segunda-feira, 31 de maio de 2021

Copa América (2)

Propostas para compras de vacinas contra a covid são recusadas durante meses. Realização da Copa América é acatada de imediato. Enquanto isso, muitos dos que ainda vão morrer de covid estão apoiando Bolsonaro. A ideia é haver torcida na final da Copa América. É que o vírus não mata a classe média que se veste com a camisa da seleção brasileira. 

Rita

Rita festejou o aniversário de um dos irmãos com parentes e com amigos. Havia em torno de cinquenta pessoas na celebração. Quando disseram a ela que reunir pessoas era algo arriscado por causa da covid, Rita disse: “Não vou morrer disso. Deus não faria isso comigo”. Dias depois, Rita morreu de covid. Deus nada fez. 

Copa América

Tiago vestiu a camisa da seleção brasileira.
Depois, foi a um bar.
Entre amigos, torceu, gritou,
compartilhou covid.
Dias depois, assistindo à 
seleção pela TV,
com futebol, sem vacina,
em leito de hospital,
morreu no exato momento
de gol da seleção oponente. 

domingo, 30 de maio de 2021

Quando não ser notícia é bom

No Brasil, a chamada grande mídia praticamente não noticiou os protestos de ontem contra o governo federal. Felizmente, hoje, não dependemos mais do que o Tutinha veicula na rádio dele para ficarmos informados, não precisamos mais da família Marinho para saber o que acontece, O Globo, Folha de S.Paulo, Estado de Minas e o Estadão servem para embrulhar mandioca. Além do mais, o fato de esse pessoal praticamente não mencionar as manifestações de ontem é sintomático: tivessem elas sido pequenas, teriam sido destaque nos veículos oligárquicos. Não nos esqueçamos de quando a Globo não noticiou, no fim da ditadura, robusto comício a favor das eleições diretas. 

domingo, 23 de maio de 2021

Apontamento

Todo mundo é, do tempo em que vive, beneficiário e vítima. 

Apontamento

Apoia Bolsonaro não comprar vacinas, foi para o exterior se vacinar. Para uma grande parcela da classe média, fácil defender atrocidades de que ela não é vítima. 

sábado, 22 de maio de 2021

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”

Muitos dos que se dizem religiosos alegam falar como se inspirados por deus, enquanto agem como se conduzidos por demônio. 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Apontamento

Supondo-se protegidas por um deus muitas pessoas abrem mão de suas responsabilidades para consigo mesmas e para com os outros. 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Diálogo pedagógico (4)

     — Está havendo reuniões, conferências, simpósios, seminários, apresentações, debates... É gente preparada, competente. Estão propondo o ensino híbrido. Esse pessoal manda bem.
      — O mais legal é que cada um deles está em sua casa. Além do mais, nenhum deles entra nem vai entrar numa sala de aula. Eles agem nos bastidores, são os que verdadeiramente fazem a engrenagem funcionar. E, claro, não podemos esquecer que escolheram o melhor momento para o retorno presencial das aulas, justamente quando a pandemia está matando mais do que nunca.
     — Sim! A ideia é a de que, por exemplo, na segunda-feira, seja colocada em risco, de acordo com os diários dos professores, a vida dos que vão de A a I; na terça-feira, é a vez do pessoal que vai de J a S; por fim, na quarta, os demais. Na quinta, retorna o pessoal de A a I; a coisa, então, segue. Mas isso pode ser modificado caso uma sala tenha, por exemplo, muitos nomes com a letra G.
     — Saquei. E depois tem gente que ainda reclama da burocracia... 

Analclézio

Do facínora, Analclézio aplaude a compra de tratores para “amigos” políticos do “herói” que elegeu, bem como aplaude a tentativa de inserção da covid em bula de remédio que não é para extirpar a doença. Não se dá conta de que pode morrer por causa dela, tomando medicamento ineficaz contra o coronavírus. Quanto aos tratores, os homens que os têm, quando muito, proporão a Analclézio que puxe carro de bois. Se até lá não tiver morrido de covid, empanturrado de remédio contra vermes, deles será vítima, fazendo, com pungente senso “patriótico”, enquanto toma chibatadas e range, o carro se movimentar. 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Vanidade

Aceito tranquilamente o fato de que a vida pode ser inútil, de que ela pode ser em vão. Não sou dos que têm fé. Isso não quer dizer que eu abra mão da vida. Estou ciente de que ela pode ser vanidade, mas, como na canção do Skank, “acredito em tanta coisa que não vale nada”. 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Em Patos de Minas

Em redes sociais, lamenta o ocorrido com a grande árvore na Getúlio Vargas de Patos de Minas, a senhora que aplaude a motosserra sanguinária de Bolsonaro. Hipocrisia nacional com tempero patense. 

