segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A música azul de Piêit

O que mais me chama a atenção quando escuto o trabalho de Piêit é a capacidade que ele tem, a partir de suas canções, de criar um clima. Num sentido amplo, toda canção tem, por assim dizer, seu clima. Do modo como encaro o trabalho de Piêit, o clima não é a consequência dos arranjos ou da letra, mas o ponto a partir do qual algo será composto; a impressão com que fico é a de que o clima é que é, antes de tudo, buscado. Letras e arranjos seriam, nesse modo como encaro o EP “Azul” (lançado em janeiro deste ano), “pretextos” para se chegar a um determinado clima.

No que diz respeito à sonoridade, é nítida em “Azul” a influência de algo do pop dançante e eletrônico e de muito do rock, em especial uma vertente do rock com tons mais soturnos, como o feito pelo Radiohead ou mesmo pelo Coldplay, levando-se em conta os trabalhos anteriores a “Viva la vida or death and all his friends”. As letras de “Azul”, reflexivas, fazem jus ao clima intimista que permeia o EP, a despeito dos momentos em que o som fica um pouco mais pesado.

Intérprete de timbre grave e de recorrentes falsetes, Piêit imprime nas letras das canções um tom peculiar e bastante pessoal. Não se rendendo a modismos disseminados em programas de competição televisivos, em que se tenta reproduzir no português a escola americana de canto, Piêit confere individualidade ao que canta. Desnecessário dizer que isso é muito bem-vindo. Já conferi apresentações do artista em que ele foi acompanhado apenas por um violão; em momentos assim, a capacidade de interpretação de Piêit parece falar ainda mais alto.

A página pessoal do cantor no Facebook anuncia turnê para breve. Se você ainda não conhece o trabalho, escute “Azul”, bem como o primeiro EP do artista, “Demasiado”, lançado em agosto de 2014. E se tiver a oportunidade, confira algum dos shows da turnê que virá e que já foi anunciada, embora ainda não tenham sido divulgados nem locais nem datas. Piêit compõe o profícuo momento da música vivido na cena local de algum tempo para cá, em que os artistas estão investindo em canções autorais. A exemplo dos demais intérpretes e instrumentistas daqui com trabalhos próprios, Piêit tem uma linguagem profundamente contemporânea, o que o livra de bairrismos bobos. 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Coisa que aprende

Aprender com a tempestade
e com o estio. 
Saber que livros ruins
ensinam também.
Aprende-se com o futebol 
e com a biologia. 
O breu e a luz, 
o silêncio e o grito, 
a folha em branco e um verso de Auden,
o tropeço e a cambalhota.

Em si, as coisas não ensinam.
Aprendo quando tento olhar 
para as coisas em si.
Mas sou coisa humana.
Coisa entre coisas,
não há como eu olhar para as coisas em si.
Aprendo quando olho
para as coisas em mim. 

A palavra de Henrique Fernandes

Tenho sérias ressalvas contra profissionais da comunicação que não sabem se... comunicar, seja pela imprecisão das ideias, seja pelo uso claudicante do português. Não me refiro à questão de soar formal ou informal (a informalidade pode ser clara e bela), mas à questão de não conseguir se expressar de maneira a transmitir o que se quer de modo exato, coeso.

Acompanho com atenção transmissões esportivas, tanto pelo rádio quanto pela TV. Nas TVs, principalmente as que têm chancela da Globo, é comum que haja ex-jogadores fazendo as vezes de comentaristas. Não só pelo que mencionei no parágrafo anterior, geralmente são muito ruins. Isso não quer dizer que não possa haver ex-jogador que comente bem.

Dentre os comentaristas que tenho acompanhado, o alento tem sido o Henrique Fernandes (salvo engano, ele não é ex-jogador), que comenta os jogos dos times mineiros nas transmissões do Premiere. O profissional tem dicção perfeita, vocabulário amplo, preciso; tem ainda conhecimento técnico do esporte que comenta. Fala sem titubear, acha o termo exato, expressa-se com assertividade sem soar pedante. Uma pérola em meio ao que tenho escutado. 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

URT derrota o Atlético

A URT, time para o qual torço, empatou no Mineirão, jogando contra o Cruzeiro, na primeira rodada do campeonato mineiro. Tendo enfrentado há pouco o time reserva do Atlético/MG, o time patense derrotou o time de BH, mesmo com a equipe do Galo tendo criado mais oportunidades. O jogo foi no estádio do Mamoré, time de Patos de Minas que é o grande rival da URT.

Em entrevista para o Premiere, no fim do jogo, o goleiro Victor, do Atlético, atribuiu a derrota à condição ruim do gramado, dizendo que uma equipe a qual tem Robinho merece jogar em campo melhor. Assisti ao jogo pela TV, de modo que não há como eu avaliar com acuidade a condição do gramado. À parte isso, a própria equipe do Premiere elogiou a drenagem do campo, que, segundo o que disse a turma do Premiere, tem drenagem que resistiu à chuva que caiu por lá, de acordo com o que disseram. Pelo que entendi, os jogadores se queixaram não da questão da drenagem, mas dos supostos desníveis do campo.

