quinta-feira, 18 de setembro de 2014

CIVIL

Foi-se o
súdito.
Como que
súbito,
surgiu o
cidadão. 

UMA BARATA!

Todo mundo sabe que baratas têm o dom do voo. Não sei se o passeio delas pelos ares é gracioso. Sei que sabem voar. Do que não sei também, é do motivo que as fazem voar tão pouco. Eu, por exemplo, se tivesse asas, pouco ia querer saber de chão. Quanto às baratas, talvez a autonomia de voo com que a natureza as fez permita com que elas fiquem apenas alguns segundos no ar.

Já observei que quando está fazendo calor elas aparecem em maior número e saem voando por aí. Pouco depois da meia-noite desta quinta-feira, enquanto eu assistia a um filme, uma barata entrou voando pela janela. A princípio, nem me dei conta de que fosse um dos integrantes da família dos blatídeos. Só depois de ela pousar no sofá em que eu estava deitado é que percebi ser mesmo uma barata.

Levantei-me correndo (eu estava deitado no sofá) e já fui pegando o chinelo para matá-la. Só que ela continuou passeando por onde eu estava deitado. Desse eu uma chinelada no inseto enquanto ele ainda estava no móvel, eu teria de limpar a meleca depois. O jeito foi me aproximar, na esperança de afugentar a barata para um lugar em que eu pudesse esmagá-la com o chinelo.

A danadinha, sacando minha intenção, só deu uma piscadinha e se esgueirou literalmente para dentro do sofá, usando uma fresta disponível entre o encosto e o local em que a gente se senta. Confesso que ela me deixou desconsertado, pois tão logo se escondeu, eu soube que eu não voltaria a me deitar no sofá enquanto de dentro dele ela não saísse.

Já irritado com o joguinho proposto por ela e com o “calor ensurdecedor”, conforme disse no Linha de Passe, na segunda-feira, o Mauro Cezar Pereira, citando alguém de que não me lembro, fiquei alguns segundos parado, na esperança de a barata sair do esconderijo. Isso ocorreu; contudo, mal dei alguns passos, ela voltou para dentro do sofá.

Houve um tempo em que existia inseticida aqui em casa; de olho na entrada da toca em que a barata estava, afastei-me um pouco e olhei para a direção em que antigamente ficava o frasco de inseticida. Nem sinal dele. Já um tanto conformado, comecei a recolher os itens de que eu precisaria pela manhã, quando saísse para o trabalho; resignado, já havia decidido que terminaria de assistir ao filme, que estava sendo executado por intermédio de um “notebook” conectado à TV, numa outra ocasião.

Foi quando nossa amiga deu as caras outra vez. Fiquei então imóvel, sem respirar, na esperança de que ela saísse do sofá — o que ocorreu. Tendo ela começado a percorrer a parede, agi rápido e dei uma chinelada... Não acertei em cheio; a barata caiu no chão, só que atrás do sofá, que fica encostado na parede. Fiquei com a impressão de ter atingido parcialmente o inseto voador, embora sem a certeza de que havia sido mesmo assim.

Aguardei alguns minutos; a barata não aparecia. Decidi então recolher uma camisa, que estava sobre um sofá menor, e o “notebook”. Foi quando a barata, toda buliçosa, começou a desfilar outra vez pela parede. Tinha um aspecto ótimo. Parecia não ter sido parcialmente atingida minutos atrás. Mas se não havia sido, por que caiu? Seria manha dela?

À parte cogitações inúteis, fiquei quieto, a fim de assuntar para onde ela iria. Foi até o teto, aproximou-se do canto da parede e começou a descer. Agi rápido. Antes que ela pudesse pensar em algo, apliquei impiedosa chinelada: foi tão eficaz que foi como se a barata nunca tivesse existido.