Diálogo pedagógico (3)

[Nomes fictícios.]

     — Oi, Ana, tudo bem?
     — Tudo, Gabi.
     — E como é que tá lá na escola? Com essa pandemia, tá tudo tão difícil... E as aulas?
    — Ah, sim. Me reuni com as autoridades. Claro, reunião on-line. Decidimos voltar. Cada dia, uma porcentagem de alunos vai estar em sala. Já comunicamos os pais.
     — Entendi. Então o Enzo volta pra sala de aula em breve.
     — Nada disso. Filho meu só entra em escola quando todo mundo tiver sido vacinado.

Diálogo pedagógico (2)

       — Filho, como foi o retorno às aulas?
       — Ah, em seus gabinetes ou em suas casas, os de sempre, os que fazem de conta que se importam com a educação e com a vida estão fingindo que não há mais pandemia. Funciona assim: primeiro, coloca-se em risco uma parte dos alunos, professores e funcionários das escolas; no dia seguinte, coloca-se em risco a outra parte. O nome chique e canalha que deram pra isso é ensino híbrido. 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Diálogo pedagógico

            — Filho, como foi o retorno às aulas?
        — Houve algumas pequenas mudanças, mas levando-se em conta a epidemia e levando-se em conta que nem professores nem funcionários nem alunos foram vacinados, não fiquei com nenhuma dúvida quanto aos horários que terei pra levar a morte pra lá ou pra trazê-la pra cá. 

sábado, 1 de maio de 2021

Guedes

Empregada doméstica viajando, expectativa de vida aumentando, filho do porteiro estudando. Paulo Guedes reclamou de tudo isso. Essa mentalidade segregacionista já estava clara antes da eleição. O projeto já era divulgado por Bolsonaro, reitero, antes da eleição. O eleitor o endossou. Dizer que não estava ciente de que o banimento do pobre já era um projeto político é hipocrisia. 

Ovelha

Se não for para se desgarrar, perda de tempo ser ovelha. 

Orquestra de Ouro Preto executa canções do A-Ha

O Danny Elfman, quando ainda era vocalista do Oingo Boingo e quando ainda não compunha para orquestra, disse, certa vez, em entrevista, que o sonho de todo roqueiro é compor para orquestra. Ele levou a sério o que disse e, hoje, compõe para orquestra, tendo já realizado memoráveis peças eruditas para trilhas sonoras de filmes.

A Orquestra de Ouro Preto, em seu canal no YouTube, veiculou neste sábado, primeiro de maio, canções do grupo norueguês A-Ha. Suponho que os integrantes da banda pop não vão ficar sabendo da execução feita pela orquestra.

À parte isso, é difícil imaginar uma consagração maior para um compositor de pop/rock do que ter a criação dele tocada por uma orquestra. Esse tipo de iniciativa rompe a divisão entre o que é erudito e o que é popular, algo que sempre me fascinou, não importa a arte em que isso ocorra.

O grande texto sobre esse assunto foi escrito por Michael Kamen, que foi o regente da orquestra na gravação do álbum S&M, que tem o Metallica se apresentando com orquestra. O texto de Kamen, que pode ser conferido no encarte do CD, é emocionante e reflete o amor à música. Kamen relata, dentre outras coisas, a tensão inicial dos músicos da orquestra e a, que foi surgindo aos poucos à medida que a apresentação prosseguia, curtição a que se entregaram. 

O maestro chega a mencionar que durante a execução de uma peça clássica, caso uma corda de um violino arrebentasse durante o concerto, isso seria motivo de preocupação para o músico. Mas num show com o Metallica, a corda arrebentada estava, digamos, em sintonia com o espírito roqueiro. 

Em ocasiões assim, há um saudável descompromisso, os músicos da orquestra parecem ficar mais à vontade do que numa apresentação de repertório erudito. Durante a apresentação da Orquestra de Outro Preto, mesmo sentada, uma violinista, não resistindo ao contágio, dança, num belíssimo momento.  Que o show prossiga.