sexta-feira, 1 de julho de 2016

Do fundo do cérebro 2

Em texto de 1987, Mario Vargas Llosa escreve sobre “Lolita”, do Nabokov. O último parágrafo-frase do texto é “sí, cumplidos los treinta, Dolores Haze, Dolly, Lo, Lo-li-ta, sigue fresca, equívoca, prohibida, tentadora, humedeciendo los labios y acelerando el pecho de los caballeros que, como Humbert Humbert, aman con la cabeza y sueñan con el corazón”.

No dia vinte de março deste ano, publiquei postagem em que mencionei o que uma aluna dissera certa vez em sala de aula; segundo ela, a gente ama é do fundo do cérebro. A estudante me disse na ocasião de quem ouvira o comentário, mas não lembro quem possa ter sido.

À parte isso, o Llosa já havia usado a expressão “aman con la cabeza” na segunda metade da década de 80. Não se trata aqui de buscar a gênese desse pensamento ou dessa expressão. A questão é que a ideia de que se ama com a cabeça é atraente demais. Penso que voltarei ao tema. 

A invasão

Surge, na linha reta do horizonte, 
o não imaginado por aqueles que, 
em terra, observam o que traz o mar. 
O não convocado flutua sobre águas. 
Agiganta-se o olhar nu do contemplador.
O não concebido deixa as águas 
e pisa solo firme, doce, pródigo.
Vem do mar azul o buscador, que já 
embarcara tingindo d’ouro seu destino. 
A ele chegando, chama-o de paraíso.
Todavia, bafeja nele ares infernais. 
Deixa de ser jardim, o éden invadido.