quarta-feira, 10 de abril de 2019

A inflação e as mangas

Mais um índice do governo federal neste ano: a inflação do mês de março atingiu a maior taxa desde 2015, segundo o Valor: 0,75%. Todavia, o próprio governo já deu a solução para o problema, pelo menos no que diz respeito à alimentação: se faltar grana para a comida, a ministra da agricultura, pecuária e abastecimento, Tereza Cristina, dá a dica: “Nós não passamos muita fome porque temos mangas nas nossas cidades”.

Não sei como estão os mangueirais no Brasil afora. Nas palavras da ministra, “não passamos muita fome”, o que autoriza a conclusão de que há quem passe alguma fome; e que só não passam mais fome graças às mangas; ou que se o sujeito estiver com fome, é só ele se valer de mangas, já que, de acordo com a ministra, há delas em nossas cidades. De fato: daqui de casa, pude divisar dois pés de manga, um em cada um de quintais nas redondezas.

A fala de Tereza Cristina também autoriza concluir que aquele que por ventura estivesse passando fome poderia ter uma alimentação à base de manga; ou só de manga, já que se o sujeito não tem dinheiro para comprar outros alimentos, restaria a ele a opção de ir ao pé de manga mais próximo e colher uma fruta. Se ela não estiver totalmente madura, esse sujeito pode, talvez, pedir algum sal emprestado, na tentativa de temperar a iguaria.

A ministra não revelou dados sobre se o número de mangueirais atenderia de modo apropriado os que têm fome. Mas caso ela concorde com o pensamento do Paulo Guedes, pode ser que ela esteja levando em conta que, dependendo da situação, quando o sujeito se aposentar, recebendo quatrocentos reais por mês, como a reforma da previdência prevê num dos casos, haverá, quem sabe, dinheiro para comprar... mangas, as quais, além de estarem à disposição, segundo Tereza Cristina, nas cidades, podem ser adquiridas nas casas do ramo. 

Trabalhos meus à venda

Fotos de minha autoria estão à venda em bancos de imagens. Podem ser adquiridas por intermédio deles ou diretamente comigo. Concentro-me principalmente sobre a fauna e a flora do cerrado, bioma em que vivo; as fotos podem ser itens de decoração.

Eu me dedico também à literatura, tendo já lançado seis livros (os últimos quatro, pela Chiado, editora portuguesa). Os livros são os seguintes:

• Leve poesia (2000): poemas; temáticas variadas;
• Algo de sempre (2003): poemas; temáticas variadas;
• Dislexias (2016): poemas; cada um deles contém um trocadilho com a língua portuguesa;
• Amor de palavra (2017): poemas; a temática é o amor, numa abordagem mais carnal;
• Anacrônicas (2018): coletânea de crônicas que publiquei na imprensa desde a primeira metade da década de 90;
• O livro de João (2018): livro infantil.

Abaixo, links para aquisição de minhas fotos ou de meus livros.
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Entranha

Sou 
a mosca na sopa,
a pedra no sapato,
a alface no dente,
a mancha no branco,
a dúvida na fé,
o silêncio no vozerio,
a página que falta,
a sede no deserto,
a unha encravada,
o silêncio que ignora,
a palavra que desconheces,
o sim que almejas,
o não que tens,
o buraco na estrada,
o zíper que emperra,
o ás que não tens,
o bolso furado,
a gravata que aperta,
o dente que dói,
a nota desafinada,
o frio sem blusa,
o calor que sufoca,
o mindinho na quina,
o caminho por engano,
o gás que acaba,
o nó górdio,
o cisco no olho,
a casca no chão,
o sono que não vem,
a coceira nas costas,
o bicho na goiaba,
o dinheiro perdido,
a contraindicação do remédio,
a palavra que não consegues,
o sino sem igreja,
os quilos a mais,
o arroz queimado,
a equação não resolvida,
o salto que quebrou.

Se conseguisses,
ficarias livre de mim.
Estou em ti
no que és.
Sou uma das coisas
que não querias ser. 

Prioridades

Para saber o que é “golden shower”, rapidez. Para se posicionar sobre oitenta tiros dados “por engano”, silêncio (até o momento em que digito estas palavras). Cada um tem suas prioridades. 

