quinta-feira, 31 de julho de 2014

ATERRISSAGEM

Eu sempre me perguntava para onde iam os tucanos. Hoje, sei que pousam em Cláudio. 

CANTOR E COMPOSITOR PIÊIT LANÇA SEU TRABALHO NO DIA 15

Um dos artistas que compõem o cenário local na área da música é Piêit. Seu EP, intitulado “Demasiado”, vai ser lançado no dia quinze de agosto no Teatro Municipal Leão de Formosa (nas redes sociais, parte do trabalho já havia sido divulgada). A cantora Lizandra vai lançar o EP dela no mesmo dia, também no teatro (sobre ela, comentarei em outra resenha).

O trabalho de Piêit tem oito faixas. Duas delas constam como bônus; estas são canções gravadas pela banda Jackdown, de que Piêit era integrante. Dado a questionamentos e a letras reflexivas, não seria exagero dizer que “Demasiado” tem um viés existencialista.

O vocal de Piêit ora é suave, ora é “agressivo”. Usa a região grave ao cantar, embora não raro se valha do falsete em suas interpretações. As faixas criam um clima, uma atmosfera em que se vislumbra aqui ou ali uma pitada de rock progressivo. Ou então uma gradação que começa suave e termina intensa; a canção que dá título ao trabalho é um bom exemplo disso.

A despeito do viés existencialista a que me referi acima, o EP abre com “Acredito na vida”, que tem, como o título já deixa entrever, letra otimista; a pegada é pop-rock. Em contrapartida, “Deep up”, que vem logo a seguir e é cantada em inglês, num astral melancólico, quebra o tom otimista de abertura. “Deep up” tem temática amorosa; o mesmo vale para “I’m not crazy”, também cantada em inglês.

É inevitável a gente escutar o trabalho de alguém e tentar “rastrear” as influências recebidas pelo artista. Piêit parece ter bebido na vertente reflexiva do pop-rock. Na letra de “Maré de pé” há a pergunta: “Por que estou esmorecendo?”. A pergunta dá bem o tom intimista do EP; os arranjos das canções fazem jus a esse intimismo.

Em sua carreira musical, Piêit tem sido presença no cenário independente da música brasileira. O cantor e compositor já participou de festivais Brasil afora (em Patos de Minas, já participou do Festival Marreco). No dia quinze, Piêit vai escrever, ao vivo, mais uma página de sua música. 

O CENÁRIO DA MÚSICA LOCAL

A popularização da tecnologia influenciou também o modo de se fazer música. Há trinta ou quarenta anos, um artista que morasse em Patos de Minas teria muita dificuldade em registrar seu trabalho musical. Se quisesse uma qualidade melhor, ver-se-ia obrigado a gravar fora da cidade.

Hoje, é possível fazer o registro por aqui. Além do mais, e novamente graças à tecnologia, o intercâmbio de informações e o acesso a novidades e ao passado é bem mais fácil. O resultado desse contexto é que muita gente, em muitos lugares, tem produzido. A cena local não é diferente.

A internet é uma baita ferramenta de divulgação. Entretanto, o artista, no mais das vezes, continua atrelado a um esquema de divulgação que passa por gravadoras, rádios e TVs para que seu trabalho reverbere em escala maior. Para quem não é conhecido, a divulgação via internet, salvo exceções esporádicas, é pulverizada: um escuta daqui, outro escuta dali, mas não há, de modo efetivo, um alcance que leve a turnês lucrativas ou a execuções em rádios. Mesmo com a internet, o esquemão gravadora/rádio/TV ainda impera.

Em contrapartida, se o artista se vê contente em realizar seu trabalho de modo independente, sem intenções de arrebanhar turbas, o cenário que se tem hoje é perfeito. O acesso a tecnologias é fácil e o custo de gravação em estúdios é viável. Essa conjunção tem feito com que mais artistas gravem seus trabalhos musicais.

O que Patos de Minas tem de melhor não são seus políticos provincianos, os dois grupos que há décadas se revezam no poder. O que a cidade tem de melhor são seu povo e seus artistas. Musicalmente, a cidade tem vivido um belo momento.

Há uma leva de gente jovem e criativa que tem se valido das facilidades proporcionadas pela tecnologia para criarem trabalhos autorais, criativos, contemporâneos e cosmopolitas. Sintonizados e talentosos, esse pessoal tem sido os protagonistas de uma bela página da música que tem sido feita na cidade.

Aqui e ali, é possível detectar as influências de que alguns deles se valem. Contudo, essas influências são diluídas, mesclam-se e formam trabalhos que têm identidade e brilho próprios. Não bastasse isso, os artistas não estão preocupados em soar, por assim, patenses, o que faz com que acabem fugindo de um bairrismo pueril. Não se trata, contudo, de negar quem se é; trata-se, sim, de ser artista, de procurar uma linguagem que seja pessoal e musical.