Psiquicamente, a sociedade está doente. O equilíbrio é aparente, uma fina casca que reveste o tecido social. Sob esse frágil revestimento, multidões frustradas, tristes. Uma sociedade composta de indivíduos infantilizados, fracos, que se entristecem por causa de coisas sem importâncias — se colegas da empresa realizam uma festa e o sujeito não é convidado, ele fica ofendido, às vezes até deixando de conversar com os colegas que estavam na festa.
Em cenários assim, numa tentativa pueril de se afirmar e de camuflar a fraqueza que se tem, passa-se a fazer ataque gratuito e velado contra o outro, não raro antes mesmo de se ter sofrido um ataque. As redes sociais escancaram isso. Do nada, o sujeito escreve coisas como “aqueles que me invejam vão assistir à minha vitória”, “minha capacidade é maior do que sua inveja” ou outros clichês do gênero. Há dias, numa academia, uma garota estava usando uma camiseta com os seguintes dizeres: “Que toda inveja se transforme em massa magra”. A rigor, uma análise corajosa e minuciosa acabaria por revelar que a vida de ninguém é invejável.
De antemão, a pessoa, nesse tipo de frase, apresenta as armas, as disputas, as retaliações. O outro é invariavelmente o capaz de sentir inveja, o empecilho para que objetivos sejam alcançados; se forem, é preciso dizer ao outro, de modo intempestivo e deselegante, que o outro terá de engolir, por causa da inveja a ele atribuída, a vitória alcançada. O outro é o inimigo, o obstáculo. Se o ataque é para alguém específico, se é uma indireta para determinada pessoa, imaturidade torná-la pública. Que se diga para o alvo do ataque o que os outros não precisam ler.
Não há a proposta do encontro, da sintonia, da comunhão, da partilha, do congraçamento. O que existe é o embate, a proposta belicosa, o desafio, a ofensa gratuita, o ressentimento. Há alguns dias, enquanto eu estava almoçando num restaurante, uma pessoa chega ao local; na camisa que ela usava, os dizeres “fuck you”. O sujeito sai para as ruas, entra num recinto para almoçar e está dizendo aos que passarem pelo caminho dele para eles irem se foder. Quando li o que estava escrito na camiseta dele, lamentei não estar usando uma com algum trecho do John Lennon. Na ocasião, eu me lembrei de “Mind games”, que diz: “Love is the answer”.