Há uma violência que é evidente, como a que ocorre, por exemplo, quando o exército dispara centenas de tiros contra inocentes. Ainda que algum político diga que o exército não matou ninguém num caso como esse, isso é algo violento, bem como é violento um torturador ou quem quer resolver as coisas distribuindo porradas em quem faz perguntas que devem ser respondidas.
Todavia, há outro tipo de violência que é sorrateira, sub-reptícia, sutil, melindrosa. O objetivo dela é destruir a inteligência, a sagacidade, o pensamento, a ciência. Aliás, o objetivo dela é fazer com que essas conquistas estejam disponíveis para poucos. Pode-se acabar com uma rede de farmácias populares desde que os ricos possam se valer da ciência em hospitais particulares; pode-se taxar livros, impedindo o acesso do pobre à leitura, desde que os ricos possam enviar os filhos para serem formados no exterior.
A violência evidente é mostrada por intermédio da imprensa sensacionalista. É o sangue que jorra das telas de TV, que escorre das páginas dos jornais e que tinge as telas dos computadores. Já a violência sutil demanda alguma inteligência para ser percebida e algum esforço para ser criticada, o que aumenta sua eficácia. Como consequência, passa a ser louvada também por parte daqueles que são vítimas dela.