O Neruda, no “Confesso que vivi”, escreve que não há emoção que se compare à que acontece quando um autor tem em mãos, pela primeira vez, o primeiro livro que escreveu. Isso não me saiu da cabeça, pois, quando li o “Confesso que vivi”, eu já tinha a intenção de em algum dia publicar um livro.
Não me emocionei quando tive em mãos um exemplar do Leve poesia, meu primeiro livro. Na época em que o livro foi editado, as gráficas enviavam para o autor o que chamavam de boneco: em folhas de sulfite devidamente dobradas e grampeadas, havia a diagramação do livro, o aspecto de como ele ficaria quando pronto. Esse boneco servia para que uma última revisão no escrito fosse feita.
Quem me entregou o boneco do Leve poesia foi o Lazinho, um vizinho de infância que tive. No tempo em que o livro estava sendo feito (a obra foi lançada no fim de 2000), o Lazinho trabalhava na gráfica onde o Leve poesia foi impresso. Como ele me conhecia, trouxe até mim as folhas de sulfite dobradas e grampeadas. Eu me emocionei com o boneco! A simples “cara” de livro que ele tinha foi o bastante para me comover. Fiquei muito feliz. Depois, quando tive, de fato, o livro em mãos, não senti nada. “Gastei” a emoção com o boneco.