Não sei dizer até que ponto a queixa do goleiro Victor se justifica; no intervalo, Robinho, também em entrevista para o Premiere, queixara-se do gramado. O técnico Diego Aguirre, em entrevista coletiva depois de terminado o jogo, não sei se para ser politicamente correto, declarou que a condição do gramado não pode ser pretexto para a derrota. À parte essa questão, em cobrança de falta feita por Fabinho, aos vinte e cinco do segundo tempo, a bola desviou na barreira e acabou escorregando para o fundo da rede do goleiro do Atlético, que perdeu por um a zero.

Mesmo sem ter trazido a Patos o time titular, o Atlético é muito maior do que a URT. Um empate para a União Recreativa do Trabalhadores não seria um resultado ruim, consideradas as circunstâncias. Com a vitória, a equipe de Patos de Minas dá um grande passo para que fuja do rebaixamento, o que é, a princípio, a necessária atitude realista das equipes do interior. 

Amor imperfeito

Se queres um amor intenso
e com falhas, sou a pessoa certa. 
Não consigo livrar meu amor 
das imperfeições que tenho, 
mas consigo dar a ele
fervor e entrega.

Por eu amar teu corpo
e tua inteligência, 
eu os cantarei.
Cantarei tua voz,
teu sorriso branco,
teu beijo gostoso.
Celebrarei,
em verso e
e em corpo,
o amor que eu
fizer contigo.

Esquecerei datas,
poderei não perceber
a mudança no tom
dos cabelos,
não sou de muita
convivência familiar.
Mas asseguro
que sei incrementar
o que tens de bom
(o que tens de dom),
que trarei à tona coisas
em ti de que nem suspeitavas.

Meus defeitos estarão
em meu amor.
Pudesse eu,
amaria com perfeição.
Meu amor tem meus limites.
Mas há poesia no verso da folha. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Em palavras

O poema:
minha arma, 
minha catarse, 
mão estendida.

O poema:
meu gostar de mim, 
minha cantada, 
gesto de amor.

O poema:
minha solução, 
meu presente, 
espelho público.

O poema:
meu refúgio,
meu grito, 
solução verbal.

Senha, 
maçã, 
você:
o poema. 

Para Emily Dickinson

Emily Dickinson
guardou abelhas, 
guardou o Brasil.
Foi juntando travessões, 
colecionando Deus 
e a dúvida.
Coube tanta coisa
na casa dela. 
A janela do quarto
dava para o mundo. 
Pela janela do quarto
entravam as estrelas. 
As coisas levaram 
o maior susto
quando foram
encontradas
no quarto de 
Emily Dickinson. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Cheiro de velho

Li há pouco uma brilhante matéria na edição eletrônica da revista The New Yorker. No texto, David Denby escreve sobre o envolvimento cada vez maior dos adolescentes com os telefones e a descrença cada vez maior deles quanto à leitura. Em trecho do artigo, Denby comenta que escutou uma estudante americana dizer de modo pejorativo: “Livros cheiram a velhos”.

Denby argumenta que não há como nem provar nem mensurar os benefícios da leitura. Mesmo assim, vale-se de um argumento prático para advogar a favor do ato de ler: “Um país que tivesse amplamente lido ‘Huckleberry Finn’ teria levado Donald J. Trump a sério por um segundo?”. Para conferir o texto, é só clicar aqui

Eloquentes

Tu falas com os olhos.
Aposto que a (tua) luz também 
está envolvida nessa história. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Luzeiros

Que esta Lua que tudo ilumina 
clareie minhas ideias. 
Sem lado escuro, 
que eu divulgue luz, 
como a Lua que lá fora
deixa cair luz sobre nós.
Que seja eu como ela, 
que não toma para si
a luz que recebe do Sol. 

Dança urbana

Mariana era só conduta protocolar. 
Carimbos, papéis, atas.
Em tédio citadino,
seguia a pé rumo
ao ponto de ônibus.

De repente,
Mariana se permite parar.
De um bar,
vem a canção.
Mariana para.
Primeiro, escuta;
depois, move,
de modo milimétrico,
o tronco.

Milímetros querem
se tornar centímetros.
Mariana teima, reluta.
Vêm os centímetros.
Ela sente que o corpo
não quer ônibus,
mas dança.

Foi quando se rendeu.
Papéis inúteis saíram
dos braços de Mariana,
tomaram conta do espaço.
Até hoje, estão dançando. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Fotos do lançamento de meu livro

Nesta postagem, as fotos do lançamento de meu recente livro — Dislexias. O evento foi realizado na sexta-feira (19/02), no Bar e Restaurante Armazém, em Patos de Minas.

A todos os que foram e a todos os que ajudaram a divulgar, seja em redes sociais, seja convidando amigos, muito obrigado.