segunda-feira, 30 de março de 2015

BREVE NOTA SOBRE "VIDA DE JESUS"

Ernest Renan, em seu “Vida de Jesus”, defende um Jesus histórico, mas não menos admirável. O autor ousa não somente ao negar os dogmas, mas também por interpretar à luz da história e do rigor científico o que teria ocorrido com Jesus. Se lido com espírito aberto, espírito que deve ser, a rigor, o de toda leitura, Renan tem muito a ensinar sobre a arte de ler e sobre a arte de interpretar. Lidando com um grande personagem, o historiador compôs um livro formidável. Negando o pilares de uma tradição edificada depois da morte de Cristo, Renan postula que não houve os milagres nem houve a ressurreição atribuídos a Cristo, mas não deixa de tornar clara a complexidade de seu personagem, evidenciando, ao mesmo, seu caráter humano. 

O REENCONTRO

Recentemente, perdi parte de meus livros, por eles terem mofado. Quando me dei conta de que o mofo danificara parte do acervo, retirei todas as obras da estante e comecei a escarafunchar livro por livro, separando os que teriam de ser jogados fora.

Desde então, tenho adiado o retorno deles para a estante. Uma infiltração na parede causou o mofo. O problema da infiltração já foi resolvido. Anteontem, deixei de lado a preguiça e comecei a voltar os livros para os lugares em que estavam.

O lado bom é que estou lidando com obras com as quais eu não tinha contato há um tempão. Revirar papéis antigos é um modo de visitar nosso passado. Os livros ou os papéis são também nossas circunstâncias. Assim, o retorno dos livros para a estante tem sido moroso nem tanto pelo tamanho do acervo, mas pelas lembranças que vão trazendo.

A despeito da perda de dezenas de livros, o contratempo teve algo de bom: há tempos eu dava como perdido o livro “The encyclopedia of things that never were” [A enciclopédia das coisas que nunca existiram], de Michael Page e Robert Ingpen. Para ser honesto, havia uma ambivalência em mim, pois, se por um lado eu dava como certo o sumiço da obra, por outro, a esperança de tê-la outra vez em mãos nunca me deixou.

Eu já poderia ter encomendado outro exemplar, mas ficava adiando. E não é que me reencontrei com o livro? Ele não foi nem um pouquinho afetado pelo mofo. Voltando, um por um, os livros para a estante, tive a felicidade de voltar a ter em mãos um dos mais inspirados trabalhos a que já tive acesso. Minha imaginação pega fogo, enche-se de entusiasmo quando o leio. O ludismo que tem faz bem para o espírito, levando-nos a criaturas, lugares e pessoas que existem graças a um dos maiores bens que temos — a imaginação. 

SUCESSO PARA DUNGA

Dunga não faz o perfil técnico de butique que fica pedindo as bênçãos da Globo. Pelo menos é o que deixa transparecer. Torci por ele quando da primeira passagem dele pela seleção como técnico; torço por ele agora. 

É claro que vibrei em 1994, quando Parreira era o técnico, bem como vibrei em 2002, quando o técnico era Filipão. Mas esses dois seguem os ditames da Globo, ainda que Filipão tentasse passar uma imagem de rebeldezinho. 

Dunga parece ser um rebelde. Ele foi escorraçado pela mídia quando de sua primeira passagem no comando da seleção. Mesmo isso tendo ficado no passado, ele está longe de ser o queridinho dos meios de comunicação. Erros que em outros seriam camuflados, nele serão ampliados. Pequenos acertos de outros seriam tratados como coisas de gênio; grandes acertos de Dunga, se vierem a existir, serão tratados como movimento corriqueiro.

Estando de volta, Dunga tem sido bem-sucedido até agora. Ainda não houve competição oficial depois do fiasco da seleção na Copa. Seria inútil arriscar como será o desempenho dele no porvir. Mas para os que dizem que ele não entende de futebol, vale lembrar que aqueles que se jactavam como especialistas do esporte tomaram goleada de sete a um. Dunga ainda não levou uma dessas. Se um dia ele vier a disputar uma Copa como técnico, que dela saia como saiu na de 1994.