Oitenta

Oitenta tiros.
Todos esses disparos
são culpados.
Não serão punidos.
Darão quantos tiros
forem desnecessários.
Só vão sossegar 
quando tudo estiver
branquinho, limpinho.
O sangue derramado 
não deixará manchas,
os disparos não deixarão rastros.
Tiros não são de festim,
fogos não são de artifício,
balas não são doces.
Os atiradores não pensaram
para atirar.
Não pensaram depois.
Cidadãos de bem consigo,
não esperam respostas porque 
não fizeram pergunta.´

Ah, o ministério da educação...

O novo ministro da educação, Abraham Weintraub, disse em setembro do ano passado que as universidades do nordeste não deveriam ensinar conteúdos como sociologia e filosofia (sic). Vélez já foi um erro infame. Agora, Weintraub. O Reinaldo Azevedo escreveu que com Weintraub na educação, o Planalto “só dobra a dose do remédio errado”. 

Números 2

Há quem prefira culpar a chuva 
quando o bueiro entope.

Há quem prefira culpar a chama do fogão 
quando o alimento é queimado.

Há quem prefira culpar os números 
quando o político vai mal. 

Mulheres e policiais, segundo Damázio


Acabei me esquecendo de comentar: Moro nomeou Wilson Salles Damázio como conselheiro no ministério da justiça. Damázio considera que homossexualidade é desvio de conduta e que as mulheres acham “o máximo estar dando para um policial”. Moro, que já aceitara os pedidos de desculpa de Lorenzoni, aceitou as de Damázio, que ainda disse: “O policial exerce um fascínio no dito sexo frágil. Eu não sei por que mulher gosta tanto de farda”. Ainda de acordo com o pensamento do conselheiro, é no veículo oficial dos fardados que o furor aumenta: “Dentro da viatura, então, o fetiche vai lá em cima”.

Negações

Nega 
os números,
as palavras,
a ciência.

Nega 
o fato,
o bom senso,
o patente.

Nega 
a mim,
a você,
o que somos.

Nega 
o outro,
ao outro,
você.

Nega 
a lógica,
a história,
a si mesmo.

Nega 
o destempero,
o despreparo,
a cegueira.

Afunda 
negando
a inteligência.
Leva-nos.

Negando,
morre afogado,
insano,
negando a morte. 

Números

O presidente do Brasil é ruim ou péssimo para 30% dos brasileiros, a pior avaliação no primeiro trimestre entre os presidentes eleitos para um primeiro mandato desde a redemocratização. Os números são ainda piores do que os divulgados no mês passado, quando 24% julgaram o governo ruim ou péssimo. Pesquisa foi realizada pelo Datafolha.

A pesquisa é divulgada poucos dias depois de o mandatário declarar não ter nascido para ser presidente, o que os mais atentos já haviam percebido há muito. A queda até agora foi rápida demais em muito pouco tempo. Um deputado pode dizer bravatas e, no máximo, tornar-se figura folclórica. Bravatas de um presidente têm custo doloroso, se não para ele, para a população.

Reflexos de um governo que ainda não começou desembocam nos números da pesquisa: na região sul, o presidente obteve 68% dos votos; 54% já dizem que ele fez menos do que o esperado. Na região sudeste, ele obteve 65,4% dos votos; o percentual de frustrados chega a 59%.

Enquanto isso, na mesma semana em que afirmou que nasceu para ser militar, não presidente, o presidente deu a entender que talvez o MEC tenha um novo chefe a partir de amanhã. Se, por um lado, resta a esperança de que isso ocorra, por outro, há o temor, pois aquele ou aquela que virá pode ser pior do que o atual ministro.

À parte o que vier no ministério da educação, tivesse o presidente a sabedoria de escutar menos os sectários e mais os sensatos, pode ser que ele começasse a governar. Só que os cem primeiros dias de governo não dão a entender que ele e os filhos tornar-se-ão dispostos a prestar atenção em quem ainda tenta ajudá-los. Em vez de começar a agir, o presidente prefere não aceitar ou ironizar, pelo menos publicamente, os números que evidenciam a rejeição contra o governo federal. Nada mais esperado.