amassado. Não se deve ignorar o que se conquista.
Assim que me pus de pé, dei-me com o poema. Era possível ler a caligrafia azul sobre a superfície do papel dobrado. O Drummond recomendou: “Não colhas no chão o poema que se perdeu”. Não o colhi. Mas foi com pesar que dei descarga.